Estudos

domingo, 29 de novembro de 2009

FLUIDOS e ONDAS


Primeiro tema abordado neste estudo, as ondas são assim delineadas:

Em seguida a esforços persistentes de muitos Espíritos sábios, encarnados no mundo e patrocinando a evolução, a inteligência do século XX compreende que a Terra é um magneto de gigantescas proporções, constituído de forças atômicas condicionadas e cercado por essas mesmas forças em combinações multiformes, compondo o chamado campo eletromagnético em que o Planeta, no ritmo de seus próprios movimentos, se tipifica na Imensidade Cósmica.
Nesse reino de energias, em que a matéria concentrada estrutura o Globo de nossa moradia e em que a matéria em expansão lhe forma o clima peculiar, a vida desenvolve agitação.
E toda agitação produz ondas.
(Mecanismos da Mediunidade – Pág. 19)

Importante destacar: a vida desenvolve agitação e toda agitação produz ondas.

Da ciência ortodoxa, temos:

Podemos classificar como uma onda, qualquer perturbação ou vibração em um meio específico. As ondas produzem diversos movimentos, já que elas são formas de transmissão de energia (mecânica ou eletromagnética), como por exemplo, o movimento que ocorre quando lançamos uma pedra dentro de um rio.
(http://www.mundoeducacao.com.br/fisica/ondulatoria.htm)

A onda não é capaz de se originar sozinha, visto que ela apenas faz a transferência de energia cinética de uma fonte. Portanto, fonte é o objeto ou meio capaz de criar uma onda.
(http://www.mundoeducacao.com.br/fisica/ondulatoria.htm)

Uma onda é uma agitação ou perturbação de um meio, decorrente da transmissão de energia. Há uma fonte de energia que, agitando o meio, propaga essa energia através das ondas.

Fica evidente que a onda é o resultado da propagação de energia em um meio.

Retornando a André Luiz, temos:

Que é, no entanto, uma onda?
À falta de terminologia mais clara, diremos que uma onda é determinada forma de ressurreição da energia, por intermédio do elemento particular que a veicula ou estabelece.
(Mecanismos da Mediunidade – Pág. 20)

No conceito de André Luiz acham-se os elementos gerais da conceituação ortodoxa, ainda que sob linguajar poético. A ressurreição da energia indica que a eficácia da fonte de energia atinge outros pontos do espaço em decorrência de sua propagação. A energia é veiculada pela fonte e, propagando-se, age mais adiante, onde “revive”.

Como há sempre uma fonte de energia que estabelece a agitação do meio, André Luiz informa que a fonte primordial das agitações que se propagam no espaço são os átomos e as partículas subatômicas:

Partindo de semelhante princípio, entenderemos que a fonte primordial de qualquer irradiação é o átomo ou partes dele em agitação, despedindo raios ou ondas que se articulam, de acordo com as oscilações que emite.
(Mecanismos da Mediunidade – Pág. 20)





As ondas propagadas pelas partículas atômicas e subatômicas tomaram grande parte do interesse dos cientistas em geral. Uma importante cisão ocorreu quanto, em seus estudos, Einstein concluiu que a luz tem em sua constituição partículas que designou fótons. Nas análises matemáticas, Einstein não conseguiu harmonizar a propagação da luz à velocidade de 300.000 quilômetros por segundo com um meio capacitado a tal agitação. Por isso adotou a idéia de campo. Não há meio, conquanto haja ondas. Há agitação se propagando mas, por abstração, essas agitações existem por si mesmas. O meio de propagação da luz e das ondas eletromagnéticas em geral até então era o “éter”. O conceito de campo afastou a idéia de éter, substituindo-a  simplesmente pelo “nada” (!!!).

[...] entretanto, o meio sutil em que os sistemas atômicos oscilam não pode ser equacionado com os nossos conhecimentos. Até agora, temos nomeado esse “terreno indefinível”, como sendo o “éter”; contudo, Einstein, quando buscou imaginar-lhe as propriedades indispensáveis para poder transmitir ondas características de bilhões de oscilações, com a velocidade de 300.000 quilômetros por segundo, não conseguiu acomodar as necessárias grandezas matemáticas numa fórmula, porquanto as qualidades de que essa matéria devia estar revestida não são combináveis, e concluiu que ela não existe, propondo abolir-se o conceito de “éter”, substituindo-o pelo conceito de “campo”.
Campo, desse modo, passou a designar o espaço dominado pela influência de uma partícula de massa.
(Mecanismos da Mediunidade – Pág. 36)

Permanece inevitavelmente sem explicação a questão da agitação que se propaga sobre o nada. “Nada”, ainda mais do ponto de vista da ciência ortodoxa, só pode ser entendido como a ausência absoluta de tudo; como entender um movimento ondulatório que se propaga e, ao mesmo tempo, a onda em si que, para existir, deveria ser a resultante do meio que se agita?

A proposição de Einstein, no entanto, não resolve o problema, porque a indagação quanto à matéria de base para o campo continua desafiando o raciocínio, motivo pelo qual, escrevendo da esfera extrafísica, na tentativa de analisar, mais acuradamente, o fenômeno da transmissão mediúnica, definiremos o meio sutil em que o Universo se equilibra como sendo o Fluido Cósmico ou Hálito Divino, a força para nós inabordável que sustenta a Criação.
(Mecanismos da Mediunidade – Pág. 37)

Um esforço em busca de uma uniformização ao menos das concepções fundamentais nos leva à proposição de que o fluido universal (denominado fluido cósmico universal em A Gênese, de Kardec), merece mesmo se tido à conta do campo de eficácia da fonte primordial que emana do Criador, ou seja, o todo universal, infinito, veiculado pelo Verbo Divino por ser a expressão de Sua Vontade.

[...] definiremos o meio sutil em que o Universo se equilibra como sendo o Fluido Cósmico ou Hálito Divino, a força para nós inabordável que sustenta a Criação.
(Mecanismos da Mediunidade – Pág. 37)

Não se trata de mera acomodação terminológica. Daí advém uma relevante conseqüência. Passa a ser conveniente interpretar e raciocinar sobre os fluidos como campos de atuação de uma fonte de energia que se manifesta através de ondas.

Não precisamos nos preocupar em abandonar o termo “éter” ou “etérico”. Afinal, são conceitos que nos tocam a capacidade de concepção dos fenômenos de modo muito mais credível do que uma abstração que leva em conta o conceito de “nada”.

Fluidos são irradiações de energia que se propagam a partir de uma fonte que imprime no meio etérico a correspondente agitação ondulatória.

O fluido universal não é uma emanação do Criador, mas dele advém pelo exercício de Sua Vontade (fonte de energia), que imprime no todo universal as agitações que se propagam para os fins a que se destinam, no concerto da Grande Obra, que assim se irradia à eternidade e por todo o infinito.

I. Será o fluido universal uma emanação da divindade?
"Não."
II. Será uma criação da divindade?
"Tudo é criado, exceto Deus."
III. O fluido universal será ao mesmo tempo o elemento universal?
"Sim, é o princípio elementar de todas as coisas."
(O Livro dos Médiuns – pág. 92)



domingo, 8 de novembro de 2009

Matéria e Espírito - Visão Espírita (Kardec)

MATÉRIA E ESPÍRITO

A matéria é apresentada como o instrumento do Espírito, sobre o qual exerce a sua ação. Mas esse conceito se estende não apenas à matéria do plano físico como também no estado etéreo, sutil, imperceptível para o homem comum. É lícito deduzir, então, que o Espírito é imaterial na essência, utilizando-se de instrumentos materiais desde a matéria física até substâncias etéreas e sutis não perceptíveis ao homem, mas ainda assim matéria.

22. Define-se geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável. São exatas estas definições?
“Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria.”

a) - Que definição podeis dar da matéria?
“A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.”

Em contraposição, o Espírito é apresentado como o princípio inteligente do Universo, o que evidencia estar sendo referida a essência do Espírito.

23. Que é o Espírito?
“O princípio inteligente do Universo.”

a) - Qual a natureza íntima do Espírito?
“Não é fácil analisar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.”

Existem, assim, três elementos gerais do universo: Deus, Espírito e matéria. Em O Livro dos Espíritos esses três elementos são designados a trindade universal. Fica esclarecido, também, que a ação do Espírito sobre a matéria depende de um elemento também material, porém sutil, etéreo, que lhes serve de liame: o fluido universal (também designado como fluido elementar ou fluido primitivo) Esse fluido universal é o agente de que o Espírito diretamente se utiliza. Importante destacar que o fluido universal é indicado como necessário para que a matéria física não se desagregue, ou seja, é um elemento intrínseco à matéria física organizada conquanto seja sutil, etéreo.

27. Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?
“Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.”

O fluido universal é o elemento primordial de toda a matéria, não sendo senão por modificações suas que os vários outros tipos de substâncias se formam. Kardec comenta que os elementos químicos conhecidos são modificações de uma substância primitiva.

33. A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades?
“Sim e é isso o que se deve entender, quando dizemos que tudo está em tudo!”

O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos que consideramos simples são meras modificações de uma substância primitiva. Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a não ser pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros elementos e podemos, sem maiores conseqüências, tê-los como tais, até nova ordem.

DEUS - Visão Espírita (Kardec)

INTELIGÊNCIA SUPREMA UNIVERSAL

1. Que é Deus?
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”
(O Livro dos Espíritos)

Deus é conceituado como a inteligência suprema, completando-se com a noção de causa primária de todas as coisas. Assim, Deus é a causa inteligente cujo efeito é o todo universal. Deus é a causa inteligente de tudo, na linguagem tradicional é o Verbo, porquanto o Verbo é a vontade de Deus manifesta.

4. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?
“Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.”

5. Que dedução se pode tirar do sentimento instintivo, que todos os homens trazem em si, da existência de Deus?
“A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma conseqüência do princípio - não há efeito sem causa.”
(O Livro dos Espíritos)

Pensemos. O homem jamais pôde ver o átomo, mas definiu modelos de interpretação dos fenômenos com base no que podia observar. Agindo assim já conseguiu descobrir muitas leis físicas do Universo, comprovando-as em experimentos posteriormente. Menos ainda pode o homem vislumbrar acerca de Deus. No entanto, observando e aprendendo acerca de tudo o que está à sua volta o homem se conscientiza da existência de uma causa inteligente suprema e norteadora do todo universal. As coisas acontecem sob padrões fenomênicos que a mera casualidade não convence ao mais incrédulo, no reduto do seu íntimo. Mesmo os mais simples habitantes deste planeta desde as eras remotas guardam em sua consciência a noção viva de que existe Deus, com foros de verdade que, em sua simplicidade, não puderam definir.

O ACASO

8. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso?
“Outro absurdo! Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.”
(O Livro dos Espíritos)


O mero acaso não poderia ser a causa de efeitos tão complexos como, por exemplo, a formação da vida orgânica deste planeta. Na escala do ano geológico, o homem é uma forma de vida surgida no último dia, sem embargo de ser o mais complexo habitante deste orbe. Miríades de outros exemplos poderiam ser alinhavados.

ATRIBUTOS DA DIVINDADE

Kardec aponta os atributos da Divindade.

Em O Livro dos Espíritos:

·        Eterno – Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.
·        Imutável – É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam.
·        Imaterial – É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.
·        Único – É único. Se muitos Deuses houvesse, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.
·        Onipotente – É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as coisas. As que não houvesse feito seriam obra de outro Deus.
·        Justo e Bom – É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela, assim nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça nem da bondade de Deus.

Em A Gênese:

·        Deus é a suprema e soberana inteligência. É limitada a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus abrangendo o infinito, tem que ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim por diante, até ao infinito.
·        Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.
·        Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.
·        Deus é imaterial, isto é, a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito ás transformações da matéria. Deus carece de forma apreciável pelos nossos sentidos, sem o que seria matéria. Dizemos: a mão de Deus, o olho de Deus, a boca de Deus, porque o homem, nada mais conhecendo além de si mesmo, toma a si próprio por termo de comparação para tudo o que não compreende. São ridículas essas imagens em que Deus é representado pela figura de um ancião de longas barbas e envolto num manto. Têm o inconveniente de rebaixar o Ente supremo até às mesquinhas proporções da Humanidade. Daí a lhe emprestarem as paixões humanas e a fazerem-no um Deus colérico e cioso não vai mais que um passo.
·        Deus é onipotente. Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.
·        Deus é soberanamente justo e bom. A providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade. O fato do ser infinita uma qualidade, exclui a possibilidade de uma qualidade contrária, porque esta a apoucaria ou anularia. Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais insignificante parcela de malignidade, nem o ser infinitamente mau conter a mais insignificante parcela de bondade, do mesmo modo que um objeto não pode ser de um negro absoluto, com a mais ligeira nuança de branco, nem de um branco absoluto com a mais pequenina mancha preta. Deus, pois, não poderia ser simultaneamente bom e mau, porque então, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, não seria Deus; todas as coisas estariam sujeitas ao seu capricho e para nenhuma haveria estabilidade. Não poderia ele, por conseguinte, deixar de ser ou infinitamente bom ou infinitamente mau. Ora, como suas obras dão testemunho da sua sabedoria, da sua bondade e da sua solicitude, concluir-se-á que, não podendo ser ao mesmo tempo bom e mau sem deixar de ser Deus, ele necessariamente tem de ser infinitamente bom. A soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto, se ele procedesse injustamente ou com parcialidade numa só circunstância que fosse, ou com relação a uma só de suas criaturas, já não seria soberanamente justo e, em consequência, já não seria soberanamente bom.
·        Deus é infinitamente perfeito. É impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em tudo. Sendo infinitos, os atributos de Deus não são suscetíveis nem de aumento, nem de diminuição, visto que do contrário não seriam infinitos e Deus não seria perfeito. Se lhe tirassem a qualquer dos atributos a mais mínima parcela, já não haveria Deus, pois que poderia existir um ser mais perfeito.
·        Deus é único. A unicidade de Deus é consequência do fato de serem infinitas as suas perfeições. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e, então, não seria Deus. Se houvesse entre ambos igualdade absoluta, isso eqüivaleria a existir, de toda eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder. Confundidos assim, quanto à identidade, não haveria, em realidade, mais que um único Deus. Se cada um tivesse atribuições especiais, um não faria o que o outro fizesse; mas, então, não existiria igualdade perfeita entre eles, pois que nenhum possuiria a autoridade soberana.

PROVIDÊNCIA DIVINA

Tema intimamente relacionado é a Providência Divina. Kardec preocupou-se em abordá-la diretamente em A Gênese:

A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.
(A Gênese)

O mecanismo dessa providência é esboçado sob a ressalva de ser uma imagem imperfeita. Kardec fala de um fluido suficientemente sutil para tudo interpenetrar. Tal fluido, como ocorre com o fluido do perispírito, não é a sede da inteligência mas é o veículo da inteligência que a ele se vincula. Kardec não tem certeza de que assim ocorra com o pensamento do Criador, mas aponta nesse modelo a onipresença e onisciência que permitem sua pronta atuação em tudo o que existe, como no conceito da Providência Divina. Adiante o trecho:

Seja ou não assim no que concerne ao pensamento de Deus, isto é, quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio de um fluido, para facilitarmos a compreensão à nossa inteligência, figuremo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o universo infinito e penetra todas as partes da criação: a Natureza inteira mergulhada no fluido divino. Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada átomo desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Nenhum ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado dele. Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contacto ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo.
(A Gênese)

Bem e Mal - Visão Espírita (Kardec)

No estudo deste tema, inevitável que abordemos a questão da dualidade Bem versus Mal. Iniciemos com a conceituação.

629. Que definição se pode dar da moral?
“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.”
(O Livro dos Espíritos)

Como regra básica, portanto, procede bem quem procura o bem comum. A noção de Bem e Mal está no homem como atributo de sua inteligência para discernir.

630. Como se pode distinguir o bem do mal?
“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.”

631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?
“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu inteligência para distinguir um do outro.”

632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?
“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.”
(O Livro dos Espíritos)

Talvez uma das normas de conduta mais importantes: fazer ao próximo o que desejamos que nos façam. A distinção entre várias situações limítrofes e confusas tem aí o seu fundamento.

Uma abordagem muito importante foi feita por Kardec quanto à existência do Mal na natureza das coisas. A resposta dada pelos Espíritos é muito significativa, apontando expressamente a necessidade de experiência do ser tanto no Bem como no Mal.

634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições?
“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso, portanto, que conheça o bem e o mau. Eis por que se une ao corpo.” (119) (grifei)
(O Livro dos Espíritos)

Disso advém a necessidade de um maior questionamento acerca da origem do Mal. Kardec volta a abordar o tema em A Gênese.

Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria,todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus
atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter nele a sua origem.
Após apontar a existência de dois tipos de Mal, (os evitáveis e os inevitáveis), Kardec propõe que o conceito em si de Mal é relativo. Uma circunstância muitas vezes pode aparentar ser um mal, quando, na verdade, se conhecidos fossem a causa, o objetivo e o resultado definitivo, seria tida como um bem.

O homem, cujas faculdades são restritas, não pode penetrar, nem abarcar o conjunto dos desígnios do Criador; aprecia as coisas do ponto de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da Natureza. Por isso é que, muitas vezes, se lhe afigura mau e injusto aquilo que consideraria justo e admirável, se lhe conhecesse a causa, o objetivo, o resultado definitivo. Pesquisando a razão de ser e a utilidade de cada coisa, verificará que tudo traz o sinete da sabedoria infinita e se dobrará a essa sabedoria, mesmo com relação ao que lhe não seja compreensível.
(A Gênese)

É bem nesse contexto que podemos entender, pois, que a experiência no Mal leva ao Bem. Dir-se-ia circunstâncias tidas como males leva a um bem. Mesmo no que se refere à livres opções do ser, que freqüentemente o relega à dor por sua própria escolha, temos fatos e circunstâncias de aprendizado pela experiência. Muitos são os aspectos da vida em que o aprendizado não se opera senão à conta do treinamento inafastável e o respectivo esforço e dedicação. Vejamos adiante:

Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio. Quando toma melhor caminho, é por sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro. A necessidade, pois, o constrange a melhorar-se moralmente, para ser mais feliz, do mesmo modo que o constrangeu a melhorar as condições materiais da sua existência. (grifei)
(A Gênese)

Tanto é verdade, que Kardec pronuncia uma das pedras basilares da conceituação espírita: o mal é a ausência do bem. Esse aspecto é de grande relevância por evidenciar que o Mal não é um atributo distinto do Bem.

Pode dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não é atributo distinto; um é o negativo do outro. Onde não existe o bem, forçosamente existe o mal. Não praticar o mal, já é um princípio do bem. Deus somente quer o bem; só do homem procede o mal. Se na criação houvesse um ser preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas, tendo o homem a causa do mal em SI MESMO, tendo simultaneamente o livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitá-lo-á sempre que o queira.
(A Gênese)

Ainda mais compreensível se torna a referida necessidade de experiência do ser tanto no Bem como no Mal quando verificamos o que Kardec fala das paixões e dos vícios:

Estudando-se todas as paixões e, mesmo, todos os vícios, vê-se que as raízes de umas e outros se acham no instinto de conservação, instinto que se encontra em toda a pujança nos animais e nos seres primitivos mais próximos da animalidade, nos quais ele exclusivamente domina, sem o contrapeso do senso moral, por não ter ainda o ser nascido para a vida intelectual. O instinto se enfraquece, à medida que a inteligência se desenvolve, porque esta domina a matéria. O Espírito tem por destino a vida espiritual, porém, nas primeiras fases da sua existência corpórea, somente a exigências materiais lhe cumpre satisfazer e, para tal, o exercício das paixões constitui uma necessidade para o efeito da conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando. Mas, uma vez saído desse período, outras necessidades se lhe apresentam, a princípio semimorais e semimateriais, depois exclusivamente morais. É então que o Espírito exerce domínio sobre a matéria, sacode-lhe o jugo, avança pela senda providencial que se lhe acha traçada e se aproxima do seu destino final. Se, ao contrário, ele se deixa dominar pela matéria, atrasa-se e se identifica com o bruto. Nessa situação, o que era outrora um bem, porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque se torna prejudicial à espiritualização do ser. Muita coisa, que é qualidade na criança, torna-se defeito no adulto. O mal é, pois, relativo e a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento.
(A Gênese). (grifei)

Eis que o mal (ou, melhor dizendo, muito do que é tido como mal) é uma fase do desenvolvimento do ser. O que outrora era um bem, torna-se um mal, conforme o ser deixa a animalidade e adentra à noção de si conforme o seu grau de adiantamento.

Todas as paixões têm, portanto, uma utilidade providencial, visto que, a não ser assim, Deus teria feito coisas inúteis e, até, nocivas. No abuso é que reside o mal e o homem abusa em virtude do seu livre-arbítrio. Mais tarde, esclarecido pelo seu próprio interesse, livremente escolhe entre o bem e o mal.
(A Gênese)

A situação do ser enquanto ainda nos limites mais primitivos é destacada por Kardec em O Céu e o Inferno:

Como prova da sua inocência, o quadro dos homens primitivos extasiados ante a Natureza e admirando nela a bondade do Criador é, sem dúvida, muito poético, mas pouco real. De fato, quanto mais se aproxima do primitivo estado, mais o homem se escraviza ao instinto, como se verifica ainda hoje nos povos bárbaros e selvagens contemporâneos; o que mais o preocupa, ou, antes, o que exclusivamente o preocupa é a satisfação das necessidades materiais, mesmo porque não tem outras.
O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente morais não se desenvolve senão gradual e morosamente; a alma tem também a sua infância, a sua adolescência e virilidade como o corpo humano; mas para compreender o abstrato, quantas evoluções não tem ela de experimentar na Humanidade! Por quantas existências não deve ela passar!
(O Céu e o Inferno) (grifei)

Mais adiante:

Se nos remontarmos a estes últimos (homens primitivos), então, surpreendê-los-emos mais exclusivamente preocupados com a satisfação de necessidades materiais, resumindo o bem e o mal neste mundo somente no que concerne à satisfação ou prejuízo dessas necessidades.
(O Céu e o Inferno)

Assim Kardec identifica a causa de prevalecer no homem primitivo, conforme ganha mais responsabilidade por seu adiantamento, uma tendência ao mal.

Mas o homem é comumente mais sensível ao mal que ao bem; este lhe parece natural, ao passo que aquele mais o afeta. Nem por outra razão se explica, nos cultos primitivos, as cerimônias sempre mais numerosas em honra ao poder maléfico: o temor suplanta o reconhecimento.
(O Céu e o Inferno)

Conquanto não haja uma referência expressa, temos aí a visão espírita, com fulcro em Kardec, para o mito da Queda do Homem. Não se tem um anjo ciumento lançando-se nas trevas por querer ser Deus; tem-se uma fase de desenvolvimento do ser, que se identifica com aspectos da vida que são tidos como males.