Sim, já bem o alinhavamos, nossa consciência é um foco de inteligência que, sabedor de si mesmo (ainda que sob severas restrições de alcance), delibera livremente sobre o que faz ao sabor do que deseja. Muita gente já o alertou: quando alguém deseja verdadeiramente algo, mobilizam-se meios inimagináveis para que se concretize tal almejo. Mágica? Sim e não. Não se trata da transcendência de fenômenos em esfera supranormal, sobrenatural ou coisa que o valha. Mas, sim, há um imenso enredamento de causa e efeito, em sua maioria desconhecido, que move forças e circunstâncias apontando para o fim almejado. Pura magia, mas "magia" estritamente como designação poética para mecanismos naturais que mal começamos a identificar.
A consciência concebe todo o universo em que o ser se agita. Cada mente é a geratriz de todo um imenso teatro de vivência, ficando cada ser pensante, no que concerne às relações com outros seres pensantes, sob o império de vibrações sintônicas ou desarmônicas. O regime de ressonância traz a realimentação e fortalecimento de cada bolsão de vivências que se harmonizam. Vale relembrar o conceito de egrégora, enquanto padrão comum a miríades de mentes afins.
Pois bem. Podemos dividir qualquer coisa em partes conforme se nos pareça mais adequado à análise constitutiva. Já se disse que o ocidental olha uma árvore e vê um conjunto de elementos - raiz, tronco, galhos, folhas etc. Já um oriental vê simplesmente uma árvore. Não há acerto ou erronia aí. Mas - é inevitável - devemos ponderar que uma árvore somente é uma árvore enquanto dotada dos elementos mínimos à sua identificação conceitual. Se tirarmos os galhos, folhas e raiz, não será mais uma árvore. Mas se tirarmos apenas as folhas, sim, será uma triste planta, mas ainda será uma árvore. Da filosofia rudimentar tiramos que "essencial" é tudo aquilo sem o que não mais é. Há, então, como que uma gradação. Conforme tiramos um elemento, saberemos se ele é ou não essencial caso a coisa em si se descaracterize ou não. Um carro sem pneus continua sendo um carro. Mas e se lhe tirarmos todo o sistema de embreagem? Entra aí mais uma ponderação necessária. Por facilitação de linguagem, de mera comunicação, é comum abstrairmos se houve ou não perda de elemento essencial. Continuamos a designar a coisa como ela é quando presentes todos os elementos constitutivos. Assim, um carro sem motor, por exemplo, continua a ser designado como "carro". Mas, um automóvel sem motor é, de fato, um automóvel? Claro que não. Do mesmo modo, considerando os carros em geral existentes, se lhe tirarmos todo o sistema de embreagem, poderá ele desempenhar sua finalidade essencial? Não. Mas se tirarmos o estepe, ou os faróis, ou mesmo os vidros, continuará ele - independentemente do caráter imprudente de tal ato - passível de direção e progressão no terreno. Não importa, tampouco, se há regras (leis ou normas impositivas quaisquer) que exigem a presença desse ou daquele elemento.
Enfim, retornando ao contexto original, a ressonância entre mentes sob o padrão da egrégora correspondente se dá pelos elementos essenciais do conjunto de pensamentos que o ser emite. Não há necessidade, pois, que as mentes tenham quase idêntica conformidade, mas tão somente que haja uma base comum de gostos, opções, valores, pretensões, tendências etc. É nesse concerto que a noção de UNIDADE há de se construir. Vêem-se muitas elucubrações afeitas, de modo simplista, à mera igualdade de tudo perante tudo. Somos todos um, é o que se costuma dizer. Sim, mas, deveras, não há uma identidade plena e total entre as mentes que compõem uma egrégora e, menos ainda, em face da mente (ou das mentes) que compõem o plano mais elevado do qual somos emanações individualizadas.
O conceito de Espírito-Grupo vem bem a calhar. A mente de uma humanidade espraia-se por todos os seres humanos que a compõem. Há um ser do qual, num dado instante da Eternidade, centelhas partem e peregrinam em jornada descendente até o plano das formas, experienciando vívidas progressões na dimensão física, retornando à via ascendente para aprimorar a Vida em estamentos mais elevados com a ampla bagagem que garante ao todo universal implementar a Evolução em todos os ciclos que se sucedem.
Pense bem. Quem é você? Imaginemos uma pessoa com, digamos, 60 anos de idade. Ela pode se recordar de boa parte de sua infância, juventude, maturidade e início da velhice. Em cada degrau a mesmíssima pessoa é um ser bem diferente. Na maturidade quase não guardamos semelhança alguma com a criança de ontem, conquanto a velhice nos devolva alguns bons predicados, ainda que sob outros matizes. Ora, estamos falando de uma mesma pessoa no âmbito de uma única vida.
Ainda por outra, já tentou perscrutar seus pensamentos antes de dormir, quando se deixa prostrar em descando ao aguardo do sono reparador? Os pensamentos fluem - é até difícil reconhecer - independentemente de nossa vontade. Alguém já comparou a mente a uma jaula com macacos. Você pode até efetivamente controlar um ou outro, mas jamais controla um grupo deles, todos em efervescência ao mesmo tempo.
Então, por que deveria causar estranheza o fato de sermos, nós mesmo em cada um de nós, individualmente, a expressão de uma mente maior que aglutina os nossos semelhantes, no contexto de uma egrégora, e se submete a outra mente, ainda maior, que aglutina todos os seres humanos?
Essa ideia é menos estranha do que os postulados básicos da Mecânica Quântica.
Sinto muito. Bem-vindo à realidade de quem vive como uma gota dispersa no seio do Oceano.
Falaremos mais sobre isso.
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