quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Identidade de Gênero

A questão da, assim chamada, identidade de gênero (ou, consoante terminologia psicológica, Transtorno de Identidade de Gênero) vem sendo objeto de ampla considerações em vários setores da sociedade. Concernente a aspectos personalíssimos, desdobra-se em acalorados debates. As abordagens da ciência ortodoxa têm sido bem abstratas, não se atendo a considerações de cunho ético conquanto, como em tudo o mais, não se possa conceber valorações desse jaez sem o concurso dos elementos valorativos culturais, momento a momento, no concerto da evolução que experimenta o ente coletivo.

A Psicologia afirma que o indivíduo não se restringe ao seu corpo físico, podendo ter de si uma identificação que dele destoa quanto ao gênero. Sem qualquer pretensão quanto ao conteúdo científico dessa asserção, cabe ponderar aspectos que tocam ao comum das pessoas, consoante a experiência do dia-a-dia e seu matiz essencialmente cultural conforme o momento atual.

A identificação que uma pessoa tenha com gênero sexual diferente de seu próprio fenótipo é um fenômeno que, no mínimo, não é o mais comum. Mesmo evitando tecer valorações éticas, impossível deixar de meditar acerca do caráter “normal” ou não de uma identificação assim. Na transexualidade, diz-se, o indivíduo é, por exemplo, uma mulher no corpo de um homem. Imagina-se que seja algo torturante. Se não, ao menos inconveniente em muitos momentos.

Até onde é lícito considerar normal uma identificação psicológica distinta da fisiológica? Claro que ninguém cogita de imputar-se um “demérito” pela existência de tal divergência entre o físico e o anímico. Mas é, de fato, consistente considerar que é perfeitamente normal uma pessoa ter uma estrutura psicológica diferente de sua base fisiológica?

Quando uma pessoa se vê obesa diante do espelho mas, objetivamente, é possível constatar que se trata de alguém até mesmo abaixo do peso, segundo seu índice de massa corpórea, como se denomina isso? Dismorfia Corporal, ou Transtorno Dismórfico Corporal.

O fato do fenômeno ter um nome não conduz a nenhuma solução. Não obstante, deixa claro que é um fenômeno catalogado, sem dúvida, na mesma pasta de outros transtornos psicológicos. No caso da dismorfia corporal, inclusive, a psicoterapia é o tratamento indicado.

Então, temos um transtorno em que o indivíduo tem uma falsa percepção de si mesmo, no mais das vezes, quanto ao peso. Por que essa percepção desvencilhada da realidade objetiva é um transtorno? Creio que a melhor resposta seja: exatamente porque está desvencilhada da realidade objetiva.

No caso do gênero tudo deve ser considerado sob outro talante? Por que? Enfim, busquemos outras comparações até com transtornos menos drásticos.

Raramente no convívio de um grupo, seja na escola ou no trabalho, deixará de ter alguém que esteja sempre em busca de atenção, tendente às dramatizações, sob um afetado clima de forçada intimidade. Quando tais características se tornam constantes na conduta dessa pessoa, diz-se que ela tem Transtorno de Personalidade Histriônica. Ora, aqui a falsa percepção da realidade objetiva é bem menos intensa do que, como já vimos, no caso do Transtorno Dismórfico Corporal. Mesmo assim, por ser uma percepção errônea, constitui igualmente um transtorno de personalidade.

O que se pretende abordar é que a percepção errônea acerca da realidade objetiva é o fator determinante do transtorno da personalidade. Como transtorno, merece abordagem enquanto situação anômala, sem nenhum demérito de ordem moral tampouco qualquer pretensão a uma formulação preconceituosa de menosprezo.

O que não parece correto é, exatamente, tentar dar ares de “odiosa intolerância” à postura de quem considera que um transtorno da personalidade seja algo que reclama tratamento.

A sociedade vem assistindo a um aumento desmedido na construção do conceito de que o sujeito que tem Transtorno de Identidade de Gênero deve ser mantido “à salvo” de quaisquer opiniões sobre o simples fato de ele ter um transtorno da personalidade. 

Tanto menos aceitável é a tese que vem se desenhando em vários setores da sociedade no sentido de que deve ser deixado a uma criança livremente “escolher” se vai ou não assumir a identidade de gênero que lhe advém do próprio corpo físico.

As pessoas que se vitimam por quaisquer transtornos da personalidade não optaram por ser, digamos, histriônicas, paranoicas, dismórficas, tampouco por divergirem do gênero de seu fenótipo. Vale repisar, são pessoas que sofrem de transtorno de personalidade. Não é uma mera questão de “preferir” isso ou aquilo.

Um adulto, senhor de si, que sofra de Transtorno de Identidade de Gênero e não deseje buscar tratamento, que assim delibere sobre sua própria vida. Mas daí não se conclui que uma criança possa ser deixada ao sabor de um transtorno de personalidade como se fosse a mera expressão de sua vontade consciente.

Se uma hipotética criança magra chora e se desespera por se ver ao espelho como excessivamente gorda, não há mínima razoabilidade em interpretar-se que ela está optando por ser gorda. Se a criança demonstra grande carência afetiva, não é possível imaginar-se que ela está livremente optando pelo cultivo de uma exacerbada sensibilidade gótica. 

Uma criança do sexo masculino que demonstre estar na assunção de comportamento feminino, independentemente de quaisquer valorações éticas, deve ser levada à consideração de um profissional habilitado a analisar se é vítima de Transtorno de Identidade de Gênero. E não deve ser outra a atitude desse profissional senão esclarecer os responsáveis pelo tratamento adequado.

Em complementação (afinal, este é um Blog de estudos esotéricos...), adiante transcrevo trecho relevante do grande médico espírita Jorge Andrea (Forças Sexuais da Alma, pág. 76):


  • Na abordagem dessas três faixas (intersexualismo, transexualismo e homossexualismo) devemos compreender que o patológico, o doentio, está bem perto do hígido, do normal. Certas posições de transição reencarnatória, pela mudança de polarização sexual, mostram faixas com limites imprecisos e, outras vezes, tão gritantes, denotando um quadro patológico. Por que isso? Que se passa com a Grande Lei evolutiva? Que está acontecendo com as forças sexuais da alma? A Doutrina Espírita tem uma plausível explicação para tudo isso: é a posição em que nos encontramos no Planeta, onde o componente de expiação ainda é mais bem avantajado do que o regenerativo. Os componentes cármicos, atritados pela vida pregressa, exigem compensação. Devemos considerar que muitos dos indivíduos enquadrados nesses capítulos, ao seu próprio modo carregam posições difíceis, acompanhadas, comumente, de desentendimentos. Só a construção no bem, o desenvolvimento de trabalho e tarefas positivas constantes poderão neutralizar o carma (carga negativa pregressa), cuja luta lhe foi oferecida pela Grande Lei porque há possibilidades de vitória. O amanhã será grandemente expressivo para os que tiveram vontade e souberam lutar por uma efetiva posição espiritual. A blandícia de uma nova aurora apresenta-se sempre com os matizes das semeaduras individuais no bem.



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