Consoante a tradição esotérica dos povos, há dois caminhos (por assim dizer, mais comuns) para a ascensão. A meditação e o serviço à humanidade. "Meditar" tornou-se um autêntico mistério para a maioria dos ocidentais, enquanto que no Oriente é uma postura encarada com mais naturalidade. Por outro lado, o serviço à humanidade é mais ostensiva no Ocidente, visto quase sempre como algo vinculado a tarefas sociais realizadas por entidades assistenciais. Cabe aí analisar o sentido de ambas as condutas.
Do ponto de vista essencialmente humanitário, a atividade assistencial tem efeitos obviamente mais importantes para os hipossuficientes do que quaisquer lições filosóficas acerca do sentido da vida. Bem nesse contexto, a grande maioria dos hipossuficientes, por sua vez, se vê às voltas com restrições de toda ordem, não se dispondo a cogitações além de suas buscas imediatas.
A meditação costuma levar o ser a um grau de serenidade maior, o que influi inclusive no padrão de reatividade às carências enfrentadas. Por certo não se cuida de uma regra, mas a educação desde o lar, no Oriente, amolda pessoas, no geral, menos dramáticas.
Exceções sempre há... A questão que se propõe é perscrutar se a atividade assistencial ou a meditação realmente levam à ascensão espiritual de quem as pratica.
Por mais evidente que seja, vale sempre reiterar: nada supera a intenção com que algo é ou deixa de ser feito. Ajudar alguém para ganhar o reino dos céus é uma auto-corrupção tão imoral quanto inútil, valendo apenas pela gratidão (se realmente houver) daquele que recebe o auxílio. Meditar sem nada fazer é o mesmo que morrer de sede ao lado de uma fonte, por preguiça de ir até a água...
Muita gente passa uma vida inteira pensando, pensando, pensando em como... meditar... Outros tantos meditam, meditam, meditam... a fim de eleger um objetivo para viver... É necessário um mínimo de senso prático para que o ser não relegue toda uma existência à inutilidade.
Esse texto seu me trouxe a lembrança de Karma Yoga, de Swami Vivekananda.
ResponderExcluirEm um trecho, Vivekananda argumenta que "cada um é grande em seu próprio meio".
Ele se refere à necessidade de castidade e absoluta renúncia e desapego por parte do yogi. Contudo, argumenta que os monges que se retiram para as florestas e desertos no afã de se viver uma vida "não-mundana", comumente costumam acusar os que vivem na sociedade, à conta de impuros, materialistas e etc.
E Vivekananda argumenta que um pai de família pode ser tão grande quanto um yogi que buscou a misantropia com o fito de renunciar ao mundo.
Segundo ele, o pai de família tem como missão santificada levar uma vida de devoção e serviço a humanidade.
"Renunciar à riqueza é um grande pecado", por parte do pai de família, argumenta Vivekananda, pois toda a riqueza que esse homem constrói é para o bem da humanidade.
Assim, ele não ampara somente a família, os parentes e os amigos íntimos, os seus afetos, em uma palavra, o que seria aliás, uma atitude egoísta.
Mas, esse homem "do mundo", que vive imerso na sociedade com obrigações sociais as mais diversas, ampara com sua riqueza e poder todos os que estão à sua volta, sem fazer distinções, distribuindo benesses por toda parte.
Repare, que ele não precisa renunciar ao sexo, e tampouco às convenções sociais que se lhe fizerem mister cumprir, porque, se ele é grande em seu próprio meio, se ele serve em meio à sociedade e para a sociedade, então ele é um homem que cumpre certas convenções sociais, mas por uma questão de necessidade, e não porque se compraz nos prazeres do mundo.
Achei interessante esse livro do Vivekananda, porque para muitos, haveria a necessidade de se isolar socialmente, mas para um pai de família, que seja um homem de negócios, ligado à deveres políticos e sociais, não faria sentido uma vida de isolamento.
Assim, "cada um é grande em seu próprio meio"!!
De um lado o yoge que medita longe do burburinho das convenções sociais; busca o auto-aperfeiçoamento, o auto-burilamento, através da meditação, do silêncio interior, da castidade, e da renúncia as prazeres do mundo; de outro, o pai de família, que, sem renunciar ao sexo, a uma taça de vinho num encontro social, e etc, não se torna por isso, necessariamente, um sujeito mundano, dado a todo tipo de vícios e prazeres.
Cada um é grande em seu próprio meio!