Pensemos nos animais. Refiro-me aos metazoários em geral, tigres, leões, cavalos, serpentes, crocodilos, cães, enfim, animais ditos superiores quando comparados com as formas menos complexas de vida, fora o gênero homo. Desde logo cumpre registrar o repúdio com que muitos contemplam a simpLes idéia de sermos nós, humanos, também metazoários, biologicamente classificados muito próximos aos nossos irmãozinhos mais peludos. Há quem diga que há o reino dos animais e o dos humanos, buscando-se não imiscuir o ser humano em meio aos demais entes que a evolução lapida neste orbe.
Busquemos a orientação de um grande mentor retratado na obra Missionários da Luz, ditada pelo Espírito André Luiz ao saudoso médium Francisco Cândido Xavier. O mentor Alexandre assevera com todas as letras que o homem ainda se refestela com as vísceras de seus irmãos menores. Não há a menor dúvida, pelo contexto dessa asserção, que o mentor está mesmo falando dos metazoários que o ser humano depreda, com todos os requintes da culinária moderna. A irmandade anunciada entre os homens e os animais em geral ganha contornos de identidade de origem na obra A Caminho da Luz, pelo Espírito Emmanuel, livro muito conhecido no meio Espírita. Logo no início desse livro, o grande Emmanuel deixa assente que os compostos de carbono que se juntaram na formação do planeta e deram origem às primeiras moléculas complexas constituem as sementes primitivas dos próprios seres humanos, tanto quanto de todas as formas de vida da Terra. Os homens e os animais têm a mesma origem. Nada justifica crer que a evolução produziria um ser humano senão pelo aperfeiçoamento do princípio vital desde as formas mais básicas, passando pelos metazoários, atravessando o intervalo dos hominídeos, até a forma atual de homo sapiens. Outra fonte de valioso conteúdo e que assevera sob os mesmos contornos a origem humana está no livro Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz.
Por outro lado, fator de extremo relevo é a vinculação que várias correntes espiritualistas fazem entre a Divindade e a beleza. A beleza é posta como um atributo da Criação. Diante disso, a beleza há que ser considerada um valor objetivo, que transcende ao foro íntimo da percepção individual, ao menos no que se refere a um patamar a partir do qual não se concebe qualquer fealdade. Como corolário, temos que a fealdade somente ocorre como conseqüência de atos contrários à Lei da Evolução. Atos, porque fatos, entendidos como eventos decorrentes de desdobramentos causais da natureza, necessariamente estão sob o império de atos desviantes sempre que impliquem em algum resultado contrário à paz e harmonia que deveria viger. Os fatos advindos dos processos naturais para os quais não concorre a vontade humana, desdobram-se sob serena fluidez.
A evolução desdobra-se sob o influxo da beleza inerente à Criação. Equivale a dizer que não deveria haver formas tocadas por fealdade no processo evolutivo dos seres. Mas há, efetivamente, seres horrendos neste planeta, seres cuja existência causa repugnância e medo, quando não o desejo de eliminação em decorrência do mal concreto que causam. Não parece possível que a evolução amolde formas cuja compleição e ciclo de existência se resumem na destruição de outros seres em processos patológicos potencialmente destrutivos de toda a espécie. Os vírus, por exemplo, sequer podem ser tidos à conta de seres submetidos a fenômenos de alimentação e excreção. Limitam-se a invadir células para tomar-lhes as macromoléculas necessárias à replicação de si mesmos, tão-somente funcionando como uma imensa macromolécula dotada de movimentação e automatismos suficientes para encontrar alhures os elementos necessários para produzir cópias de si mesmas. Com isso destroem as células hospedeiras e progressivamente provocam a morte do metazoário. Curiosamente, não é necessário descer aos abismos microscópicos para vermos criações monstruosas. Mesmo na realidade imediata que nos cerca temos exemplos daquilo que pode ser produzido pelo desequilíbrio.
Como? Criações monstruosas causadas pelo desequilíbrio? Sim, é isso mesmo.
Novamente buscando apoio em uma obra da literatura espírita, invocamos o conceito de co-criação em plano menor, referido no livro Evolução em Dois Mundos, já referido. Denota a interação do pensamento humano nos fluidos e na regência dos fenômenos à sua volta. O pensamento do homem efetivamente interfere no fluxo puro dos fenômenos fluídicos à sua volta, acrescendo harmonia ou contribuição tristemente com ruídos e interferências noviças de toda a espécie, conforme sejam os pensamentos reiteradamente emanados sob padrões de harmonia ou desequilíbrio. Daí a expressão co-criação em plano menor. Ao par do pensamento do Criador que a tudo permeia, o pensamento humano, qual harmônico de freqüência infinitamente menor,também se agita para contribuir no processo ou para desequilibrá-lo, com a eficácia restrita ao círculo que pode alcançar. A somatória de equilíbrio e desequilíbrio de todos os seres pensantes dá o tom de harmonia ou desarmonia do planeta em cada momento da aventura humana na Terra. A esse padrão costuma-se designar egrégora.
Voltando às formas monstruosas que existem no planeta, temos que a co-criação em plano menor amolda não somente seres patogênicos microscópicos, como também leva a degenerescências macroscópicas. Quem tenha se detido em observação ao Dragão de Komodo certamente sabe do que se trata. Cuida-se de verdadeiro monstro, dotado de enorme força física, tamanho, peso e forma horripilante. É bastante ágil para seu porte e ostenta em sua saliva uma hedionda população de bactérias simbiontes que levam ao apodrecimento da presa. Assim, caso a presa já não sucumba de imediato, escapando à sanha do réptil, logo depois será alcançado já sob os efeitos da baba pútrida que ficou nos ferimentos. O Dragão localiza a presa para o jantar prazeroso, em meio às chagas purulentas, num quadro nem um pouco belo no concerto da teia alimentar. Nem mesmo o mais empolgado neo-darwuinista consegue compreender que a natureza necessite de uma forma de vida tão abjeta para o equilíbrio da Biosfera. Veja-se que os decompositores em geral, tanto quanto os metazoários representantes do último nível trófico, conquanto se alimentem de corpos em decomposição o fazem sob a serenidade com que a natureza constrói seus fenômenos normais. Aliás, algumas aves de rapina ostentam formas bonitas, realizando o seu papel ecológico sem maiores alardes. Vale dizer, não depredam suas "presas" reduzindo-as a cadáveres pútridos como meio comum de obtenção de alimento; simplesmente compõem o nível trófico que ocupam esse nicho na natureza.
No outro extremo vemos animais cuja existência é uma dádiva de beleza e alegria. É preciso estar sob a rigidez de um coração empedernido para ignorar o vôo maravilhoso de um beija-flor, com seu batimento de freqüência inimaginável que torna suas asas somente visíveis, nesse momento, por uma câmera de obturador igualmente rápido. O olhar humano contenta-se em apreciar-lhes o orbital. A bela ave aproxima-se da flor com suavidade poética, sugando-lhe o néctar enquanto empresta sua mobilidade à estática planta sendenta por espargir sua estirpe em outras plagas. Assim completa-se a Obra nesse particular, sob o império do mutualismo que engendra num mesmo fenômeno seres de evolução tão díspares.
De fato, ninguém colocaria no mesmo estamento evolutivo um beija-flor e uma laranjeira. No entanto, o mesmo conteúdo de beleza está presente em ambas as criaturas, ou, melhor dizendo, em ambas as criações. As plantas, aliás, são-nos evidências esculpidas em carrara. A simplicidade das estruturas fisiológicas tornam o funcionamento orgânico um manifesto a denunciar o quão frágil é o nosso conhecimento científico. Árvores com dezenas de metros de altura ostentam vasos lenhosos e liberianos, na intimidade do caule, cujos calibres deveriam impedir a subida da água em razão de imperativos gravitacionais cuja superação é até hoje incompreendida pelos botânicos e biofísicos. Não nos esqueçamos das sequóias, que atingem comumente 90 metros de altura, algumas ultrapassando os 100 metros. Nenhum biofísico consegue apresentar uma boa hipótese que explique como a seiva bruta sobe por tal estatura.
Nesse ponto, façamos uma imersão oblíqua proposital.
Alguém se arriscaria a conversar acerca do tema Elementais sem temer ser taxado de visionário? Claro que me refiro a uma abordagem fora dos círculos de estudos espiritualistas mais aprofundados. Fora dos círculos de estudo, temas como esse soam sempre quais fantasias pueris de quem não tem muito o que fazer. É pena que seja assim. Até mesmo no meio Espírita não é raro acharmos quem considere esses assuntos como autênticos desvarios exóticos.
Sem embargo, não se cuida de desvario algum.
Na obra Iniciação, ditada ao médium João Nunes Maia pelo Espírito Lancellin, o mentor Miramez esclarece que, conquanto existam diferentes ondas de evolução, tais ondas se imiscuem, de forma que, e expressamente assim o diz, nós mesmos já fomos aquilo que se costumar chamar gnomos e fadas. Menciona esses dois elementais mas não exclui os muitos outros, servindo-se daqueles, por assim dizer, mais conhecidos, tomando-os como exemplos. Gnomos, fadas, salamandras, ondinas, tritões, silfos, sílfides etc, todos são elementais. Abstraídos os excessos da fantasiosa imaginação humana, os gnomos não vivem como personagens de romances infantis, em pequenas aldeias comportas por casinhas esculpidas em cogumelos. De efeito, não são Smurfs ou Strunffs. Mas existem mesmo. Os elementais são espíritos da natureza. São seres capazes de realizar um trabalho importantíssimo para que o plano físico possa existir. Mistérios à parte, os elementais promovem, realizam, influenciam, aceleram fenômenos naturais cujos desdobramentos aos olhos do homem comum não passam de encadeamentos de causa e efeito para os quais nada mais concorre senão o jogo de forças da própria natureza.
Retornemos à nossa monumental sequóia. Já destacamos a magia da natureza em levar até a folha apical a água absorvida uma centena de metros abaixo, pelas raízes. O observador não achará as forças que justificam a subida da água pura e simplesmente porque esse é um trabalho desempenhado por elementais que têm ciclo de vida na intimidade do organismo vegetal, implementando fluxos de energia para a realização do fenômeno fisiológico que a planta por si só nunca conseguiria realizar. Como já destacado, a Obra se aperfeiçoa sob o império de mutualismo que engendra num mesmo fenômeno seres de evolução bastante díspares. Não apenas no plano físico, mas também entre os planos físico e extrafísico, máxime na faixa vibratória imediatamente adiante aos limites do mundo tangível. O princípio vital que evolui no metafita necessita aperfeiçoar automatismos em escala ainda apequenada se comparada com os automatismos conquistados pelos metazoários. Tais automatismos devem ser amparados por seres mais evoluídos sob pena de falência e colapso dos meios em que o princípio experimenta aperfeiçoamento. Seria mesmo puro encantamento se a água subisse vários metros em vasos calibrosos unicamente porque a natureza assim o deseja. O modo como os elementais agem é ainda muito pouco conhecido, mas sabe-se que têm atitude e inteligência infantis, pueris. São brincalhões mas extremamente tímidos e dispostos a evitar que sejam percebidos pelas estranhas criaturas chamadas seres humanos.
Os elementais são dirigidos e compõem populações que se comportam como verdadeiros entes coletivos. Existem consciências empenhadas especificamente nessa coordenação. São almas que já deixaram atrás de si os limites humanos e se põem no concerto da Obra doando sua capacidade de gerir os fenômenos através dos pequenos elementais. Põem-se diante deles e são vistos como deuses, incitando um certo temor reverencial mas também uma espontânea fidelidade filial. Os elementais têm-nos em alta conta pelo carinho com que são tratados, sempre envoltos nas vibrações de paz e harmonia que os dirigentes espraiam à sintonia com que exercem sua escala de atuação. Gnomos atuam mais intimamente nos fenômenos da terra, principalmente nas gemações geológicas e estruturação das camadas. Aliás, a egrégora humana é tão desequilibrante que a ação dos gnomos tem sido importante no concerto de empenhado esforço da Espiritualidade Superior na manutenção da estabilidade planetária, reduzindo o mais possível fenômenos como tsunamis ou terremotos, que seriam muito mais freqüentes e devastadores. Os elementais que atuam no seio de vegetais bastas vezes são chamados duendes. Salamandras desempenham seu mister em fenômenos de combustão e produção de calor. Ondinas e tritões cuidam respectivamente dos fluxos hídricos dos rios e dos mares. Silfos e fadas cuidam dos fluxos aéreos. Fácil perceber que a designação elementais deriva da atuação nos quatro elementos fundamentais apontados pela Alquimia.
Aqui surge mais um ponto de extrema importância.
O neófito que se lança ao estudo sério do espiritualismo em geral, via de regra rejeita, até de forma ríspida, conceitos tidos como meros frutos do imaginário desenfreado de almas atormentadas. Exatamente assim se dá com o assunto elementais. Não há, salvo raríssimas exceções, estudante que não ria de quem manifeste crer na existência desse seres ainda tão pouco compreendidos. Conforme o estudo progride, duas possibilidades se apresentam. Ou o estudante continua e aprofunda os seus estudos ou mantém-se no conhecimento epidérmico em que a maioria se detém. Nessa hipótese, o estudante permanecerá firmemente arredio a quaisquer teses que apontem no sentido da existência desse ou daquele fenômeno que ele, do alto de sua arrogante e orgulhosa sabedoria, cuidou de banir de suas cogitações. Entretanto, caso progrida nos estudos, certamente começará a experimentar um certo aborrecimento quando teimosas questões insistirem em surgir aqui e acolá, quase sempre ao contrafluxo das concepções até então sedimentadas. Mas o estudo, essa iluminada bênção de Deus, dá luz ao caminho e o estudante termina por dobrar-se em considerações antes inimaginadas. O estudante estará, então, a um passo de completar o ciclo de afastamento e retorno a certas verdades que só o tempo e o estudo permitem concluir.
Os elementais, como já observado, desempenham importantíssimo papel no concerto dos fenômenos naturais, inclusive no funcionamento fisiológico dos metafitas. Com os metazoários, até onde podemos compreender, não há interação maior em face das conquistas já plenas do ser na seara dos automatismos fisiológicos. Consoante André Luiz, a Vida condiciona atração e repulsão no mineral, sensações no vegetal, desenvolve instintos no animal e condiciona conduta no homem. Temos, então, que os vegetais, mesmo as mais frondosas árvores da estatura de cormos com mais de um século de idade, não experimentam individualidade conquanto a Vida esteja também ali em evolução. O princípio vital avança na senda evolutiva, sem dúvida, mas não se confina nos limites da individualidade, como a conhecemos. Com os metazoários em geral, queremos crer, a individualidade alcança contornos mal definidos. Poucos seres humanos ignoram como os cães são, cada um, um ser muito próprio. Quanto mais proximidade o cão tem com o homem, mais e mais particularmente se define em um todo individual. O cãozinho de estimação de uma família, tratado desde pequeno com carinho, chega a desenvolver uma afinidade tal com seus "donos" que o eventual falecimento daquele que lhe é mais chegado pode causar-lhe uma tristeza tão profunda que a morte também dele desponta inevitável. O cão, não há quem negue, experimenta e demonstra grande alegria com a atenção do dono, pondo-se choroso entre gemidos sempre que dele recebe reprimendas ou agressões. Esse mesmo cão poderá vir a atacar um estranho que dirija violência ao seu dono, protegendo-o com destemor. Ficou famosa uma pequena e magrela cadela que se lançou vorazmente contra um enorme pitbull que atacava a criança da casa. O evento foi noticiado na mídia televisiva intensamente, exibindo a penquena fêmea cujo instinto de proteção ultrapassou todos os limites dos imperativos de auto-preservação. A cadelinha ficou muito machucada, mas, para surpresa geral, barrou completamente a agressão do hercúleo canino que atacava. Eis que um metazoário que se desenvolve extremamente próximo ao homem exibe contornos emocionais, por assim dizer, forjados quais harmônicos do tom fundamental recebido. Ainda que sob amplitude menor, o fenômeno se estabelece sob a indução da tônica humana, incutindo no já maravilhosamente desenvolvido corpo emocional do cão as características milenarmente sedimentadas do corpo emocional do homem. O homem vem moldando o cão à sua imagem e semelhança, tanto que há de belo como no que diz respeito a nossas mazelas e desequilíbrios.
Mas há aí também um outro aspecto que desejamos abordar. Esse aspecto até retira um pouco da poética visão de nossa cadelinha heroína. Tanto quanto existem seres avançados que coordenam a atuação dos elementais, os metazoários também recebem a influência daqueles que são designados Espíritos-Grupos. Max Heindel oferece uma imagem que bem demonstra como é a atuação dos Espíritos-Grupos em relação aos animais que influenciam. Heindel acena com uma imaginária cortina vazada em alguns pontos de modo a permitir que os dedos das mãos seram introduzidos e surjam do outro lado. Quem desse outro lado observa somente vê e conhece a realidade dos dedos à mostra, desconhecendo a consciência que coordena todos os dedos às ocultas. A consciência em questão é a do Espírito-Grupo, sendo os dedos a população de animais que está sob sua coordenação. Essa imagem é muito boa porque evidencia que o Espírito-Grupo não tem consciência de toda a realidade imediata de cada animal, até porque cada espécime é um ser em evolução, que, assim, deve experimentar e reagir por si mesmo em relação ao meio-ambiente. No entanto, a coordenação do todo permite estipular padrões de comportamento adequados à melhor obtenção de resultados nas experiências evolutivas. Voltando à nossa heroína, temos que uma situação de grave perigo envolvendo um Espírito encarnado reclamou a ação defensiva do recurso que estava mais propício de ser utilizado pelas equipes de amparadores espirituais. A ação conjunta dos Espíritos em geral não deve constituir surpresa para nenhum estudante do espiritualismo. É muito provável que a pequena cachorra tenha sido lançada em defesa da criança por interação do Espírito-Grupo, certamente depois de rápida intercessão em favor da vítima. Mas isso não diminui em nada, por assim dizer o "mérito" do animal. Mostrou-se suficientemente evoluído para receber, aceitar e executar os estímulos enviados ao contrafluxo do milenar impulso de auto-preservação.
Novamente aqui uma porta estreita de cogitações deve ser aberta.
O cão que atacava a criança certamente não pretendia executar uma ação destruidora por prazer. Atendeu a impulsos também milenares que o habilitam a atacar e comer no concerto do comportamento dos predadores em geral. Ora, mas não foi uma pequena cachorra, daquelas domesticadas e cheias de ternura, que partiu em defesa da criança? Já dissemos que sim. Por que o Espírito-Grupo não interagiu diretamente com a fera, retirando-lhe o ímpeto de ataque? Não teria sido mais fácil? Ocorre que a fera, enquanto fera, pode até receber mas não aceita nem muito menos executa estímulos alheios quando está sob o império dos impulsos que sedimentou nos evos de auto-preservação. Talvez em situações menos drásticas até inicie-se a assimilação de impulsos mais refinados, mas não em meio às chamas da adrenalina. Foi realmente necessário lançar-se mão de um ser muito mais sofisticado do ponto de vista emocional. O cão que se estreita com pessoas carinhosas progressivamente adquire recursos emocionais que se conformam ao embalo das conexões estímulo-resposta sob o refino dos padrões de vibração mais elevados. Daí porque habilitarem-se esses cães a condutas que muitas vezes parecem inexplicáveis quando analisadas estritamente do ponto de vista ortodoxo. A cadelinha heroína tinha recursos em seu corpo emocional que a fera não ostenta. Mais uma vez, temos que a beleza é um atributo da evolução.
Se o considerarmos um ser resultante dos desequilíbrios espirituais do planeta, é-nos lícito imaginá-lo sob a coordenação de um Espírito-Grupo? Essa é uma questão que nos remete a uma face assustadora da realidade planetária.
Sabe-se que há populações inteiras de desencarnados vivendo em determinadas faixas de vibração inferior sobre a crosta da Terra. Também abaixo dela, mas essa é uma outra questão a um dia ser arrostada. É um ledo engano imaginar que os Espíritos ainda não devidamente condicionados a uma conduta mental salutar seja sempre meros sofredores que se arrastam por cenários pantanosos e trevosos forjados pelo desequilíbrio coletivo daqueles com quem se afinam. As regiões trevosas existem, sem dúvida, mas somente os desequilibrados sem conquistas consideráveis da inteligência se permitem demorar nos meios tormentosos e perturbados que a mente dos alienados amolda no fluido circundante. Há populações inteiras de Espíritos que habitam as regiões inferiores, sim, mas em cidades extremamente organizadas e sob o comando de um líder que, geralmente, governa com punho muito forte. Há quem ali viva por livre opção, de uma certa forma "feliz" na medida em que bem se ajusta àquele padrão de vivência. Outros tantos lá se demoram por absoluto comodismo, desfrutando da proteção que os limites da cidade oferece em relação ao meio externo, amoldado em formas-pensamentos atormentadas. E há também os que lá estão aprisionados, uns com alguma liberdade, outros efetivamente restritos em cárceres ou mesmo masmorras e sob tortura. Dentre estes últimos há os prisioneiros de todas as espécies. Inclusive aqueles tidos como criminosos. Sim, existem aqueles que romperam com o código de conduta exigido dos habitantes, sendo, pois, considerados delinqüentes mesmo ali, em uma cidade construída por Espíritos que se apartaram voluntariamente da senda de condicionamentos éticos elevados. Nesse contexto de seres bem organizados há também os que se põem diante dos fenômenos do mundo julgando-se legítimos co-criadores e senhores de realizações planetárias. Enfim, existem sim Espíritos-Grupos que influem diretamente sobre formas atormentadas. É o caso dos Dragões de Komodo? Não o sabemos. No entanto, não é fácil imaginar um ser de alta estirpe coordenando um ser com tais características.
Mais uma digressão se impõe.
É do conhecimento mais ou menos comum dos espiritualistas em geral que facções de Espíritos extremamente bem organizados e desviados do aprimoramento moral existem e atuam largamente na Terra. Há um grupo denominado "Donos do Mundo", estratificado, que se lança atividades de perseguição, aprisionamento e punição daqueles que eles elegem como delinqüentes. Uma monumental corte preside o julgamento. Obviamente, os que aí são "julgados" são aqueles cuja afinidade com o padrão vibratório lá reinante assim o permite. Há, então,algo muito interessante. Inúmeros dos "réus" são mesmo consciências carregadas de culpas. São postas diante de um "juiz" e passam a acreditar que tudo ocorre sob a bênção de Deus. Tanto os Donos do Mundo como os "réus" reforçam em si a sedimentada idéia de que o julgamento é legítimo, como legítima é a punição imposta. Ora, considerando que tudo o que ocorre somente ocorre porque Deus o permite, não estão de todo errados. Como afirma Eliphas Levi em seu Dogma e Ritual de Alta Magia, o mal existe para triunfo do Bem. Deus é mesmo onipresente, demarcando nas Trevas o seu bastião de Luz.