Permanecem inúmeras polêmicas acerca da reencarnação em debates travados por aqueles que nela creem e os que a repudiam. Talvez a base dessa divergência, que faz pessoas debruçarem-se sobre textos e textos anotando indícios favoráveis e contras, seja a noção vulgar que se espalhou do fenômeno da palingenia.
Mesmo sem (sequer) tentar esboçar maiores cogitações de cunho místico, nem adotar essa ou aquela corrente espiritualista como "dona" da verdade, é possível ao menos ter em consideração que a reencarnação NÃO significa que a mesma personalidade, a mesma pessoa, o mesmo ego, se manterá em renovadas experiências no plano físico.
Pensemos no homem durante uma única jornada de vida intrafísica. Tomemos, de empréstimo, os ciclos setenários. Uma pessoa aos 7, 14, 21, 28, 35, 42, 49, 56 anos de idade, por exemplo, certamente não pode ser considerada como detentora da mesma personalidade. Acho que ninguém discordará disso. E estamos falando de uma só vida física. O garoto de 14 anos em nada se parecerá, física e emocionalmente, com ele mesmo aos 56 anos de idade.
Temos uma sequência de "reencarnações" (notem as aspas!) no transcorrer de uma mesma vida. Nascemos aptos a absorver ensinos e, com o passar das experiências vividas, vamos edificando nosso arcabouço de traços de personalidade.
Quando o Espírito deixa o plano da matéria pesada por morte do corpo físico, voltando à condição de consciência extrafísica (sua condição originária, diga-se), não será exatamente a mesma pessoa. Conforme suas características individuais, terá maior ou menos expansão de sua consciência, retomando bagagem anterior. Verá a si mesmo, inclusive, com maior clareza --- salvo se tratar-se de consciência submetida a um período, menos ou mais longo conforme o caso, de confusão ou apego a conceitos da vida física que levava, já não mais adequados à sua nova realidade.
Seja como for, demorando mais ou menos, após a morte do corpo físico a consciência terminará agregando em si aprendizados anteriores, experiência anterior, valorações cosmoéticas de maior nitidez.
Já se comparou a sequência de reencarnações a uma roda que gira sem parar até que o ser não mais precise de experimentar vidas físicas. Outros comparam às contas de um grande colar, ligadas por um fio que mantém a bagagem anterior.
De minha parte, acho mais interessante pensar que o Princípio Inteligente adquire sua plena individualização no plano físico. A centelha de vida desce até sua individualização máxima no plano da matéria densa e, depois de conquistar aprendizado suficiente, retoma a ascensão aos planos mais sutis, levando consigo todo o acervo que passará a usar na conquista da expansão de sua consciência.
Tudo isso apenas para dizer que, realmente, de fato, quando textos bíblicos dizem que o homem não nascerá de novo, que o homem tem só uma vida, é verdade.
O homem é a expressão de uma consciência plenamente individualizada e ambientada no plano físico. Cada vida cuida de aprimorar a consciência através da experiência como um homem, aquele homem que vive aquela vida. Esse homem não nascerá de novo, mas sim a consciência que, através dele, verteu para si experiências e aprendizado.