Estudos

domingo, 25 de janeiro de 2015

O Cordeiro de Deus tira o pecado do mundo...

A ideia de que todo o pecado do homem foi assumido e "pago" por Jesus compõe a Teologia cristã e é pedra basilar das duas grandes vertentes religiosas fundadas nos evangelhos canônicos.
Costuma-se dizer que o sangue do Cristo salvou a humanidade. Já fomos salvos.
Por óbvio o espiritualista em geral vê tal ideário com grandes ressalvas.
Não adianta discutir sobre a origem divina, ou não, das escrituras que compõem a bíblia, seja a católica, seja a evangélica. Partamos do princípio de que toda religião se assenta em algum conjunto de ensinamentos, até mesmo as mais antigas, no tempo da tradição meramente oral.
Cada religião tem, pois, sua sustentação em ensinos que, a fim de oferecer um alicerce absoluto, são tidos como divinos e sagrados: absolutos.
De todo modo, sempre causou algum espanto dentre os espiritualistas o conceito de que o Cristo teria salvo a humanidade e que todo o pecado do homem fora literalmente lavado com sangue.
Os ensinamentos atribuídos a Jesus não são, nem na essência tampouco na forma, inéditos. Compõem uma compilação de vários conceitos muito antigos com os quais ele teve contato. Se o homem Jesus foi ou não essênio, ao menos em parte de sua vida, é questão que historiadores e religiosos ainda discutem. Se esteve ele, ou não, no oriente visitando mosteiros budistas, consoante registros encontrados e divulgados timidamente por poucos autores, é outra questão que se acha sob o manto de conveniências e crenças.
Não importa.
O fato é que "tirar o pecado do homem" parece um conceito que deveria ser mais bem interpretado no contexto geral da lei de amor que o Mestre veio trazer.
Mesmo não arrostando diretamente, aqui, o paradoxo do pecado original, inescondível que Jesus veio ao encontro de uma humanidade consciente de si nos limites animais de um ser precocemente aberto em suas percepções, claudicante no exercício de sua liberdade de escolha. Equivale a dizer, Jesus veio ter com espíritos envolvidos nas resultantes de atos e fatos, quase sempre sob consequências desagradáveis. 
Veio para ensinar uma forma de libertação, não propriamente do "pecado", mas desse ciclo de auto causação danosa.
Em meio à vida que o homem cunha para si mesmo não raro abraça entes muito amados que, a fim de melhor suportarem os danos causados a si mesmos, contam com seu amparo tantas vezes apenas como acompanhante em troca aparentemente desequilibrada de experiências.
Uma pessoa recebe, por exemplo, o devedor como filho e o acompanha na jornada, até onde pode, suprindo-lhe o ânimo em preciosa doação de força espiritual. Não será, na maior parte das vezes, por mera nobreza, mas pela necessidade, também existente no pai amoroso, de resgatar a atenção devida aos que, caídos, tiveram talvez o seu descaso pretérito.
Enfim, a Vida é uma jornada em que devedores se encontram com devedores, sendo uns, com passivos menores, titulares de missões para com os que não suportariam sozinhos sequer o enfrentamento inicial.
Bem a propósito este pequeno texto mantém o linguajar típico do esclarecimento religioso das filosofias espiritualistas.
Situando Jesus na realidade cultural de sua época, como poderia ensinar que a Vida vinha sendo um entremeio de reequilíbrio e desacerto sucessivamente renovados?
Como fazer entender que uma nova era deveria iniciar-se, sob novos padrões de comportamento, a fim de quebrar a sucessiva onda de iniquidade até então reinante sob o crivo de plena normalidade diante da orgulhosa face de sacerdotes vaidosos, compra de fé, imposição pela espada, deturpadas oferendas em prol de efeitos benzodiazepínicos ministrados a um pretenso deus perverso e continuamente estressado?
Não adianta falar um idioma desconhecido em praça pública.
A noção de que a Vida cobra seus tributos até o último ceitil mas que a dívida pode ser atenuada com recursos do Amor ao semelhante e mudança de conduta cosmoética só pôde ser expressa, de modo compreensível, sob a tese de que o ensinamento novo tinha que ser aplicado como única forma de salvação e, no que diz respeito aos pecados já consumados, seriam lavados pelo sacrifício, não de todos, mas de um cordeiro muito especial oferecido ao deus neurótico.
Assim se juntou o novo mundo, oferecido pela renovação dos ensinos de Amor, com a religiosidade então vigente, proporcionando ao homem mediano de então uma chance real de entender que a nova conduta poderia levá-lo ao paraíso mesmo se fosse assumida somente dali por diante.
Lembremo-nos que era vigente a lei do talião. Ninguém achava estranho nem minimamente exagerado, por exemplo, apedrejar uma prostituta. Até hoje fazem isso em alguns círculos humanos que conservam sua cultura primitiva.
Para que a Lei do Amor pudesse ter alguma chance de ser aceita, era necessário uma cena dantesca de sacrifício.
Um símbolo da oferenda ao deus psicótico em que a imensa maioria cria há séculos.
Jesus tirou o pecado do mundo no sentido de ensinar, por reforço e vivência dos ensinos antigos semeados em todo o planeta há muitos milênios (ensinos esses até então ignorados ou mantidos em altas cortes nas escolas de mistério) que a não violência é a solução para a violência, que o amor é a solução para o ódio, que a tolerância é a solução para a aceitação do erro alheio, que o perdão é a solução para o sentimento de vingança, e assim por diante.
Nesse contexto, voltando aos que sustentam o semelhante na vivência de seu resgate cármico, o ensinamento de Jesus também se faz ouvir.
Muito do que ocorre na presente jornada física tem causa em ceitis passados. 
Não há pecado sendo pago. Há efeitos de atos e fatos pretéritos.
Jesus tirou o pecado do mundo ao relembrar, por ensinamentos e exemplo de vida, que o Amor é a única via de ascensão espiritual, tanto quanto os efeitos dolorosos de erros pretéritos podem ser atenuados desde que sob sincero arrependimento e modificação da conduta.
A responsabilidade do homem após a divulgação dos ensinos fundamentais da Lei do Amor em muito aumentou. Sob essa ótica, não nos iludamos, o pecado do mundo pode ter, sim, aumentado muito consoante sejam tantos ou quantos os que adotaram a Boa Nova.

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