Estudos

Poesias - Versos Etéreos em rimas anímicas

O Carinho de Um Instante

Tanto já disseram sobre as dores e flores do amor...
Poetas mortos, poesia viva, o amor morre e vive...
Definha e morre na letra dos que sonham sem cor,
Refloresce e perfuma nos que respiram em ardor...
Envenena o amor a poesia que só arde fantasia...
Revigora o amor o poema que a verdade encena,
A beleza da flor é a coroação de seus espinhos,
A certeza do Amor é não andar só pelos caminhos...
Por que se cobra o carinho de um instante?
Por quem se dobra ao vento frio e uivante,
Se o Sol continua a brilhar no céu como sempre?
Porque cada instante de carinho é eterno,
Porque o vento frio nos recolhe em aconchego,
Porque Amar é ter o Sol mesmo no inverno...

O Lobo

Olá, como vai? Vivendo a vida?
O sangue se esvai à aberta ferida?
Bobagem... Deixe estar que a dor passa...
Na estiagem o gado morre e o lobo cassa!
O cordeiro vive em seu medo de viver?
A mansidão foi-lhe imposta por dom?
O tigre sobrevive! Não é mau, não é bom,
É a Natureza em essência: é o viver...
A busca do saber é o fruto de Deus
Pilhado à religião de um trono tirano...
O encenado inferno de um teatro insano...
Alegria do mundo! Viver é florescer!
Esqueça sua dor e lute como um leão!
Na selva humana viva por seu coração!

Ganido da Alcatéia

Decisões... Tantos senões...
Um de cada vez, a cada talvez...
A aspereza de uma certeza
Dói menos que a alienação...
E assim, a cada lição,
A certeza se oculta pela dor,
Ou pelo medo de que a flor
Traga o espinho de um carinho...
Fogem... Assim fazem os jovens...
Assim fazem os que temem...
Em riso frio, tolos, gemem
Ao ganido da alcatéia
Que lhe serve de platéia,
Ao senão da solidão...

Frias Estrelas

Difícil, a arte de compreender...
Incompreensível decorrência da Vida,
O tempo nos faz sentir, ser e ver
O que os jovens desconfiam ignorar...
A juventude, chama incapaz de aquietar
O brilho que só a ternura da noite,
Com frias estrelas a sorrir e cintilar,
Revela fugaz à eternidade do agora...
Serão mesmo tão cegos os amores?
Vagando a esmo, no riso alucinado?
Ao desprezo de um sonho abortado?
Se fui jovem, menos tolo hei de ter sido...
Enrolado em dúvidas, em dores contorcido,
Sempre me soube no limite que me coube...

Condenação ao Inferno

Muitas vezes a dor não permite sequer desabafo...
É nas entranhas que fere, não do corpo, da alma...
É o espírito num pranto reprimido, o medo, o trauma
De sufocar no grito aprionado, contido, engolido...
Dor que se alivia somente à expectativa da morte,
Desejado final dessa angústia tão frágil mas forte
A ponto de enegrecer até a Luz do Amor de Deus,
Obscuro na putrefação do sonho e abandono do adeus,
É a dor de saber-se distante da Vida à deserção
De toda esperança, a vil certeza de um triste senão...
É saber-se tão perto do incerto final da luta,
Fitando a desdita que a alma fere, avilta e enluta...
A morte de quem se ama é a condenação ao inferno!
É a revolta que enrijece o coração, antes terno,
O desespero que grita na ausência e silêncio da dor,
Esperando que a Vida seja assim esquecida!

Augusto dos Anjos, traído...

Traíste-me, então, não? Miserável!
Entregaste teu corpo à lascívia do amor!
Cedeste tão fácil, és tão vulnerável
Que provoca-me vômito teu podre fedor!
Teu corpo prostrado qual troféu de campanha
É o filho jogado do anel das entranhas!
Tu és a maldita que mataste-me a vida
Pintando na tela a ti própria cadela!

Algo a dizer...

Ter algo a dizer é mera expectativa
De que alguém realmente queira ouvir...
Alguém se aventura a esperar e sorrir?
Ter palavras descendo com as lágrimas
É a realidade dos olhos ouvintes...
Apenas eles ouvem, por pena, acinte...
Ter algo a dizer é o martírio de pensar
Sobre o que o coração insiste em pulsar...

Gota de Escarro

A vida transborda da essência
Quando já não mais se contenta...
Não se contenta em ser a essência...
A vida abandona-se ao ser, liberta-se...
Liberta-se de si para, sozinha, o ser...
É a revolta do ser renegando a essência...
A vida brilha sozinha e segue a trilha...
Segue a trilha abissal de seguir em vão...
Segue consigo buscando-se em essência...
Segue consigo e descobre-se única...
Única em meio aos que libertaram-se...
À solidão de um liberto sem prisão...
A vida transborda da essência
Porque, se não o fizesse, que seria?
A gota de escarro que respinga da azia...

Abuso?

Abuso? Não... Mero uso... Melhor que desuso...
Como abusar do que nos vem à magia do Amor?
Se é Amor, não gera abuso, mas tão somente uso,
Porque Amar é viver o eterno querer, o desejar...
E se desejando Amo profundamente,
Profundamente desejo por Amar e abusar,
Abusar, não do Amor, mas da flor
Tirando-lhe o perfume até nada restar...
E da flor mantenho o perfume
De tudo que me doa em ciúme,
Na dor de tudo que me enciúme...
E do Amor trago a eternidade em Paz,
A Paz de saber-me cativo da liberdade
De atar-me à Vida, solto, em saudade...

Um Casulo...

Um casulo... Algo feio que por magia se sustenta...
Caverna hedionda de uma lagarta ainda mais feia...
Eis aí a beleza com que a Natureza, a tudo atenta,
Castra a ilusão da tormenta que contra tudo atenta...
É na magia da beleza oculta que as estrelas cintilam...
É na poesia da vileza que insulta, que venenos destilam
A verdade que embriaga, na descoberta de que a beleza
Advém sempre da fealdade de nossa incompreensão...
O brilho das estrelas... Centelhas que já não vivem...
Apreciamo-lhes a beleza de outrora, esquecida, aquecida
À ilusão de que temos um céu a nos proteger...
O casulo de nossa alma... Nossa lagarta tristonha
Que se arrasta, medonha, ousando posar de flor,
Tristonha, medonha, que ainda assim, jaz e sonha...

Estrelas Fugidias

A Alma busca no firmamento, além das estrelas,
Os olhos com que o Pai seu brilho há de guardar...
Busca sem alento, as estrelas, só pode mesmo vê-las...
Brilham sós, longe... dão-lhe nada senão o brilhar...
A noite é fria e as estrelas fugidias...
Com seu brilhar acenam-lhe o adeus em ironia...
Zombam do brilho tosco de um tosco chorar,
Rindo do filho louco que sonha brilhar...
A noite da Alma empunha a adaga, mas não luta...
Acovarda-se e chora à chaga com que se enluta...
Volve os olhos ao solo implorando, em permuta,
Que por um único brilho consuma-se à Vida...
Esquece que à aridez em que se encerra
Sendo diamante, não brilha no seio da terra...

Busca

O sonho se busca na certeza
De que o rio e sua correnteza
Jamais fluiria como fantasia
Senão pelo almejo do mar de um beijo...
O sonho se concretiza por magia
À realidade do que houve, há e havia,
À eternidade fugaz de todo momento,
À fugacidade eterna da vida, do tempo...

A Paz da Esperança

Senhor meu Deus!
A iniqüidade põe o homem à sombra da dor...
A dor fria que nos queima a alma por cupidez!
Já neguei Tua Onipresença por não ser capaz
De vencer meu orgulho, minha tíbia pequenez...
Neguei-Te, meu Pai, como quem nega a Luz da Vida!
Mas dobro os meus joelhos e peço com humildade:
Meu Deus! Derrama sobre mim Tua Luz de Misericórdia!
Por soberana Bondade, doa-me, Pai, ao peito concórdia!
Tira-me, Criador, das nesgas trevosas da insensatez,
Aparta-me da tristeza, do medo... Sê-me o Sol logo cedo
E desperta-me da longa noite de minha alma aflita!
Não Te compreendo, meu Pai, mas sei-Te Perfeito!
Perdoa-me, Deus, a sede ilícita do saber, esse defeito
Que fere a alma incauta ao olvido da sagrada aliança
Que Teu Amor nos doa, pedindo-nos tão-só fé, confiança...
Senhor meu Deus! Jamais foste-me o adeus!
Sempre e agora, comigo, no coração
Tua Luz aguarda-me com Amor em bênção!
Com confiança, doando-me a Paz da Esperança...

Longa Avenida

A longa avenida se perdia no vozerio da multidão...
Vinha eu sozinho, triste, com um vazio no coração,
E o semáforo impediu-me o caminhar em que me perdia...
Era noite fria, chovia... Só a avenida me sorria...
O vermelho refletia-me o rubor da alma envergonhada,
Perdida, em dor, caminhando para fugir de mais um dia...
Ofendida, sem pudor, desejando sorrir como sorria
Quando andava em rumo certo, nem longe, nem perto...
A longa avenida se perdia no vozerio da multidão...
O semáforo largou-me o braço e deixou-me prosseguir...
Irrompi na noite adentro desejando me perder...
Mas me sorri o açoite, o vento, ultrajando-me o sofrer...

Repasto de Hienas

A dor já é lancinante mas o tolo ainda sorri...
Na alegria de sua ignorância, erra e busca por erros...
De sua vida os sonhos jazem como adubo em aterros,
Na preparação do solo para a sementeira a cair...
A dor embebeda e faz o tolo brincar em heresia...
Bebe sua urina e devora as fezes de sua agonia,
Mas ri, gargalha e se pretende uma estrela em luz...
Recebe a mortalha em que se acolhe em dor, em pus...
Banquete de tolos... doce repasto das hienas...
A Vida expurga os vermes nas chagas do fim...
A Vida semeia os campos com flores amenas...
Adeus aos que riem na loucura...
O orbe febril enfim se depura...
Vida ferida fica... Vida rediviva rica...

Olá, Meu Amigo!

Olá, meu amigo, como vai tua vida?
Vejo-te, aí, perambulando pelos dias...
Que tens n’alma? Dói-te assim a ferida?
Que tens? Não fujas, tua dor não se adia...
Olhes tu’alma com o carinho de tua face...
Não firas teu ser com a dor que nasce
Com a dor da perda do sonho buscado...
Perda? Perdido está o sonho inda sonhado?
Tens medo? Caminha, meu amigo! Anda...
Ergue teu semblante e parte a teu destino!
Renova-te vivo como homem e menino!
Ande contigo mesmo na Vida e busca!
Não desvies o olhar à luz que te ofusca!
O sonho jamais findou... apenas dormitou...

Almas Gêmeas

Às vezes tu me perguntas: és mesmo minha alma gêmea?
Respondo-te, firme, agora: mais que isso, sou tu’alma fêmea!
Enquanto da Luz de teu brilho não seja eu mais que um facho,
Sou teu, com Amor, com paixão, sendo tu minh’alma macho!
Tudo em mim é contigo um todo só, na harmonia do “dois”...
Pois é a unidade do duplo que sempre, antes, agora e depois,
Faz único o Amor que enlaça duas almas no viver da Vida,
Eternizando no agora o sempre da jura de Amor ora ouvida...

Paixão!

A beleza da paixão não é mesma do Amor!
Não há leveza na paixão, é ardor, quase dor!
A beleza da paixão é ser chama que dormita!
É ser um jogo de fogo que o Amor desperta e irrita!
Não procures, poeta tolo, a alegria na paixão!
Não! Na paixão ficam as tormentas que explodem!
Se na chama e na cama, em fogos que se consomem...
Se na cinza e na vida, em choros e feridas...
Por isso, só tenhas paixão se o Amor existir!
Senão farás sofrer quem não amas... Enganas!
Se sim, a chama ferirá mas a paixão fundir-te-á!
A beleza da paixão é, pois, fundir o Amor!
Fundem-se os corpos no desespero da posse!
Fundem-se as almas num gemido de ardor...

Vento Frio

Olhei pela janela... Só o vento frio bailava...
A melodia da tarde fria, não a ouvia... mas sentia...
Doentia presença que me acena, obscena, em tarde fria...
Olhei pela janela... Só o vento frio bailava...
A noite gélida, rastejando, quieta, se aproximava
Esgueirando-se à poeira de minha dor...
Na solidão, o vento frio sem piedade me cortava,
À mansidão do sonho vil de um amor...
Olhei pela janela... Turvou-se a íris no céu distante...
O cristal derretido correu-me à face em diamante...
Na riqueza de um sentimento empobreci de alegria...
Olhei pela janela... e me vi ali, em heresia...
Sofrendo a solidão do verão em despedida...
À partida da paixão, baila o vento em solidão...

Assim é o Amor

O muito gostar não é a transcendência do Amor!
O muito gostar é lindo, infindo e de toda a cor...
Mas não tem a negação da razão que fere negro em dor!
Não é o Amor! Já que o Amor é mais que gostar: é Amar!
Não, não me falem da poesia que descreve o Amor!
Falem-me do fel e da azia que fenece e mata a flor!
Eis aí o Amor em tormento quando o ser tão amado
Foge-nos ao pendor do sentimento... vil... desejado!
O muito querer nada é ante a necessidade de viver!
E assim é o Amor: a premente necessidade de ser!
O Amor é o que nos distingue do corpo que dorme,
Vez que o Amor brilha sempre, e sempre nos consome!
É o Amor que faz o homem atingir a plena liberdade
Tão-somente quando a mulher o acaricia no cativeiro!
O Amor faz a flor se abrir, obscena, ao que a invade,
Aprisionando a parte que transcende o todo por inteiro!

Olhos de Deus

Quando quero ver os olhos de Deus
Ponho-me às trevas do meu cogitar,
Busco nas sombras o semblante divino!
Busco no inferno o meu destino!
Clamo pelo Pai na ausência de Luz...
Na ferida que não sara, que pulsa em pus,
Nas dores do dia-a-dia, no desamor da vida,
Na certeza de que a dor abrirá nova ferida!
É nas sombras do sofrimento que encontro Deus!
É no desespero, no tormento, do choro de adeus,
Na destruição que me consome enquanto homem!
Assim é pelo Amor do Pai que conduz o filho!
O orgulho, veneno fatal, assim esqueço, encilho,
Desnudando-me no esforço de buscar... a Deus!

Transformação

Um rabisco feito com carvão...
Eis aí do homem a semelhança com Deus...
Mas... não é o diamante, preso ao pó dos sonhos seus,
Também na essência o carvão em solidão?
O sopro de Deus arde o todo em cinzas!
Doa a quem pede, e a quem doa, a forja,
A transformação, idas e vindas, até que o carvão,
Indo adiante, seja brilho, brilho seja, diamante!

Sem Odor

A dor atormenta o homem como vício...
Tantos choram, tantos se afirmam em cilício...
Põem-se voluntariamente na embriaguez da tristeza!
Fealdade! É o ópio do ego: a autopiedade!
Negam-se a verdade do conforto em que se comprazem!
Sentem-se, não filhos, mas o aborto seco da estiagem
Como se Deus os tivesse concebido somente para a dor!
Como se a dor fosse-lhes o legado irônico do Amor...
Irônica auto-comiseração! Vaidade deformada...
Por ironia, real ironia, quem sobre não se esvai em dor...
Sofre apenas, dentro de si, qual flor seca, já sem odor...

Paralítica Política

Da essência do povo o líder aflora
Convergindo em si mesmo o desejo do todo,
Ilude o presente escapando ao agora,
Na esperteza vilã, na arte do engodo...
Enganando o povo, faz do velho o novo,
À cruel sedução da intensa vontade,
Da ardente esperança de que haja esperança,
Ingenuidade sincera, uma tola quimera...
Eis aí a paralítica política...
Eis o nosso legado de honestidade e moral,
Eis o nosso pecado de ingenuidade fatal!
Miséria, pobreza, num povo cego e enfermo...
Saúde e riqueza, a corrupção do governo...
E o povo morrendo... talvez aprendendo...

Paz e Serenidade

Senhor Deus de Infinita Paz e Misericórdia,
Seja de minha vida a Luz e o Caminho,
Não retire uma só pedra de minha senda
Mas esteja, Pai, comigo em cada passo...
Peço, Senhor meu Deus, que me ajude nas escolhas,
Que me alivie o fardo do livre arbítrio, tão perigoso,
Que me permita ver, muito mais que enxergar,
Saber, muito mais do que conhecer,
Ouvir, muito mais do que escutar,
Vivenciar, muito mais do que experimentar,
Amparar, muito mais do que ajudar...
Senhor Deus de infinita Bondade e Misericórdia,
Ampara-me, Pai, para que eu aprenda a Amar...

Rangem os Dentes

Pai Eterno! Tem piedade dos aflitos!
O monturo é grande e a sujeira impera,
Em meio à dor, o joio fere o trigo,
Mesmo com o Amor, o justo se desespera!
Rangem os dentes, irmãos matam irmãos,
É de fumaça e fogo a penumbra do nevoeiro!
Com tantos dementes, os sãos negam-se sãos,
E buscam socorro na ilusão do dinheiro...
Meu Deus! Volto meus olhos à Sua Glória!
Livra-nos, Pai, da sanha da escória,
Da malta insana que se compraz ao monturo,
Que teme a Luz e se embrenha no escuro...
Suplico, Deus meu, pelo Amor que liberta,
Pelo Verso Perfeito em linhas incertas,
Pela Poesia que alivia e só traz alegria:
Meu Senhor, meu Jesus, que à Luz me conduz!

O Perfume da Rosa

Olá, meu amigo, como vai?
Falo-te hoje sem o fel da poesia...
Fá-lo-te agora pois há muito sabia:
Fá-lo-ia algum dia...
Conheces-me o amargor da escrita?
Peço-te: nem um sussurro meus repitas!
Envenena-me o sono perceber que acreditas...
São mentiras... poemas em cio... fezes que crio...
Não! Não me concedas a dor de acreditar-me!
Enganei-te! Não te ocultes à beleza de viver...
Perdoa-me... Não te insultes à vileza do sofrer...
Por que não olhas à tua volta? Sorria...
Continua existindo o perfume da rosa...
Continua insistindo a ternura, teimosa...

Vento Frio

Um vento frio sopra... podes senti-lo?
Ainda que não o percebas, podes, sim, intuí-lo...
Um vento forte que traz consigo o odor da maresia,
O regurgitar de ondas que rebentam desarmonia...
Caminhas claudicante em areia seca, pela praia...
Adivinhas, conflitante, o perfume acre que se espraia...
Esqueces, num rompante, toda a evidência do oculto
E te aqueces, repugnante, a ti mesmo num insulto...
Perdido em tua essência, só te beija a insegurança...
Escondido em tua ausência, desejarias ser criança...
Tu anseias por clemência, sedento estás por esperança...
Bebes, pois, do vinho que embriaga
Para, ao depois, sentir sozinho a dor que afaga...
Ao vento frio, hostil, de um calor febril...

Contraponto

Violinos choram a dor da melodia
Enquanto a alma se esvai em notas...
É o contraponto do amor em harmonia
Buscando em si as velhas rotas...
A cadência desvirtua a métrica, insubmissa...
Arroja o pranto da paixão em premissa...
Tripudia o ritmo, obliterando-lhe o andamento...
Revolve o compasso, fibrilando em tormento...

Ansiedade

Ansiedade...
O sufocante medo do dia-a-dia...
Terrível angústia, choro frio e velado,
Dia e noite, noite e dia, corroente fobia...
No peito um aperto, desesperado, abraçado,
Tão triste o concerto, um cantar desgraçado,
A mágoa do estar não não ser um alguém,
A solidão do sonhar uma ilusão que não vem...
Viver é saber que a morte virá,
O destino de tudo, do todo a verdade,
O engano final: o final da ansiedade...
Dissonante é o acorde na harmonia do fim,
Um arpejo tão forte, a sinfonia ruim,
A espera da morte florescendo em mim...

Eterno Começo

Ah! A complexidade da Alma humana!!!
Reverte o verso ao inverso do universo,
Arde em chamas de ira e na calma insana
Com que se busca à serenidade da explosão!
Calma!!!
Muito mais do que o ardor de uma paixão,
Enquanto criação atemporal em eterno início,
É o meu sentimento por ti, verdadeiro vício
De Amor e de Desejo, enfim, de eterno começo...

Tosco Brilho

O homem olha para o ontem e
Percebe que o novo dia ainda não nasceu...
O sol... desponta lento no horizonte,
Em meio à chuva, nem ele sabe se amanheceu...
Está escuro... para o poste doa o asfalto tosco brilho...
Um véu de dor circunda a luz de mercúrio...
O cinza distante anuncia o dia, em perjúrio...
O vento uivante tripudia à via um andarilho...

Chorarias?

Estéril, o sonho desprovido de paixão...
Insípida, a esperança sem a dor da saudade...
Não há alegria se não existe a ansiedade,
Se não há luz, por que temer a escuridão?
Não se pode viver sem o alento da incerteza...
Tempestades ressaltam o prazer da monotonia...
Sofrer uma dor ao desalento da tristeza
É fazer do amanhã o sonhar da alegria!
Se não há sofrer não há prazer, só ausência...
Sem uma dor, o que nos seria o frescor do alívio?
Nos olhos de choro inchaço, reencontro, um abraço...
Se não há reflexo nos meus olhos, que fazer?
Se não há nexo entre os dias, chorarias?
Busca-te! Não te percas ausente a cada dia!

O Pêndulo

Viver é um sonho de esperança...
Sacerdotes buscam a bem-aventurança
Enquanto outros, apenas bem viver...
Todos, enfim, temendo sofrer...
Mas a dor, subvertendo sua origem, o prazer,
A todos toca, soberana, sorrindo a trazer
Nas mãos o lenitivo: um choro aflitivo,
O remorso corroente e o pranto clemente...
O pêndulo viaja e na contradição repousa...
Onde descansa, passara em violenta emoção...
Uvas verdes, a picardia da raposa,
Sempre a dor... no viver... na evolução...
Anjo negro, abençoada maldição, cruenta forja!
O homem finge tentando fugir: a verdade forja...
Eis aí novamente a dor que dormitava apenas
Na consciência qual virtude amena, obscena...
Pequenos irmãos, devoro-os em afã, com prazer!
Acalanto-lhes o sonho em um afago mentiroso
Escolhendo-os com frieza, pelo porte, pela beleza,
Arranco-lhes as vísceras para tê-las à mesa...
Devoro meus pequenos irmãos! Devoro-os!!!
E os Anjos do Senhor? Poderia eu dizer, adoro-os!?
E as lições do Galileu? Poderia eu mentir, sigo-as!?
Que espero de Deus, senão a dor, senão o adeus!?

Malta Humana

Algumas vezes viver é penosa jornada...
Mas... ante as dificuldades do dia-a-dia
Nada provoca mais dor, à revolta, à heresia,
Do que a blasfêmia de negar-se um carinho...
À ebulição do espírito depura-se a essência...
Lenitivo algum permite-nos a mediocridade,
Porquanto encerra-nos sempre o sonho um pranto,
Desnudando-nos em meio ao gado humano, ao rebanho,
Qual fera domada em pasto alheio, estranho...
Finda a esperança na descoberta pueril
De que, se um dia Deus já também sorriu,
Hoje uiva à solidão da malta humana...
À depuração da essência agita-se o espírito...

O Vôo das Falenas

O vôo das falenas é a Ternura em movimento...
Vendo-lhe a suavidade, sonha o homem
Quimeras pueris que o inebriam e consomem,
No desejo desesperado de jamais despertar...
No sonho tudo é concreto, nada é onírico...
Mas é na incerteza do acordar que se depura
A Razão, prostituída e travestida de loucura,
Incapaz de abarcar o sonho de uma criança,
Incapaz de antever e crer, de ter esperança...
Para a Razão tudo é relativo, nada é concreto...
Que sabemos nós do vôo das falenas?
Razões mil, milhões de centenas... uma apenas?
Apenas uma razão para o vôo das falenas!
O vôo da Alma... o vôo da Vida... Razão esquecida...
Basta-me à concretude o sonho de voar...

Revive o Amor

A saudade de um tempo que jamais houve
Traz consigo um sonho que jamais sonhei...
Uma lembrança estranha, esperança que herdei
Esquecida fazendo-se em mim apenas lembrança...
Eis que me surge à alma qual visão...
Uma visão... ao pendão da emoção, da esperança,
Construída fantasia, um sonho que chora,
A fria abadia em que vivia outrora...
Mas finda a saudade, renasce a alegria como nunca!
O turvar da lágrima ao sorriso da visão se junta,
De meu corpo transborda a embriaguez do teu ardor:
Hoje tenho-te! Nesta Vida novamente revive o Amor!
(Para minha doce Paula...)

Ventania

A folha baila ao sabor da lufada
Fria da ventania que anuncia o inverno...
Ocre pelo outono, foi uma verde fada
Que a luz secou com um sopro terno...
Enovela-se ao ar em um triste bailar...
Flutua com beleza, com leveza, com pesar...
É o suspiro final da primavera esquecida,
O sono do outono que num choro agoniza...
A folha cai e repousa no solo, estendida...

Sou Teu

Os teus olhos têm a doçura do olhar de uma criança,
A ternura de uma brisa suave, um brilho de esperança,
A poesia concreta de que nos falam tantos poetas...
O carinho da imagem amenizando-me a aridez da estiagem...
A paixão arde em meu corpo por teu corpo de mulher!
Busco em teu calor as chamas que me consomem!
Tu és a menina que, mais que tudo, me faz homem...
Meu destino, a mulher que em mim desperta o menino...
Sou teu por determinismo da Criação!
Sou teu por necessidade, mais que opção!
Sou teu porque se minha tu não fores,
Oh! Agonia! Morro num viver de dores!
Tu és minha por dádiva do Pai, piedade de Deus,
Que me viu pequeno e sedento de Amor e Vida,
Que me tirou das trevas de um antecipado adeus,
E me devolveu a Vida com os carinhos teus...
Se a vida já me foi apenas rima para ferida,
Hoje contigo tenho por rima apenas o Amor!
Minha vida contigo faz pequena toda dor,
E os espinhos do caminho, levam sempre à flor...
Tu és minha amada, desejada e de novo amada esposa...
Tu és a coragem que me insufla a alegria de quem ousa
Viver nesse mundo como aluno que já decorou a aula:
A felicidade para mim tem o teu nome, minha doce Paula...

Soneto do Andarilho

Passo a passo, segue o andarilho...
Ruas, avenidas, cidades, tudo fica para trás...
Do sol e da lua só não herdou o brilho:
Trocou-o pelo olvido das lembranças más...
Segue consigo no mundo alheio em que caminha...
Alheio ao mundo que carrega consigo,
Caminha consigo carregando o mundo que tinha,
Tendo do mundo só o que consigo carrega...
Vai o andarilho, sozinho, à comunhão da estrada...
Passo a passo, segue sem bolsa, sem espada...
Consigo mesmo, a esmo, por tudo, sem nada...
Vai o andarilho... sem saber o fim, o destino...
No compasso do coração cativo, ainda menino,
Sonho infindo... pesadelo... vai o andarilho...

O Despejo de um Viver

Olá! Como vai?
Os dias vêm e vão, como sempre?
Algo mais na mente, no ventre?
A noite criança vela toda a esperança?
Entre os dias, só vodca e azia...
E à noite, somente o sonho foi-te
Presença na escuridão vazia...
Algo mais? Não, jamais...
A solidão envenena a luz...
Traz o medo da claridade...
O desejo de morrer...
O não-ser é ferida em pus...
Logo cedo é sono que invade,
O despejo de um viver...

Solidão

O triste amargor da solidão
Só é comparável ao aborto de uma quimera...
Assassínio velado de nascente emoção,
A covardia que alivia... a mentira sincera...
Solitários... assim são todos os desprovidos de vulgaridade...
Perdidos, sofrem à busca da íris de sua imagem...
Choram gotas de amor sobre o ardor da estiagem...
Suplicam calados por alguém, na multidão da cidade...
Mas semblante algum se lhes faz em carinho
Pois de si próprios são prisioneiros na secura,
Fazem da esperança qual fria ilusão de ternura,
Um sonho, uma fantasia, outro frustrante caminho...

Triste, Adoece

Há momentos em que a solidão,
Exilada do coração n’algum ponto da alma,
Teima em clamar por anistia
Aos sentimentos que um dia
Expulsei do meu viver...
A fantasia da ilusão tenta recriar-se...
Mas os excrementos ainda fedem ao vento
E o mau cheiro é quem profetiza:
Ferida assim jamais cicatriza...
É como uma flor que, triste, adoece
E cai chorando enquanto apodrece...

Uns Poucos Amigos...

Arrasta-se a alma no íngreme enlevo do sonho buscado...
O tempo flui no pulsar de um coração cansado, mas teimoso...
Ser e viver, muito mais que existir, é o sonho buscado e doloroso
Com que a alma claudica alterosa na inocência de sua busca...
É como a falena que foge da escuridão e teme a luz que ofusca...
Caminha, anseia, sofre e ri, no eterno fluir de lágrimas e sorrisos...
A vida é uma longa estrada com muitas placas e poucos avisos...
Como joio no trigo, muitos irmãos e uns poucos Amigos...

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