Não são poucas as vezes em que a
Vida nos convida a optar por caminhos muito diferentes entre si. São as encruzilhadas
de que tantos Espíritos nos falam, adotando nomes que expressamente referem-se
a essas disjunções de jornada. Não foi outro senão o Caboclo das Sete Encruzilhadas
que deu início à Umbanda, uma
religião espiritualista que agrega, desde o nascedouro, as camadas mais pobres
da população, desde o início do século XX. Por que adotou esse nome? Segundo se
diz, em razão de ter sido um padre inquisidor que reencarnara no Brasil como
caboclo, tendo absorvido a cultura africana e seu sincretismo com a religião
católica no âmbito dos vários cultos desenvolvidos pelos escravos. Ao ser
questionado sobre sua identidade houve por bem, no contexto do planejamento de
instituir um culto espiritualista para as classes socialmente menos
aquinhoadas, adotar uma denominação que ressoaria na alma exatamente daqueles
que já se embalavam nos conceitos oriundos dos cultos afro-brasileiros.
Expôs-se como alguém a quem não haveria caminhos fechados. Ou seja, alguém que
teria vencido as encruzilhadas da Vida. O Caboclo das Sete Encruzilhadas adotou
o significativo numeral “Sete”, provavelmente por sua natureza mística,
cabalista, tomando-lhe o sentido de completitude. Ao mesmo tempo, deixou desde logo claro que o
irmão de jornada na Terra havia que enfrentar as encruzilhadas da Vida e
vencê-las.
Indivíduos com alguma instrução
catedrática mal disfarçam o descontentamento com os termos simplórios em geral,
buscando reforçar as convicções pessoais sob roupagem mais elaborada, por baixo
da toga de uma terminologia rebuscada e, algumas vezes, até exótica. Veem um
caráter primário nos nomes adotados pela Umbanda mas não enxergam o exotismo de
neologismos que, em certos casos, invocam estranhos construtos de palavras por
justaposição ou aglutinação. Isso, sem mencionar que há milênios conceitos são
expressos nessa seara, pelo que os termos da Umbanda, tanto quanto de qualquer
corrente espiritualista, são igualmente válidos desde que compreendidos em seu
concerto doutrinário.
Encruzilhadas... Que ninguém,
pois, tenha pudores elitistas com o uso dos termos, tirados do comum dia-a-dia
dos mais humildes, na expressão de verdades do Espírito, inúmeras vezes
vertidas sob linguajar tão rústico quanto elevado é o conhecimento e estatura
do Espírito comunicante. Na Roda da Vida são miríades de Espíritos que retornaram
ao vaso carnal em experiências toscas nas roças de escravos, nos híbridos de
raças que compõem o próprio brasileiro. Tais Espíritos guardam as mais variadas
origens. Alguns foram sacerdotes endividados com o Destino; outros, místicos
que agrediram o senso de outrem com interpretações desviantes da inevitável Lei
do Retorno. Já foi descrito que Espíritos sob a roupagem de um meigo Preto
Velho ocultam túnicas que só os grandes iniciados das Escolas de
Mistério podiam envergar. Então, todos os Espíritos que se comunicam nos cultos
da Umbanda são seres dotados de elevado conhecimento? Claro que não. Isso não é
verdade para nenhuma corrente ou religião espiritualista deste orbe. Mas os que
comandam os rumos das imensas equipes de obreiros, amparadores, mensageiros,
são, sim, Espíritos cunhados nas lições fundamentais em que ainda nos
demoramos.
Aliás, outro termo que causa
repúdio a tantos é falange. Na Umbanda não se costuma dizer que há equipes de
amparadores, mas sim falanges desta ou daquela Entidade.
Resguardo-me de mais comentários. Pouco importa o nome que se dê. Que todas as falanges
chefiadas por Caboclos ou Pretos Velhos, ou quem for, realizem o trabalho de
Luz que só os mais desavisados da senda espiritual podem ignorar.
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