sábado, 20 de agosto de 2011

Sem diferenças não haveria igualdade...


Estar em harmonia é muito mais do que pretender o reducionismo de um acorde isento de dissonâncias... Ao contrário, os arranjos mais ricos da sinfonia em que o ser avança traz sétimas aumentadas, quintas diminutas, transcendendo a impressão primária de um coro uníssono com a enarmonia do canto dos Anjos.


Muito mais tranquila é a rota dos que se guiam com os olhos fitos na bússola confiável. Muito mais rica é a travessia dos que descobrem os caminhos.


Até mesmo no uso simples dos fonemas que aprendemos a reconhecer como palavras e ideias subentendidas, vemos o ser humano digladiando-se pela impressão de maior sensibilidade de certos estilos, formas, expressões. Um acorde dissonante, solto no ar à ausência da sinfonia em que se legitima, não traz senão um vibrar de dor e fealdade. No entanto, a mesma dissonância importa no prantear de uma melodia que, desnuda dessa roupagem de emoção, pouco mais que um simples assoviar seria.


Ainda assim, a orquestra que nos envolve a todos neste concerto cujo Maestro sequer entrevemos, dota-se tanto do flautim agudíssimo que desagrada na solidão, como dos timbalos que, nos limites de sua simplicidade, apenas ressoam como os trovões.


Os clarinetes, no registro grave de sua soturna fluência, ostenta o timbre aveludado que as demais palhetas sequer ousam imitar.


Mas somos, todos, em conjunto, a própria orquestra... Ninguém é mais ou menos importante, subvertendo-se a noção, ainda tão comum, de que o spalla, empunhando sua madeira brilhante e de reluzente verniz, faria mais falta do que o percussionista. Ravel jamais nos tocaria a alma no cíclico movimento de seu impecável "Bolero" não fossem as baquetas que repercutem no couro variando enormemente a intensidade sem, contudo, mudar o ritmo do início ao fim.


Mas o ser humano ainda se condói por divisar os limites de sua condição atual, contrastando com os demais em aspectos que, muitas vezes, sequer têm importância para o invejado paradigma.


Amemo-nos em nossas diferenças. Mais que isso. Tenhamos em mente que, não fossem essas diferenças, sinfonia alguma haveria. 
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