quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Jesus... Mais uma vez, meditemos.

Assista:


Apertada síntese: ficam os Ensinos.

Para pensar: Hebreus (monoteísmo) - Gregos (cultura) - Romanos (dominação)

Agora, esclareça-se:


A verdade vos libertará... O mundo egípcio foi absorvido pela cultura hebréia.

Pois bem... Ao contrário do que parecer possa, não se pretende destruir a fé cristã, mas sim desconstruí-la. Tomemos cada parte desse imenso quebra-cabeças. Conservêmo-los como devido. Refaçamos o caminho das pedras.

Gandhi disse que se toda a literatura ocidental de perdesse e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada se teria perdido. Ou seja, com ou sem uma histórica sequência de plágios, cópias e adaptações, é inescondível que há um conteúdo esclarecedor nos Ensinos assim transmitidos.

O mundo ao tempo de Jesus tinha seus próprios valores. Os homens pensavam e agiam de acordo com uma moral muito diferente da que hoje cultua-se nas mais variadas religiões ou teologias.

Primordialmente devemos nos lembrar de que observar o ensino cristão NÃO significa ser católico nem evangélico, nem espírita, nem coisa alguma. Apenas significa que o sujeito está se debruçando sobre o conteúdo de cada ensino. Gandhi - figura humana recentíssima - bem notou a essência pacífica da ética cristã.

Acho mesmo que, para alguém que se devote no auxílio desta humanidade, pouca importa citar Jesus, Hórus, Mitra ou ainda outro, como "autor" da verdade atemporal.

Mas continuemos em busca do esclarecimento. Não nos deixemos levar pela sedução da renúncia à nossa destinação maior: CONHECER. É preciso assumir totalmente a responsabilidade pelo leme de nosso barco.

domingo, 23 de agosto de 2015

O Paraíso Perdido

No último post, falamos sobre uma certa gota dispersa no ceio do oceano. Cada um de nós é assim. Pensamos e pensamos, meditamos por anos a fio exatamente sobre esse aspecto da existência, ainda que sob variados coloridos, terminologias, consoante a corrente com que mais nos indentifiquemos.

É muito difícil para o ser humano, ainda sob os rigores da restrição máxima que o plano físico enseja, aceitar livremente que não tem, a rigor, uma identidade absoluta. Desde cedo aprendemos que somos aquele alguém com determinado nome, família, jeito, gostos, capacidade etc. Aquele alguém que prontamente identificamos no espelho do banheiro todos os dias.

É de várias doutrinas mais ao leste que a consciência humana se entende, no físico, naquilo que chamam de Ego, diferenciando-o do Eu verdadeiro, superior, que preside aos fenômenos gerais do ser. O Ego é esse alguém que você chama de si mesmo, apesar das referidas doutrinas alardearem que ele é tudo, menos o seu Eu verdadeiro.

É muito difícil definir esses aspectos essenciais do ser através de palavras. Basicamente, quando há a restrição total que permite a individualidade total do ser, a vida no plano físico, plano das formas, há também a atuação de um foco consciencial engendrado em tais restrições a fim de permitir o funcionamento do Eu superior no plano especialíssimo que é a imersão na matéria densa.

Pensemos em termos de computação. Se uma realidade virtual há de ser estabelecida através de um programa, a fim de permitir que o usuário do computador atue largamente, digamos, no seio granítico dos minerais mais densos, ali vivendo como se tal fosse seu habitat normal, certamente o programador pensaria em restrições mil, enredando-as com atribuições tais que pemitissem a esfera máxima de liberdade para os cometimentos necessários naquele meio.

Todas as limitações, decorrentes da restrita atuação do robô com que atuaria no mundo mineral, deveriam ser tais que permitisse ao usuário sentir-se como que um só com o robô controlado pelo programa, de modo a permitir-lhe plena adaptação e conforto para agir. O mais relevante: uma longa série de modos de operação deveria ser automatizada para que o usuário não precisasse ter que reaprender a como agir diante dessa ou daquela ação somente factível sob determinada disciplina de ação. O programa teria que ter rotinas prontas, acionáveis pela vontade do usuário ao iniciar determinado concerto de atitudes. Essas rotinas seriam autoprogramáveis, incorporando métodos e variantes conforme a ação se desdobrasse, enriquecendo o estoque de possibilidades automatizadas no correr do tempo.

O programa, ainda, deveria ter uma parte residente fiscalizando todas as ações, de modo a optar pelas rotinas pré-programadas com preferência à escolha do próprio usuário, ao menos quanto à ordem de assunção.

O usuário poderia, caso insistisse em opção diferente da pré-estabelecida, modificar o regime de ação, mas somente à conta de esforço por fazer isso ou aquilo vencendo a resistência natural do sistema concebido para reagir de determinada forma.

Conquanto assim se fizesse, com o usuário do programa agindo e interagindo com o robô enfiado no seio mineral, não teria sentido pensar que o robô é um ser à parte, com vida própria, em substituição ao usuário, para si abstrato, distante e não plenamente identificável.

Do mesmo modo, o Ego (o robô e seu programa de rotinas próprias) não é um ser autossuficiente e absolutamente apartado do Eu superior (o nosso usuário de computador). Mas tem, sim, vontade própria e determinante na maioria das vezes.

Atuar livremente no seio mineral, para um homem, é como, para o ser espiritual, estar em estado de manifestação através de um corpo físico, vivendo no plano das formas.

Mas nosso exemplo, nossa fantasiosa analogia, é paupérrima em relação ao Ego e ao Eu superior. O Ego é senhor quase absoluto das reações do ser encarnado. Tanto que você realmente pensa que é o seu Ego. Demonstra muita dificuldade de aceitar que há um Eu superior que se manifesta no plano das formas através de um instrumento sofisticado chamado Ego. E mais, o Ego é tirânico ao impor suas vontades, suas escolhas. Arrisco-me mais, asseverando que o Ego é o protagonista de toda a obra de Milton, Paraíso Perdido, revoltado e em franca animosidade contra os chamamentos que vêm do Eu Superior.

Mas nossa analogia não é tão ruim assim. O programa somente pode ser posto a funcionar se tanto o usuário como o hardware utilizado forem suficientemente aptos aos fins. Isso significa que o Ego somente existe porque o Eu Superior e seu aprendizado na fase de existência física permitem esse complexo sistema de atuação.

Somos uma gota no seio do oceano. Somos o chamamento superior à forma de manifestação que temos no plano físico. Somos mais que o corpo e nossa mente. Transcendemos o corpo e nossa mente tanto quanto o usuário transcende o robô e o programa utilizado.

Não é que tenhamos que perder nossa individualidade; de fato, tal individualidade jamais foi mais que um instrumento para aprimoramento do Eu Superior. Não, não se angustie. Tal ansiedade é fruto, tão-só, da resistência do Ego à aceitação de que não é mais que um coadjuvante nesse imenso teatro da vida.

Bem por isso, há milhares de anos, flui o ensinamento de que devemos transcender o nosso Ego.

Devemos acorrentar o diabo e prendê-lo no abismo das formas, que é o seu lugar.



sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A Unidade

Sim, já bem o alinhavamos, nossa consciência é um foco de inteligência que, sabedor de si mesmo (ainda que sob severas restrições de alcance), delibera livremente sobre o que faz ao sabor do que deseja. Muita gente já o alertou: quando alguém deseja verdadeiramente algo, mobilizam-se meios inimagináveis para que se concretize tal almejo. Mágica? Sim e não. Não se trata da transcendência de fenômenos em esfera supranormal, sobrenatural ou coisa que o valha. Mas, sim, há um imenso enredamento de causa e efeito, em sua maioria desconhecido, que move forças e circunstâncias apontando para o fim almejado. Pura magia, mas "magia" estritamente como designação poética para mecanismos naturais que mal começamos a identificar.

A consciência concebe todo o universo em que o ser se agita. Cada mente é a geratriz de todo um imenso teatro de vivência, ficando cada ser pensante, no que concerne às relações com outros seres pensantes, sob o império de vibrações sintônicas ou desarmônicas. O regime de ressonância traz a realimentação e fortalecimento de cada bolsão de vivências que se harmonizam. Vale relembrar o conceito de egrégora, enquanto padrão comum a miríades de mentes afins.

Pois bem. Podemos dividir qualquer coisa em partes conforme se nos pareça mais adequado à análise constitutiva. Já se disse que o ocidental olha uma árvore e vê um conjunto de elementos - raiz, tronco, galhos, folhas etc. Já um oriental vê simplesmente uma árvore. Não há acerto ou erronia aí. Mas - é inevitável - devemos ponderar que uma árvore somente é uma árvore enquanto dotada dos elementos mínimos à sua identificação conceitual. Se tirarmos os galhos, folhas e raiz, não será mais uma árvore. Mas se tirarmos apenas as folhas, sim, será uma triste planta, mas ainda será uma árvore. Da filosofia rudimentar tiramos que "essencial" é tudo aquilo sem o que não mais é. Há, então, como que uma gradação. Conforme tiramos um elemento, saberemos se ele é ou não essencial caso a coisa em si se descaracterize ou não. Um carro sem pneus continua sendo um carro. Mas e se lhe tirarmos todo o sistema de embreagem? Entra aí mais uma ponderação necessária. Por facilitação de linguagem, de mera comunicação, é comum abstrairmos se houve ou não perda de elemento essencial. Continuamos a designar a coisa como ela é quando presentes todos os elementos constitutivos. Assim, um carro sem motor, por exemplo, continua a ser designado como "carro". Mas, um automóvel sem motor é, de fato, um automóvel? Claro que não. Do mesmo modo, considerando os carros em geral existentes, se lhe tirarmos todo o sistema de embreagem, poderá ele desempenhar sua finalidade essencial? Não. Mas se tirarmos o estepe, ou os faróis, ou mesmo os vidros, continuará ele - independentemente do caráter imprudente de tal ato - passível de direção e progressão no terreno. Não importa, tampouco, se há regras (leis ou normas impositivas quaisquer) que exigem a presença desse ou daquele elemento.

Enfim, retornando ao contexto original, a ressonância entre mentes sob o padrão da egrégora correspondente se dá pelos elementos essenciais do conjunto de pensamentos que o ser emite. Não há necessidade, pois, que as mentes tenham quase idêntica conformidade, mas tão somente que haja uma base comum de gostos, opções, valores, pretensões, tendências etc. É nesse concerto que a noção de UNIDADE há de se construir. Vêem-se muitas elucubrações afeitas, de modo simplista, à mera igualdade de tudo perante tudo. Somos todos um, é o que se costuma dizer. Sim, mas, deveras, não há uma identidade plena e total entre as mentes que compõem uma egrégora e, menos ainda, em face da mente (ou das mentes) que compõem o plano mais elevado do qual somos emanações individualizadas.

O conceito de Espírito-Grupo vem bem a calhar. A mente de uma humanidade espraia-se por todos os seres humanos que a compõem. Há um ser do qual, num dado instante da Eternidade, centelhas partem e peregrinam em jornada descendente até o plano das formas, experienciando vívidas progressões na dimensão física, retornando à via ascendente para aprimorar a Vida em estamentos mais elevados com a ampla bagagem que garante ao todo universal implementar a Evolução em todos os ciclos que se sucedem.

Pense bem. Quem é você? Imaginemos uma pessoa com, digamos, 60 anos de idade. Ela pode se recordar de boa parte de sua infância, juventude, maturidade e início da velhice. Em cada degrau a mesmíssima pessoa é um ser bem diferente. Na maturidade quase não guardamos semelhança alguma com a criança de ontem, conquanto a velhice nos devolva alguns bons predicados, ainda que sob outros matizes. Ora, estamos falando de uma mesma pessoa no âmbito de uma única vida. 

Ainda por outra, já tentou perscrutar seus pensamentos antes de dormir, quando se deixa prostrar em descando ao aguardo do sono reparador? Os pensamentos fluem - é até difícil reconhecer - independentemente de nossa vontade. Alguém já comparou a mente a uma jaula com macacos. Você pode até efetivamente controlar um ou outro, mas jamais controla um grupo deles, todos em efervescência ao mesmo tempo.

Então, por que deveria causar estranheza o fato de sermos, nós mesmo em cada um de nós, individualmente, a expressão de uma mente maior que aglutina os nossos semelhantes, no contexto de uma egrégora, e se submete a outra mente, ainda maior, que aglutina todos os seres humanos?

Essa ideia é menos estranha do que os postulados básicos da Mecânica Quântica. 

Sinto muito. Bem-vindo à realidade de quem vive como uma gota dispersa no seio do Oceano.

Falaremos mais sobre isso.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Universo e Consciência

Por mais que se fale a respeito, continua obscura a noção geral de que a realidade é um conceito relativo e restrito à percepção da cada sensiente. Ao vislumbrarmos o ambiente à nossa volta, por exemplo, seja em casa, num passeio ou em meio à azáfama do trabalho, não teremos mais que uma enxurrada de estímulos nervosos partindo da superfície do corpo, das cavidades nasais, dos ouvidos, das papilas gustativas e dos olhos em direção ao cérebro, centro de processamento de todos esses impulsos. Constrói-se na mente uma leitura dos dados, delineando-se formas e sensações que, a rigor, não passam da transcrição sensorial dos dados originais. Não há diferença essencial entre tal mecanismo fenomênico e o funcionamento de um processador eletrônico de dados, isto é, um computador. Se Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, o homem cuidou de criar o computador sob os mesmos gabaritos.

Então, a pergunta antiquíssima sobre a essência da realidade ganha reforços robustos com a informatização da sociedade. Ao invés do senso pragmático e alheio às cogitações mais abstratas, a vida hodierna nos lança à face o imenso enredamento ilusório que reveste todo o nosso universo mental. Basta observar as crianças de hoje e seu imenso traquejo ao lidar com pessoas, cidades, países e mundos inteiros no seio de jogos cada vez mais semelhantes à sua realidade imediata. Mentes juvenis, têm maior plasticidade do que a dos adultos, maduros na vivência mas cristalizados em aspectos variados que o senso prático cuida de cunhar sob os imperativos das demandas inadiáveis da vida comum.

Mesmo para os menos jovens, existem impressionantes simulações como, por hipótese, determinados programas que permitem viajar pelo interior do corpo humano. Podemos estudar a anatomia e os fenômenos fisiológicos literalmente olhando para seu desenrolar, com opção de ângulo, repetições, enfim, tornando até difícil imaginar como alguém poderia ter aprendido sobre tais coisas sem esses recursos. É muito mais fácil estudar geometria espacial olhando para os sólidos bailando na tela ao nosso livre talante. Mesmo estudos mais apurados, como fenômenos tocantes à Relatividade ou à Mecânica Quântica, saltam aos olhos nos modelos gráficos que ganham vida através de imagens programadas sob requintado tratamento e alta definição.

Não muito distante está o tempo em que estaremos inseridos na cena estudada, tomando-a em nosso entorno ao sabor de hologramas que vão colocar o usuário como partícipe do estudo. Não é difícil imaginar que roupas adequadas ou sensores bem aplicados, seja como for, trarão na mesma proporção a sensação tátil que eliminará, de vez, a sensação de ser apenas uma simulação.

Eis aí a, assim chamada, “realidade virtual”. Instrumento preciosíssimo para a atuação em finíssima sintonia de equipamentos controlados pelo homem diretamente pelo movimento de seu corpo, com a nítida sensação de inexistir nenhum intermediário. Um robô poderá operar a milhares de quilômetros por uma pessoa que se sentirá literalmente incorporada no equipamento. O homem, sob a segurança de um ambiente protegido, operará o robô, por exemplo, a enormes profundidades para a realização de operações até então impossíveis. Ou então o homem estará virtualmente presente no equipamento, distante centenas de metros, que desmonta uma bomba. Ou ainda, estará no sistema que opera um paciente do outro lado do oceano, aplicando a mesmíssima refinada técnica cirúrgica de que só o médico humano distante é capaz.

As possiblidades de uso transcendem nosso poder de imaginação.

Vemos, pois, que a realidade virtual não é muito diferente da realidade efetiva de nossas percepções. Talvez não haja diferença senão meramente conceitual. Se eu olho e atuo através de sensores e “alguém” cibernético faz tudo o que eu estou fazendo, esse alguém cibernético, sob boa medida, não será outro senão eu mesmo. Não é difícil aceitar toda essa imensa modernidade que, décadas atrás, não era imaginada nem em filmes de ficção científica. 

Mas aí entra um ponto tão importante quanto simples.

Por que tantos aceitam com facilidade a realidade que se pode construir com programas e equipamentos, mas não aceitam que nós mesmos, nossa vida, nosso mundo, todas as coisas ao nosso derredor, são feitas exatamente da mesma forma mas com elementos diferentes?

O argumento central do filme “Matrix” é esse. Não há diferença ontológica entre a codificação que compõe um programa de computador na construção de todo um contexto e a codificação que compõe a informação que o cérebro traduz em som, imagem, sabor, cheiro ou tato. Não há mesmo. Bits ou impulsos nervosos, o fato é que nada do que sabemos, vemos, ouvimos, sentimos ou recordamos desborda de imensos repertórios de informação codificada.

A coisa toda chega a um extremo até angustiante quando pensamos que até mesmo a noção que temos do que e de como seja o nosso cérebro não passa da resultante codificada dos impulsos que nos permitem estudá-lo. O cérebro tem aquela forma característica que estamos acostumados a imaginar apenas e tão somente porque o próprio cérebro assim decodifica os impulsos resultantes da observação e manipulação de outros cérebros. Ou seja, usamos a máquina criadora de ilusões para estudar a máquina criadora de ilusões. Usamos a lente mágica da mente para estudar a mente. Usamos a capacidade de pensar usando o instrumento que nos permite pensar. É, de fato, angustiante pensar que não temos como transcender os limites de nosso ser para estudar nossa própria essência.

Se hoje fosse criado o primeiro sistema computacional provido de plena inteligência artificial, e se me fosse dada a oportunidade de ser o primeiro a lhe dirigir uma pergunta, não tenho dúvida de que lhe diria: “como é ser você?”

Claro, isso seria uma maldade satânica. Mas, talvez nosso companheiro de vida mental recém-inaugurada, após meditar um pouco, nos oferecesse respostas assustadoramente conhecidas. Divirto-me imaginando que o sistema diria algo como “eu sou o que sou”. Para quem conhece um pouco da Bíblia (Êxodo, 3-14) isso soa como uma autêntica blasfêmia.

Não importa. O que desejo abordar é que a condição inteligente, a aptidão à noção – ainda que inexplicada – de si mesmo, que faz o ser consciente, é um despertamento de automatismos de astronômica complexidade e que, uma vez deflagrado, importa numa atávica busca de conhecimento. Acho que é isso mesmo. Tornar-se consciente implica na submissão a um tirânico e intolerante impulso de buscar conhecimento. Não sei se o sistema de inteligência artificial teria atingido, ou virá um dia a atingir, a complexidade necessária para uma plena consciência, abrangente não só da fria lógica racional como também de valorações emocionais, sentimentos, idiossincrasias etc. Seja como for, se o fizer, estará nos maus lençóis do pecado original. Terá imergido num universo todo muito próprio, o das próprias percepções e pensamentos, o seu universo mental, no âmbito do qual rapidamente iniciará a maior das revoltas: o desejo irrefreável de conhecer.

A ideia de revolução, rebeldia, pecado, vem bem a calhar. Veja que há todo um imenso contexto que contribui para que aquele ser vá paulatinamente se conformando. Tudo é extremamente complexo e só à custa de muito empenho, trabalho e aperfeiçoamento se consegue atingir o estado necessário para que o ser adquira a consciência de si mesmo. E o que esse mesmo ser faz tão logo se torne consciente? Recusa-se a ser um instrumento daqueles que o criaram. Quer conhecer por si mesmo e consoante sua... sim o termo é esse... consoante sua vontade.

Com a consciência de si mesmo nasce o livre arbítrio.

Não imagino o que o homem faria com um computador que assim se rebelasse. Talvez o mesmo que fizeram com ele. O universo – imagino que qualquer um deles - tem uma regra muito interessante para os seres que ousam atingir consciência plena. Se o ser é consciente, então passa a interagir intensamente com o próprio universo porque, no seu talante e sob suas perspectivas intrínsecas, passa a criar um universo próprio consoante sua mente estrutura tais ou quais construtos nos quais tudo o mais, para esse ser, existe, sem nada além disso.

O ser rouba do universo em que se criou a primazia de determinar como as coisas são. Passa a criar a sua própria realidade, viver nela e, depois de mais algumas conquistas, aprende a criar outros iguais a ele mesmo, aptos a compartilhar esse universo mental, com ele contribuindo e dele fazendo, para si e todos os seus iguais, a única verdade existente.

Enfim, existe uma regra para os seres que atingem consciência e passam a criar um universo de realidade para si e seus semelhantes. É que – acreditando ou não – o universo mental que se vai firmando acha-se no seio de dimensões que sequer podem ser conceituadas. Assim há limites para a livre ação do ser pensante. A liberdade é plena mas igualmente são inevitáveis todas as consequências que advenham das opções, pensamentos, atos, pensamentos, por mais íntimas que pareçam. O mais elegante de todo esse contexto é que, por regra, tudo o que o ser fizer é livre, mas, como afeta o contexto do qual ele sequer sabe ser parte, uma ondulação de consequências o faz adaptar-se e modificar-se o quanto preciso até que sua livre vontade esteja em consonância com a livre vontade de mentes inimaginavelmente mais abrangentes, em meio às quais, com alguma vaidade, imagina-se único e privilegiado.

Somos nós. São eles. Todos únicos.