domingo, 10 de julho de 2011

Abra sua mente às ideias estranhas

Existem verdades cuja maior virtude é nos fazer conscientes de que nada é mais ilusório do que uma certeza. Pensemos na física newtoniana. Basta a leitura de um livro de divulgação científica sobre física relativística ou mecânica quântica para nos darmos conta de que a física newtoniana, perfeita para a experiência comum do ser humano, nada significa para os fenômenos do macro ou do microcosmo.

Nada significar, aliás, chega a ser um eufemismo. A física newtoniana, arrastando consigo nossas mais sedimentadas convicções, desce pelo ralo quando o tema é a relatividade ou a física subatômica.

Newton faz com que simples mortais, como eu, sintam-se ameboides... Por exemplo, desenvolveu o cálculo diferencial e integral porque precisava de uma ferramenta matemática para expressar o seu raciocínio. Até hoje tenho dificuldade em resolver problemas matemáticos sobre limites e derivadas. Talvez deva me considerar pouco menos do que uma ameba perto de Newton...

Mesmo assim, nada do que genialmente ele compreendeu do universo serve para o macro ou para o microcosmo. Graças a Deus não precisamos ser físicos teóricos para conhecer ao menos os conceitos rudimentares da física do macro e do micro. É como uma vingança. Não chego nem perto de Newton mas sei que toda a sua genialidade não impediu que Bohr e Einstein viessem para revogar o caráter absoluto de sua física pretensamente onisciente. Claro que a minha distância de Newton é menor do que a que me separa de Einstein ou Bohr... Melhor nem comentar que esses dois gênios não concordavam em nada...

Enfim, o que nos interessa, aqui no substrato do QI normal, é que uma verdade só vale dentro de certos limites.

Estamos falando de uma ciência estruturada e submetida ao mais rigoroso método depurativo de comprovações de toda ordem. Nada disso impede que existam verdades e verdades. Que poderíamos dizer das questões transcendentes? Será que merecem melhor sorte as ditas verdades sagradas? Duvido muito...

Chamo verdades sagradas a todos os postulados que, seja por que motivo for, estejam em algum recipiendário da crença humana. Não apenas os postulados religiosos, como também aqueles que aceitamos por nos bater com foros de verdade.

Concordo que não tem nenhum senso prático discutir, por exemplo, sobre a Divindade... O homem cria Deus à sua imagem e semelhança desde sempre. Não poderia acrescentar nada.

Contudo, dentro dos limites de nossa capacidade interpretativa, em homenagem ao sentido essencial do termo inteligência, proponho que tenhamos por orientação fundamental que tudo é relativo. Claro que a simples frase tudo é relativo é, por si só, um postulado absoluto; mas, tudo bem, já que não desejamos ficar oscilando no pêndulo de nossas paupérrimas possibilidades de comunicação.

Veja-se que a Física bem nos mostra o aspecto cíclico do desenvolvimento do conhecimento. Uma concepção inicialmente tida como absurda costumeiramente acaba sendo aceita posteriormente, sob novos fundamentos. Insisto, isso ocorre com a Física.

Ora, por muito mais forte razão, nas sendas do conhecimento desprovidas do rigor do método científico, devemos ter por premissa que ideias aparentemente absurdas podem, sim, ter fundamentos que, apenas e tão somente, ainda nos são desconhecidos.

Da mesma forma, tanto quanto os cientistas ofertam explicações o mais completas quanto possível, momento a momento no desenvolvimento da ciência, os buscadores das verdades espirituais devem sempre ter em mente que os conceitos e explicações, sejam de que mestre sejam, devem ser aceitas como o que nos cabe momento a momento no desenvolvimento do ser humano.

Nem Isaac Newton nem os mestres mentem.

A diferença entre eles é que o cientista limita-se por si mesmo, enquanto que os mestres respeitam-nos os limites. Porém nenhum deles pretende que seja alguma forma de sacrilégio buscar além do que está, em cada momento, esclarecido.






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