A existência do Universo depende da concomitante presença de sua estrutura (amoldada pelo Pensamento) e da consciência (Mente) que a engendra.
Por isso, em cada uma de suas infinitas possibilidades existenciais (multiverso), o bailado entre a Mente (consciência) e o Pensamento (estrutura amoldada pela Mente) eterniza-se.
Mas, assim como numa sinfonia, trechos exibem naipes de cordas vibrando intensamente, enquanto timbalos repousam no silêncio de pausas perfeitamente concatenadas.
Antes do concerto final e completo, do mais agudo flautim à retumbante percução, há de se compor, nota a nota, a Obra em desenvolvimento.
Vivemos numa dimensão em que a consciência universal somente pode engendrar pensamentos se estiver na mais absoluta restrição individualizante.
Muitos dos instrumentos da Orquestra estão em silêncio. Quase todos.
Aqui tanto a Mente como o Pensamento reverberam em ondas de grande comprimento, sob frequências apequenadas.
Tanto assim que a Mente tem que desertar de seus mínimos vôos e se contentar com o ventre rastejando à poeira do solo.
Pouco vê, pouco ouve, pouco percebe.
Torna-se um foco do qual apenas parcos e restritos pensamentos nascem, sem noção alguma de estar vinculada à imensa Orquestra que jaz oculta em profundo silêncio.
A Mente torna-se fragmentada em indivíduos que nem mesmo se lembram de sua origem.
Consectário perigoso, a individualidade plena desliga cada fragmento do todo e gera a liberdade cega, o livre pensar, a prerrogativa de pensar o que e como quiser.
A consciência universal, paradoxo dos paradoxos, para existir enquanto Mente neste plano de restrição total, esquece-se de si mesma e experimenta o resultado dessa extrema circunstância: amnésia e liberdade.
E é nesse estado de individualidade máxima, sob o olvido do todo e com a consequente liberdade, que interage enquanto Mente nesta dimensão, emitindo Pensamentos que movem as correspondentes forças estruturantes da Vida nestas plagas.
O retorno à consciência só vem com o Conhecimento que lança luz à escuridão do esquecimento, da ignorância.
Cada milímetro resgatado de reunificação com a origem ceifa muitos metros da ilusória liberdade que a restrição individualizante engendrara com a ignorância de si mesma.
À perfeição da Ordem Universal, essa reunificação se desdobra durante a longa jornada em que os fragmentos da consciência universal aprendem a lidar com o Universo nesta dimensão de formas tão ilusórias quanto grotescas e duradouras.
Há inúmeras sendas que se estabeleceram pretendendo ajudar cada indivíduo na ascese do retorno à Fonte Primordial.
Religiões, seitas, doutrinas, filosofias, métodos...
Mas tudo o que segrega para o fim de unificar é natimorto. Como reunir todas as gotas de volta ao oceano espargindo-as pelos mais longínquos, divergentes e distantes rios?
A ascese não ocorre sob rituais ou métodos excludentes de quaisquer outros caminhos que se prefira percorrer.
Independentemente de valorações fundadas em construtos humanos, devemos ver no semelhante não um irmão, ou irmã... Mas sim a nós mesmos...
Aliás, devemos nos ver também em todos os animais, plantas e até nos minerais desta dimensão existencial.
Afinal, foi para isso que viemos.
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