domingo, 24 de janeiro de 2010

Homens / Animais

Um aspecto que diz respeito a minha experiência pessoal, aqui referida apenas como ilustração, é a forte sensação que eu tenho de que muitos dos instintos (impulsos, automatismos) que se deflagram em meu dia-a-dia têm muito a ver com as conquistas do longo período de aquisições como animal.

A capacidade intelectiva e a habilidade em "racionalizar" (do ponto de vista freudiano) certas atitudes dissimulam padrões de reação que em nada diferem dos nossos companheiros metazoários.

Peço licença para transcrever algo que escrevi alhures:

[...]
O homem continua ao sabor de vários instintos puramente animais, conquanto já tenha galgado vários degraus acima da condição inicial. Curiosamente, a natureza animal do homem associada à capacidade de raciocínio contínuo é visível em vários elementos do dia-a-dia. Não se busca o desenvolvimento de máquinas ou ferramentas apenas tendo em mente a sua finalidade última. Não, na Terra um automóvel, por exemplo, se submete a toda uma concepção de estética que tem tudo a ver com o prazer que o equipamento desperta no senso de força, velocidade e poder. O homem efetivamente sente como se o seu carro fosse parte de si mesmo, escolhendo, sempre que possa, o veículo com que mais se identifique. Por isso existem tantos tipos e cores de carro, tantos quantos são os mais comuns tipos e variante da personalidade humana. Até mesmo o som dos motores em muito lembra o uivo das feras. Os faróis compõem um olhar ferino, como se a máquina pedisse para ser posta na mais desatinada velocidade. O carro, enfim, ostenta a força e o poder que o homem deseja para si, ficando feliz em dominar o equipamento ou confundir-se com ele.

A roupas... As roupas, por sua vez, exsurgem em importância quase nunca por sua utilidade, mas pelo estilo, pela combinação, pela moda, pela cor, pelos acessórios etc etc etc. É a plumagem que o corpo não ostenta. Grupos se identificam pela forma de se vestir.

O uso da linguagem tantas vezes redunda em codificações tribais, restringindo o sentido exato de termos comuns ao contexto só plenamente conhecido pelos componentes daquela tribo.

Até mesmo nos setores mais intelectualizados da humanidade são notórios os efeitos da componente animal ainda tão vívida no espírito humano. Bismarck teve seus ideais de conquista e força suficientemente soerguidos por uma base filosófica refinada, encontrando no discurso de Nietzche o super-homem que a natureza premia com o sucesso. Nada melhor do que a obra desse filósofo para denunciar que o homem procura assimilar e ter por perfeitamente natural que a animalidade conviva com o intelecto desenvolvido. O bom selvagem de Rosseau, isolado no concerto das teses de origem da sociedade, é até hoje visto como uma quimera quase pueril. Montesquieu percebeu a natureza humana destacando que o maior mérito da mercancia era atenuar os homens, que passaram da conquista e esbulho para o desejo de riqueza via comércio. Claro que a exploração econômica logo se estabeleceu. Hobbes chamou de Leviatã o Estado que tudo engloba e submete, como um monstro que se impõe pela força. Impossível deixar de mencionar o triste episódio do nazismo, que levou milhões à barbárie.

[...]

Fonte: 
http://www.webartigos.com/articles/8503/1/cogitaes---anjos-decados/pagina1.html

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