Perdoar... Temos a renitente mania de imaginar que perdão seja algo magno que concedemos a um semelhante cuja conduta nos tenha atingido por força de sua inferioridade...
Imagino que perdoar, em essência, é não permitir que o ato nos desperte o personalismo em tons de revolta, ira ou desejo de vingança.
Na verdade, sempre que perdoamos alguém como uma "doação de amor", estamos, a bem da verdade, polindo nosso ego com o ideário de uma mal dissimulada vingança fundada no desejo de esfregar-lhe à face nossa superioridade.
Se alguém nos comete uma agressão, física, moral ou ambas, é perfeitamente natural que nosso imenso acervo de instintos, notadamente o de conservação, seja acionado remetendo-nos a reações de fuga, luta ou simplesmente raiva.
O erro não está em sentir os efeitos que a evolução nos amoldou por necessidade de sobrevivência. O erro está em cultuar esses efeitos na realização de condutas desnecessárias (se forem necessárias, serão mera defesa), iniciando um projeto de vingança que, como dito, poderá ser até mesmo uma requintada atitude de falso perdão, na verdade uma encenação enunciativa do grau de inferioridade do agressor.
Certa vez já se disse "let it be"...
Quando formos agredidos e não houver necessidade de desforço imediato para afastar a agressão (temos o dever de manter nossa integridade), amaremos verdadeiramente nosso "inimigo" através do perdão real: falar é prata, calar é ouro. Deixe estar... Isso sim exige desprendimento.
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