Ao mesmo tempo, o princípio inteligente precisa da Vida para se desenvolver.
Desde a sinfonia de atração e repulsão nos minerais, a Vida desenvolve-se em progressão. Eis aí o ponto mais baixo (em termos de vibração) em que o fenômeno Vida engendra o Verbo no cumprimento da Vontade do Criador. Evos se superam e o princípio inteligente, migrando em ascensão no aprimoramento de si e por Si, atinge uma fase em que a Vida se manifesta no padrão mais complexo possível nos limites do mundo da matéria (refiro-me à matéria física, ponderável; não me refiro ao plano semimaterial, etéreo, etérico, astral etc).
A partir daí (em algum ponto) dá-se a humanização. O princípio inteligente, que progrediu desde sua emanação através da conjunção do princípio vital com a matéria, adquire a noção de si mesmo, a individualidade, a consciência contínua de ser "algo" distinto de todo o resto.
Esse é o ponto em que inicia-se o "reinado de Maya".
Veja-se que só tem sentido falar-se em "ilusão" como efeito de maya no ser individualizado. Não existe, objetivamente, uma ilusão. Existe, subjetivamente, a ilusão.O princípio inteligente consciente de si enquanto ser é o que chamamos "Espírito". Simples e ignorantes, os Espíritos não são acéfalos nem autômatos. Na verdade, têm desde o início uma complexa noção: a noção do "eu". Esse "eu" é o que as doutrinas orientais (e ocidentais enraizadas no oriente) chamam de "Ego".
Adquirir a noção do "eu" é comer do fruto do conhecimento. É ser seduzido pela Serpente. É o "pecado original". É saber-se nu e ter vergonha --- início do senso subjetivo/objetivo de valoração. Inicia-se a dualidade: bom/mau, bem/mal, certo/errado, feio/bonito etc etc etc...
Os Espíritos nascem simples e ignorantes. Sim, são Espíritos infantis. São Espíritos iniciando seu aprimoramento enquanto ser. Nada é mais infantil e decorrente da noção de si do que o "desejar" e, por extensão, o conceito de "meu". Assim, a ilusão de que devemos nos desvencilhar é o desapego integral de tudo o que podemos agora identificar como sendo meramente fruto do personalismo natural e saudável do ser infantil. É procurar as coisas do Reino de Deus. Vejam que o ensinamento, por ter sido dado a Espíritos ainda infantis, conquanto um pouquinho menos verdes, remete logo à promessa de recompensa: e tudo o mais virá por acréscimo.O Pai bem conhece nossas necessidades... Realmente, quem não sabe o que é bom para seu filho ainda pequenino? Quantas broncas não damos em nossos pupilos para acertar-lhes o comportamento, equilibrando o rigor do ensinamento com o carinho e os mimos que alegremente concedemos aqui e acolá?
A ilusão é o sonho de criança que existe em cada um de nós. Somos, quando muito, pré-adolescentes (eu diria, muito rebeldes) que se apegam sobremaneira nos desejos infantis, com medo de perder o prazer imenso e incompreensível que os desejos propiciam... Nós podemos compreender o que é a "ilusão" da mesma forma que o pré-adolescente, no recesso de seus mais íntimos pensamentos, sabe que não poderá manter todos os prazeres personalíssimos que a infância, deliciosamente, permite...
Isso se coaduna com o fato de existirem os mundos de regeneração, nos quais há bem menos ilusões, mas ainda não desapareceu o personalismo de quem foca sua mente mais no próprio umbigo do que no semelhante...