domingo, 31 de janeiro de 2010

Aspectos Morais - Espiritismo



O paradigma de conduta a ser seguido é Jesus Cristo.

625. Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
– Vede Jesus.
Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do Espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra.
Se alguns dos que pretenderam instruir os homens na lei de Deus algumas vezes os desviavam para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que era apenas leis humanas, instituídas para servir às paixões e dominar os homens.
(O Livro dos Espíritos - grifei)

No entanto, as verdades espirituais foram semeadas desde sempre na humanidade, ainda que incompletas.

626. As leis divinas e naturais só foram reveladas aos homens por Jesus e antes dele s6 foram conhecidas por intuição?
– Não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Todos os homens que meditaram sobre a sabedoria puderam compreendê-las e ensiná-las desde os séculos mais distantes. Por seus ensinamentos, mesmo incompletos, eles prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, o homem pôde conhecê-las sempre que desejou procurá-las. Eis porque os seus princípios foram proclamados em todos os tempos pelos homens de bem, e também porque encontramos os seus elementos na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie, mas incompletos ou alterados pela ignorância e a superstição.
(O Livro dos Espíritos - grifei)


A Moral Cristã constitui a mais completa revelação dos valores magnos da alma que a Humanidade deve cultivar. Ainda assim, a complementação trazida como o Ensinamento dos Espíritos foi uma necessidade para que as parábolas do Mestre não caíssem em interpretações eivadas de vícios consoante interesses oportunistas.

627. Desde que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual é a utilidade do ensinamento dado pelos Espíritos? Têm eles mais alguma coisa para nos ensinar?
– O ensino de Jesus era freqüentemente alegórico e em forma de parábolas, porque ele falava de acordo com a época e os lugares. Faz-se hoje necessário que a verdade seja inteligível para todos. É preciso, pois, explicar e desenvolver essas leis, tão poucos são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam. Nossa missão é a de despertar os olhos e os ouvidos, para confundir os orgulhosos e desmascarar os hipócritas: os que afetam exteriormente a virtude e a religião para ocultar as suas torpezas. O ensinamento dos Espíritos deve ser claro e sem equívocos, a fim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um possa julgá-la e apreciá-lo com a sua própria razão. Estamos encarregados de preparar o Reino de Deus anunciado por Jesus, e por isso é necessário que ninguém venha a interpretar a lei de Deus ao sabor das suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei que é toda amor e caridade.
(O Livro dos Espíritos - grifei)

Aspectos Morais - Espiritismo


Considerando que a experiência do ser nos evos da evolução o faz progredir, uma vez atingida a noção de si mesmo e a consciência plena da do acerto ou desacerto das atitudes, nasce para ele a responsabilidade por tudo o que faz ou que deixa de fazer.

642. Será suficiente não se fazer o mal, para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?
– Não: é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.
(O Livro dos Espíritos)

Ainda mais rigorosa é a Lei, porquanto assevera que o mérito pelo bem que se faça mede-se pela dificuldade de realizá-lo.

646. O mérito do bem que se faz está subordinado a certas condições, ou seja, há diferentes graus no mérito do bem?
– O mérito do bem está na dificuldade; não há nenhum em fazê-la sem penas e quando nada custa. Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão, que o rico que só dá do seu supérfluo. Jesus já o disse, a propósito do óbolo da viúva.
(O Livro dos Espíritos)

E estando Jesus assentado defronte donde era o gazofilácio, observava ele de que modo deitava o povo ali o dinheiro; e muitos, que eram ricos, deitavam com mão larga. E tendo chegado uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que importavam um real. E convocando seus discípulos, lhes disse: Na verdade vos digo, que mais deitou esta pobre viúva do que todos os outros que deitaram no gazofilácio. Porque todos os outros deitaram do que tinham na sua abundância; porém esta deitou da sua mesma indulgência tudo o que tinha, e tudo o que lhe restava para seu sustento. (MARCOS, XI l: 41-44-LUCAS, XXI: 1-4).

Aqueles cuja intenção está isenta de qualquer idéia pessoal, devem consolar-se da impossibilidade em que se vêem de fazer todo o bem que desejariam, lembrando-se de que o óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma. Grande seria realmente a satisfação do primeiro, se pudesse socorrer, em larga escala, a indigência; mas, se essa satisfação lhe é negada, submeta-se e se limite a fazer o que possa. Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da viúva.
(O Evangelho Segundo o Espiritismo – págs. 216/217 – grifei).

Aspectos Morais - Espiritismo



A busca do Pai Eterno. A elevação do pensamento nos momentos de prece sentida e sincera. São momentos assim que ensaiam o ser humano nas vibrações mais elevadas que no porvir hão de constituir-lhe a Paz e Serenidade da bem-aventurança.

649. Em que consiste a adoração?
– E a elevação do pensamento a Deus. Pela adoração o homem aproxima dEle a sua alma.
(O Livro dos Espíritos)

O templo fundamental da cada ser humano é o seu coração. A prece sentida não exige locais ou liturgias obrigatórias. Mais vale a oração feita no recinto da consciência do que o culto ostensivo e desprovido de sinceridade. Seja no templo, seja consigo mesmo, o homem deve orar sempre com a verdade de seu coração.

Por outro lado, pouco importa qual a religião que o homem siga, desde que busque aplicar os ensinamentos elevados semeados para todos com sinceridade e dedicação.

653. A adoração necessita de manifestações exteriores?
A verdadeira adoração é a do coração. Em todas as vossas ações, pensai sempre que o Senhor vos observa.

653-a. A adoração exterior é útil?
– Sim, se não for um fingimento. É sempre útil dar um bom exemplo; mas os que o fazem só por afetação e amor próprio, e cuja conduta desmente a sua aparente piedade, dão um exemplo antes mau do que bom, e fazem maior mal do que supõem.

654. Deus tem preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira?
Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que pensam honrá-Lo através de cerimônias que não os tornam melhores para os seus semelhantes.
– Todos os homens são irmãos e filhos do mesmo Deus, que chama para Ele todos os que seguem as suas leis, qualquer que seja a forma pela qual se exprimam.
– Aquele que só tem a aparência da piedade é um hipócrita; aquele para quem a adoração é apenas um fingimento e está em contradição com a própria conduta, dá um mau exemplo.
– Aquele que se vangloria de adorar o Cristo mas que é orgulhoso, invejoso e ciumento, que é duro e implacável para com os outros ou ambicioso de bens mundanos, eu vos declaro que só tem a religião nos lábios e não no coração. Deus, que tudo vê, dirá: aquele que conhece a verdade é cem vezes mais culpável do mal que faz do que o selvagem ignorante e será tratado de maneira conseqüente, no dia do juízo. Se um cego vos derruba ao passar, vós o desculpais, mas se é um homem que enxerga bem, vós o censurais e com razão.
– Não pergunteis, pois, se há uma forma de adoração mais conveniente, porque isso seria perguntar se é mais agradável a Deus ser adorado numa língua do que em outra. Digo-vos ainda uma vez: os cânticos não chegam a Ele senão pela porta do coração.
(O Livro dos Espíritos – grifei)


A adoração, enquanto elevação do pensamento, pressupõe que o ser esteja no enfrentamento de sua Vida cumprindo com o bom combate, lutando em seu dia-a-dia na edificação de seu aperfeiçoamento, cumprimento de suas tarefas, bem suportando as vicissitudes que lhe surjam no caminho.

A inércia de uma vida contemplativa, sem realizações e sem o esforço de aprimoramento perante a humanidade não tem maior valia para a alma.

657. Os homens que se entregam à vida contemplativa, não fazendo nenhum mal e só pensando em Deus, têm algum mérito aos seus olhos?
Não, pois se não fazem o mal, também não fazem o bem e são inúteis. Aliás, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que se pense nEle, mas não que se pense apenas nEle, pois deu ao homem deveres a serem cumpridos na Terra. Aquele que se consome na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque sua vida é toda pessoal e inútil para a Humanidade. Deus lhe pedirá contas do bem que não tenha feito.
(O Livro dos Espíritos – grifei)


Como já destacado, a Lei da Adoração pressupõe a elevação do pensamento, a busca de Deus mesmo nas limitações do homem. O meio mais eficaz do homem elevar suas vibrações é a prece sentida, sincera e meditada com o coração.  Sempre e sempre a intenção é o elemento fundamental da prece, pouco importando fórmulas ou sacramentos. Quando o homem ora com o coração, com sinceridade, põe em movimento a sua preciosa capacidade de ter fé, de confiar, de firmar na busca do Altíssimo a convicção de que o Pai a todos ouve.

658. A prece é agradável a Deus?
– A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, porque a intenção é tudo para Ele. A prece do coração é preferível a que podes ler, por mais bela que seja, se a leres mais com os lábios do que com o pensamento. A prece é agradável a Deus quando é proferida com fé, com fervor e sinceridade. Não creias, pois, que Deus seja tocado pelo homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que a sua prece represente um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.
(O Livro dos Espíritos – grifei)

[...] A prece é um sustentáculo da alma, mas não é suficiente por si só: é necessário que se apoie numa fé ardente na bondade de Deus. [...]
(O Evangelho Segundo o Espiritismo – pág. 108 - grifei)

[...] Qualquer que seja o caso, a prece nunca deixa de dar bom resultado. [...]
(O Livro dos Médiuns – pág. 111 – grifei)

8ª Podem obter-se curas unicamente por meio da prece?
"Sim, desde que Deus o permita; pode dar-se, no entanto, que o bem do doente esteja em sofrer por mais tempo e então julgais que a vossa prece não foi ouvida."
(O Livro dos Médiuns – pág. 218 – grifei)

9ª Haverá para isso algumas fórmulas de prece mais eficazes do que outras?
"Somente a superstição pode emprestar virtudes quaisquer a certas palavras e somente Espíritos ignorantes, ou mentirosos podem alimentar semelhantes idéias, prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que, em se tratando de pessoas pouco esclarecidas e incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, o uso de determinada fórmula contribua para lhes infundir confiança. Neste caso, porém, não é
na fórmula que está a eficácia, mas na fé, que aumenta por efeito da idéia ligada ao uso da fórmula."
(O Livro dos Médiuns – pág. 219 – grifei)

A prece pode permite louvar, pedir e agradecer, mas fundamentalmente a prece traz ao homem mais força interior na sedimentação de suas convicções pela conduta correta a ser tomada em cada momento da vida.

659. Qual o caráter geral da prece?
– A prece é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar nEle, aproximar-se dEle, pôr-se em comunicação com Ele. Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.

660. A prece torna o homem melhor?
– Sim, porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir. É um socorro jamais recusado, quando o pedimos com sinceridade.
(O Livro dos Espíritos – grifei)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Amar os Inimigos (?)

A Boa Nova, à luz do Espiritismo, tem interessante resposta a este questionamento. Peço licença para transcrever:
Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das
maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho. Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam nas mesmas idéias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo.
A diversidade na maneira de sentir, nessas duas circunstâncias diferentes, resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O pensamento malévolo determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente. O pensamento benévolo nos envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não pode, pois, significar que não se deva estabelecer diferença alguma entre eles e os amigos. Se este preceito parece de difícil prática, impossível mesmo, é apenas por entender-se falsamente que ele manda se dê no coração, assim ao amigo, como ao inimigo, o mesmo lugar. Uma vez que a pobreza da linguagem humana obriga a que nos sirvamos do mesmo termo para exprimir matizes diversos de um sentimento, à razão cabe estabelecer as diferenças, conforme aos casos.
Amar os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está na natureza, visto que o contacto de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu bater, ao contacto de um amigo. Amar os Inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo a reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos
.


(O Evangelho Segundo o Espiritismo - págs. 198/199)

JESUS NO LAR - Cogitações 03

O homem em geral tem noção dos valores mais elevados da alma. Niguém, a bem da verdade, pode legitimamente declarar-se ignorante da necessidade de cultivo de virtudes como a honestidade, a boa-vontade para com todos, a indulgência para com as imperfeições alheias, o perdão das ofensas, enfim, o amor que devemos dedicar aos que nos cercam. Assim o sabemos porque desde há muito o ensinamento vem sendo ministrado, reiteradamente, inclusive com a manifestação do Maior de todos os Mestres em nosso meio.

A consciência é capaz de absorver idéias elevadas. Mesmo não as praticando, pode conhecê-las e compreender os seus elevados contornos. É assim porque a evolução aperfeiçoa o ser com grande eficiência, mantendo-o sempre habilitado a vislumbrar o que não conseguiu ainda dominar. Também com o condicionamento da conduta assim se dá.

As sociedades humanas já se equilibraram em normas sociais como a chamada “Lei do Talião”, quando o dente por dente, olho por olho, era o senso comum, plenamente aceito pela grande maioria. Entretanto, desde muitos evos os germes do senso mais sutil começou a ser semeado no ente coletivo. O ensinamento elevado desde sempre traz em sua essência aquela magia de bater-nos no íntimo com foros de verdade primordial, que não necessita de demonstração. O amor cultuado sem medida pelos filhos ainda pequeninos, na devoção de carinho e proteção que vemos facilmente até nas feras, com o passar do tempo vai se infiltrando como padrão a expandir-se no universo interior de cada um. Numa palavra, o homem vai ganhando mais características espirituais enquanto condiciona adequadamente os instintos animalizados sem os quais não teria chegado até ali.

Ainda assim, por todo o óbvio, o desenlace dos dons magnos da alma não ocorre senão depois do devido tempo de maturação, pelo que, entrementes, vemos conquistas já louváveis convivendo com instintos de reação ainda predominantes. O ser humano freqüentemente chora de misericórdia ao assistir o sofrimento alheio, ao mesmo tempo em que se mantém apto às mais terríveis violências quando se domina pela ira que deveria adestrar.

O homem, a maioria de nós, está a meio curso de seu aprendizado. E assim estamos desde o tempo em que o Todo Amor pisou nas areias quentes da Palestina. Paulatinamente vamos caminhando, pé ante pé, na senda de ascensão. Misturamos a dedicação carinhosa àqueles que amamos com os impulsos ainda indômitos que nos escravizam. Em meio aos instintos ferozes de nossa ainda primitiva natureza impulsiva, os dons magnos da alma turvam-se conquanto nos inspirem à elevação.

No dizer abençoado do Príncipe de Luz: 
“O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na poeira da estrada, é gota lamacenta. Não te esqueças desta verdade simples e clara da Natureza.” (Jesus no Lar – Capítulo 3 – FEB).

JESUS NO LAR - Cogitações 02

A vida nos oferece todas as generosas oportunidades que a Divina Providência concede. Em grande parte, o meio familiar nos doa preciosas lições para o aprendizado da boa-vontade, tolerância e indulgência. Disso já falamos (Jesus no Lar – Cogitações – 01).

Importa, ainda, considerar que o campo é vasto e serve a todos, indiscriminadamente, como a pastagem que, a perder-se de vista, convida à lavra na luta do cultivo comum. O sol brilha para todos. Mas, infelizmente nem todos atendemos ao chamado.
"A forja da vida traz nas chamas do borralho a luz que norteia. O minério deve ser aquecido ao ponto de, bem cuidado e modelado, tornar-se límpida lâmina de puro aço. À semelhança, a família nos é, no dizer do Mestre, o “cadinho santo ou o forno preparador” (Jesus no Lar – Capítulo 2 – FEB).

Ninguém cogitaria de reputar infeliz o minério por submeter-se às chamas da fornalha ou ao impacto cuidadoso do atento ferreiro. Em igual monta, os atritos, destemperos, conflitos e personalismos que enfrentamos na forja sagrada do lar a bem da verdade não são, de forma alguma, agressões, senão aprendizado. É nas diferenças que aprendemos a aquilatar o quão irmanados estamos na igualdade perante o Pai. As lides nos mostram o valor da ponderação, tanto quanto ajustam-nos o senso de valoração da conduta.

Doando e recebendo reciprocamente as experiências do dia-a-dia familiar nos apresentamos diante da Vida à iniciação que nos convida à lavra do campo vastíssimo a nos circundar. Uma atitude menos nobre talvez só mesmo nos fira a consciência depois de experimentarmos semelhante vivência, só que às avessas, de outrem que nos ama e que, tanto quanto amamos também, nos dói ainda mais por amarmos.

Por outro lado, ninguém que tenha embalado nos braços um pequeno rebento de luz e carinho deixará de tocar-se pelo senso inato de proteção devido àquele ser que Deus nos confia, seja como filho, seja como irmão, seja como for. Mesmo o irmão que aparentemente menos comunga de nosso modo de ser, mesmo este serve-nos de rico exemplo dos que vivem por outra tonalidade mas compõem o (também nosso) espectro que se desdobra no arco-íris da alva comunhão do lar.

Entretanto, se ainda assim a alma desejar apartar-se dos liames abençoados do lar e desertar do aprendizado invocando o dom magno do livre arbítrio, resta à Providência deixá-lo um pouco mais consigo mesmo, atirado à plaga de consciências ávidas na defesa de suas individualidades tanto quanto inadequadas ao seio comum dos que preferem a senda carinhosamente ensinada pelo Mestre Sublime.

Demoram-se à aridez da rocha os réprobos enquanto assim o desejarem. Seus irmãos secam o suor do rosto com a colheita farta conquistada com a semeadura da Vida.

JESUS NO LAR - Cogitações 01

O homem que intui as coisas do espírito bem conhece a necessidade da alma em ascender, em aperfeiçoar-se, em elevar-se perante si mesma e diante do Criador à busca de Paz, de Serenidade, do estágio mais altaneiro que a aguarda e já pode ser vislumbrado no horizonte não tão remoto.

No entanto, é comum vermos brilhantes oradores das virtudes da alma que, todavia, negam-se ao esforço primordial de auto-aprimoramento no aprendizado da tolerância, da boa-vontade, do perdão, da sublimação, enfim, dos valores éticos diamantinos que exigem redobrado empenho no cultivo.

O sorriso dócil e terno de paciência doado na via pública ao andarilho que insiste em estender a mão não encontra eco no seio da própria família, à qual é doada a irascibilidade de quem se julga legitimado à aspereza por enfrentar as agruras da vida.

Porém é o lar, a família, o círculo próximo de irmãos que nos demarca perante o Pai com maior ênfase no exercício das virtudes que deveremos um dia perante todos vivenciar. É a família que nos doa os ensejos preciosos que a Providência Divina forja em nosso dia-a-dia no curso sublime em nos demoramos como alunos, quase sempre, réprobos.

É na família que temos o apoio incondicional dos que nos sustentam em seus esforços de realização. Se com sorrisos ou com a rispidez dos personalismos, pouco importa, é na família que temos o nosso porto seguro ainda que a alguns pareça um simples atracadouro de navios negreiros.

O ensinamento do Mestre dos mestres nos soa com a simplicidade de uma Verdade manifesta:
“Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se nos não habituamos a amar o irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?” (Jesus no Lar – Cap 01 – FEB).

De efeito! Devemos amar ao próximo, não é mesmo? Pois então! O próximo mais próximo que temos são os que o Pai houve por bem assim situar. Amemos, amemos e novamente amemos todos os membros de nossa família. Treinemos com eles a tolerância, o perdão, a boa-vontade que deveremos ter para com todos os demais filhos de Deus em breve tempo.

Difícil? Bem... Ninguém jamais disse que seria fácil... Mas, com certeza, valerá cada lágrima, cada mágoa, cada desilusão que tenhamos. Afinal, a cada uma delas corresponderá uma outra que teremos causado em mais alguém...

Homens / Animais

Um aspecto que diz respeito a minha experiência pessoal, aqui referida apenas como ilustração, é a forte sensação que eu tenho de que muitos dos instintos (impulsos, automatismos) que se deflagram em meu dia-a-dia têm muito a ver com as conquistas do longo período de aquisições como animal.

A capacidade intelectiva e a habilidade em "racionalizar" (do ponto de vista freudiano) certas atitudes dissimulam padrões de reação que em nada diferem dos nossos companheiros metazoários.

Peço licença para transcrever algo que escrevi alhures:

[...]
O homem continua ao sabor de vários instintos puramente animais, conquanto já tenha galgado vários degraus acima da condição inicial. Curiosamente, a natureza animal do homem associada à capacidade de raciocínio contínuo é visível em vários elementos do dia-a-dia. Não se busca o desenvolvimento de máquinas ou ferramentas apenas tendo em mente a sua finalidade última. Não, na Terra um automóvel, por exemplo, se submete a toda uma concepção de estética que tem tudo a ver com o prazer que o equipamento desperta no senso de força, velocidade e poder. O homem efetivamente sente como se o seu carro fosse parte de si mesmo, escolhendo, sempre que possa, o veículo com que mais se identifique. Por isso existem tantos tipos e cores de carro, tantos quantos são os mais comuns tipos e variante da personalidade humana. Até mesmo o som dos motores em muito lembra o uivo das feras. Os faróis compõem um olhar ferino, como se a máquina pedisse para ser posta na mais desatinada velocidade. O carro, enfim, ostenta a força e o poder que o homem deseja para si, ficando feliz em dominar o equipamento ou confundir-se com ele.

A roupas... As roupas, por sua vez, exsurgem em importância quase nunca por sua utilidade, mas pelo estilo, pela combinação, pela moda, pela cor, pelos acessórios etc etc etc. É a plumagem que o corpo não ostenta. Grupos se identificam pela forma de se vestir.

O uso da linguagem tantas vezes redunda em codificações tribais, restringindo o sentido exato de termos comuns ao contexto só plenamente conhecido pelos componentes daquela tribo.

Até mesmo nos setores mais intelectualizados da humanidade são notórios os efeitos da componente animal ainda tão vívida no espírito humano. Bismarck teve seus ideais de conquista e força suficientemente soerguidos por uma base filosófica refinada, encontrando no discurso de Nietzche o super-homem que a natureza premia com o sucesso. Nada melhor do que a obra desse filósofo para denunciar que o homem procura assimilar e ter por perfeitamente natural que a animalidade conviva com o intelecto desenvolvido. O bom selvagem de Rosseau, isolado no concerto das teses de origem da sociedade, é até hoje visto como uma quimera quase pueril. Montesquieu percebeu a natureza humana destacando que o maior mérito da mercancia era atenuar os homens, que passaram da conquista e esbulho para o desejo de riqueza via comércio. Claro que a exploração econômica logo se estabeleceu. Hobbes chamou de Leviatã o Estado que tudo engloba e submete, como um monstro que se impõe pela força. Impossível deixar de mencionar o triste episódio do nazismo, que levou milhões à barbárie.

[...]

Fonte: 
http://www.webartigos.com/articles/8503/1/cogitaes---anjos-decados/pagina1.html

VALE DOS SUICIDAS --- existe?

O Vale dos Suicidas, tão referido em obras espíritas, vem sendo posto em dúvida quanto à sua efetiva existência por aqueles que defendem a Doutrina em seu rigor restrito às obras da codificação.



Meditemos.

Nesse e em vários outros tópicos muito debate se estabelece sobre a forma como se entende a existência da ideoplastia ambiente. Consideremos apenas alguns aspectos sedimentados.

Não contrasta com a Doutrina:

1. A plasmagem fluídica, tanto do ambiente como do perispírito. 

2. Os seres afinam-se por sintonia consoante o estágio evolutivo que tenham. 

3. Há interação de pensamentos emitidos, tanto maior quanto maior for a sintonia entre eles. 

A plasmagem de ambientes consoante o padrão de pensamentos de seres unidos por sintonia, tanto no que toca aos casos de Espíritos com bom nível de evolução como no caso de Espíritos atormentados por ideário doentio, não é uma idéia contrária aos princípios doutrinários. 

Existir ou não um "Vale dos Suicidas" é o aspecto menos importante na tônica do debate... O grande divisor de águas é considerar que a Doutrina reputa impossível um tal ambiente plasmado pelos suicidas, o que, de minha parte, não creio seja a melhor interpretação. 

Honestamente, acho que ficarmos estritamente no que descreve os livros de Kardec implica desconsiderar todas as referências de que as explicações obedeceram à limitação do conhecimento então vigente, da terminologia, da ciência etc etc etc... 

Se apagarmos totalmente as descrições feitas por miríades de Espíritos nas várias obras escritas nas muitas décadas posteriores à Codificação, como seria de se conceber o plano espiritual? 

Eu gostaria de que alguém procurasse descrever o que há no plano espiritual, estritamente com base no que dizem os livros de Kardec. Mas não por citação de trechos do que está nos livros --- isso é fácil de se obter. Gostaria de saber o que é que os médiuns vêem... o que os Espíritos descrevem... Como ocorrem as atividades no plano extrafísico... 

Algo me diz que reescreveríamos meramente com outras palavras os livros de André Luiz e de tantos outros que fizeram exatamente esse trabalho nesse tempo todo... 

Não basta dizer: isso não é dito na Doutrina! Seria de se dizer, não por simples menções genéricas e filosóficas, como é que a coisa efetivamente acontece então. 


Quanto mais simples a ideoplastia, os automatismos se deflagram pelo pensamento com maior eficácia. A mente de uma pessoa com parcos conhecimentos e apenas mediana evolução é suficiente para coordenar milhões de operações que os evos amoldaram no fenômeno Vida. Os fluxos de energia do corpo espiritual correspondem a fluxos bioquímicos no corpo físico; cada plexo nervoso corresponde a um chacra; temos um acervo gigantesco de automatismos conquistados na longa jornada de progresso desde o início, como princípio inteligente.

Da mesma forma, um anel, a roupa, objetos que nos sejam relevantes à emoção, plasmamos por automatismo diretamente no meio fluídico, mesmo sem saber como o fazemos. Se for uma aliança que usamos por quase toda a vida física, estará conosco provavelmente até a próxima encarnação. Será uma ideoplastia constante, duradoura, contínua. Será uma "programação" realizada pelos automatismos conquistados. 

Para um Espírito de alta condição evolutiva (ou uma equipe deles, enfim...) é possível a estruturação de todo um hospital, item por item... Com conhecimento específico de como funcionam os "comandos" da programação ou não (muito provavelmente, não), sabem que podem fazê-lo por mentalização e podem fixar-lhes duração. 

Se pensarmos, talvez, em um ser MUITO evoluído, esse sim provavelmente pode e realiza ideoplastias que enraízam no plano físico, mantendo agregada a matéria física. Chego (apesar de ser uma analogia até pueril) a pensar que somente o Criador conhece a programação bit a bit. 

Apesar da Doutrina não especificar senão Deus, Espírito e Matéria, as emanações do Criador estão presentes em muitas (quiçá todas) as tradições espiritualistas. Não são seres como entendemos, como individualidades, ma sim "delegações" do poder divino que são acionadas em estamentos inferiores nos automatismos que o pensamento do criador esparge no todo universal. São, em tosca comparação, como que segmentos da inteligência de Deus para a realização dos seus fins através do pensamento daqueles que, criados para contribuir com a Obra, operam nos planos progressivamente mais densos. 

Uma egrégora do astral inferior operará nos automatismos, porém toscamente por ser uma egrégora, mais difusa, menos delineada, durável porém sem o refino de uma alta definição de forma e conteúdo. 


Ademais, vale sempre e sempre reiterar que a realidade objetiva do plano extrafísico e semimateriral, isto é, contíguo ao plano denso da matéria tangível, não se constitui de meros construtos fugazes que levariam o ambiente em que se embalam miríades de seres a um estado de puro caos e impossível identificação. Tampouco se pode imaginar que nada exista de objetivo, sob pena de adotarmos o niilismo absoluto, travestidos de filósofos do Nada.

Há um cenário comum aos sensientes... Cada um adentra à percepção do outro com sua própria percepção. A matéria é mantida por ação do fluido cósmico, é o que ensina a Doutrina. Se o pensamento influi nos fluidos e o pensamento do Criador a tudo sustenta, cogitar do plano espiritual como algo indecifrável e tão-somente ilusório parece-me puro reducionismo.







SUICÍDIO

O suicídio é um tema que se pode abordar por vários aspectos. As religiões cristãs em geral abominam o auto-aniquilamento, relegando-o à categoria de máximo pecado capital. É apontado como o crime mais terrível a cometer-se contra a Divindade, vez que, sendo o Pai quem nos dá a vida, só mesmo Ele a pode tirar.

Consoante o credo católico, o corpo de um suicida não pode ser velado em um templo erigido à adoração de Deus. Já se impediu que suicidas fossem enterrados em cemitérios, pelo menos naqueles geridos por clérigos profitentes da fé romana. No que concerne aos que adotam religiões ditas evangélicas, não conheço as implicações teológicas pertinentes mas, por certo, não creio que existam conceitos condescendentes com o autocídio.

Seja como for, quando pensamos do ponto de vista filosófico, ou mesmo teológico, não é difícil concluir que o suicídio deve mesmo ser repudiado, evitado, prevenido. No entanto, devemos nos lembrar que em cada caso de suicídio existe sempre alguém que muito amava aquele que se matou. Existe sempre uma pessoa, digna do sopro de vida do Criador, que traz o coração envenenado com a dor da perda, uma dor ainda mais dilacerante por não ter a válvula de escape do desespero voltado a algum pretenso culpado senão o próprio ser, tão querido, que desertou da vida na Terra. Assim devemos nos lembrar para que um dos mais preciosos Dons Magnos da Alma possa atuar: a Indulgência... Sim, não nos esqueçamos desse Anjo de Luz Misericordiosa. A Indulgência.

Destemperemos o rigor excessivo que devotamos aos que, num momento de insensatez, ousaram aniquilar a chama de carne que os mantinha no meio de nós. Tenhamos misericórdia! Por quem partiu e, mormente, por aqueles que ficaram... Confusos, atônitos, desiludidos com os sonhos e almejos ceifados. O amor e as orações de quem fica, não tenho nenhuma dúvida, baterão sempre nos ouvidos dos Mensageiros Celestiais. O bálsamo que alivia sempre chega a quem dele necessita.

Mais importante ainda, tenhamos muito cuidado em apontar o suicida como alguém destinado às Trevas... Tenhamos muita cautela!!! Não o sabemos! Não detemos o Discernimento Absoluto do Pai Eterno, pelo que não podemos profetizar quanto ao destino de um filho Dele!

Não!!! Não, meus queridos amigos, permitam-me assim estertorar: NÃO!!!!!!!

Não temos o direito de presunçosamente envergar a Toga do Juiz Supremo e condenar, até porque é Ele, o Supremo Magistrado, também o Ser de Inexcedível Amor. Mais que isso, é o próprio Amor em Perfeição Absoluta. Não sabemos se o Coração Sublime de Deus deliberará perdoar e embalar em seus Braços Celestiais aquele pobre suicida. Não é o Perdão um dos mais enfatizados ensinamentos do Mestre Amado de Pura Luz? Não foi da boca do Amor Enquanto Carne que ouvimos a sentença maior do perdão incondicional, não sete mas setenta vezes sete vezes se preciso for?

Como, então, podemos condenar sumariamente um suicida? Que sabemos nós daquele ser que, quem sabe, vitimou-se pelo insidioso veneno da desesperança? Que sabemos nós do espinheiro por ele suportado? Que sabemos nós de sua corrosão interior? Que sabemos nós !!!???

Eu não ouso julgar quem tira sua própria vida. Sei que o reflexo desse ato sobre si mesmo é muito doloroso. Isso me faz lembrar, sempre e sempre, da Indulgência e de minha pequenez diante do Pai Eterno.

Outra ótica pela qual podemos abordar o tema “suicídio”, diz respeito ao aspecto filosófico-espiritualista. Por que o suicídio tem conseqüências diferentes da morte indesejada?

Imaginemos duas pessoas à beira de uma ferrovia, uma desejando jogar-se diante do trem que se avizinha e a outra buscando dissuadi-la. Admitamos que o suicida efetivamente deseja matar-se e que o seu amigo sequer cogita desse desfecho para si mesmo, buscando apenas ajudar o seu insensato companheiro. O trem se aproxima e o suicida, de um rompante, se joga nos trilhos; o amigo tenta agarrá-lo mas termina por desequilibrar-se e cai junto com ele. A morte do corpo físico se dá em condições idênticas para ambos. Os corpos são literalmente destroçados.

Do ponto de vista objetivo, as duas mortes ocorrem em situações idênticas. Como entender que o suicida tenha conseqüências diferentes do não-suicida? 

Independentemente de considerações religiosas, o ponto mais relevante aqui é o elemento volitivo, a vontade interior, verdadeira, a motivação, o elemento psicológico que embala a conduta de um e de outro. A vontade de produzir a aniquilação da própria vida, como é óbvio, vai ao contra-azimute da evolução. O único ser vivo que eventualmente cogita de matar-se é o homem. Nem mesmo o escorpião preso numa roda de fogo se suicida, ao contrário da crença popular – de fato, o pobre animal termina por debater-se em busca de fuga antes de morrer por efeito do fogo (afinal, o veneno já existe em seu organismo). Mas o homem, sim. O ser humano vez por outra, aqui e acolá, ontem e hoje, causa sua morte diante do olhar estupefato que esse comportamento desperta nas demais pessoas. Há mesmo quem deseje matar-se, quem tenha o intento real e verdadeiro de se destruir. 

O que ocorre quando existe a vontade real e efetiva de matar-se? 

Diante dessa vontade os milênios de evolução falham em seus automatismos. Não há processos que se deflagrem diretamente com o evento porque o fato em si foi produzido sob o concurso consciente de uma vontade dirigida. 

Se eu inadvertidamente encosto minha mão em uma chama, muito antes de qualquer conclusão a respeito os meus automatismos far-me-ão afastá-la com toda a rapidez. Uma ação do arco reflexo, alheia à minha consciência. Mas se eu desejar – seja lá por qual razão – colocar minha mão no fogo, conseguirei mantê-la ali até que os imperativos de dor vençam a minha vontade. Talvez por mais tempo. 

Com o suicídio há algo análogo. Se a morte não foi em nenhum momento DESEJADA, todos os processos se desdobram consoante a natureza determina; no entanto, quando a morte ocorre por vontade livre e determinada do suicida, não é a alma que deixa o corpo físico – é o corpo físico que é retirado da alma. 

Lá no nosso exemplo hipotético, enquanto Tício desejava morrer, Lívio buscava salvá-lo. Tício teve seu corpo destroçado e assim arrancado de sua alma; já Lívio, nas mesmíssimas condições, teve sua alma retirada de um corpo destruído. 

Em termos espiritualistas, o desprendimento do corpo espiritual não se deflagra automaticamente quando o colapso do corpo físico é atingido por ação de uma vontade consciente. Cada ponto de contato entre um e outro, com todas as miríades de reflexos etérico-energéticos, tenta manter-se firme conquanto a base material seja destruída ou seja posta em colapso até sua destruição final. O efeito disso é um sistema desequilibrado por ostentar vínculos que são assim destruídos e não progressivamente desfeitos. 

Daí dizer-se que o ser permanece “em perturbação” pelo tempo de vida que lhe restaria no corpo físico. Há mesmo um fundo de verdade nessa imagem que lembra uma punição, um castigo pelo pecado cometido. De efeito, o suicida leva muito tempo para reequilibrar o seu corpo espiritual, enquanto que o não-suicida, mesmo que tenha morrido em situações objetivas idênticas, tem esse restabelecimento automaticamente realizado pelo desprendimento natural. 

Não se trata propriamente de um castigo. Como tudo na Vida, o que se tem é uma conseqüência. Causa e efeito. Carma, no dizer de muitos. 

Também por esse aspecto, não devemos julgar o suicida. Não estará sendo castigado. Estará sofrendo tristemente as conseqüências de seu ato. Mas sempre e sempre por tempo determinado, não se aventando de penas eternas ou perdição perene. 

Se alguém que você ama matou-se, ore por ele. Ore pedindo a Deus por sua alma. Peça ao Pai Eterno que o ajude, que o envolva com seu Amor. Não se revolte nem procure respostas, apenas ore. 

Cada oração profunda e sentida é um jorro de energia radiante, uma bênção de Luz que Deus nos concede. Energia radiante que ajudará a reequilibrar os nós que mantêm a alma do suicida presa em seu desatino. 

São apenas cogitações...


Apenas uma observação:

Inevitavelmente isso me faz lembrar aquelas discussões entre físicos... Eisntein dizia a Bohr "eu não acredito que isso aconteça", ao passo que o dinamarquês retrucava "mas é assim que acontece"...

Hoje em dia ninguém duvida que ambos tinham boas razões para os respectivos pontos de vista. Ainda não sabem exatamente COMO É... Mas já conhecem bem mais do que naquela época, ainda não se tendo eliminado nem uma coisa nem outra...

sábado, 9 de janeiro de 2010

CONDIÇÃO HUMANA - Ramatís

Uma interessante abordagem feita por Ramatís na obra "Magia de Redenção" (pág. 187):


Sem dúvida, Deus criou o mundo, o homem e disciplinou todas as manifestações da vida do espírito na carne, de modo a consolidar as consciências individuais e conduzi-las à felicidade eterna. Por isso o homem é uma consciência individual ligando-se pelo fio do espírito às diversas personalidades humanas, constituindo-se numa espécie de colar vivo que o vincula à própria vivência do céu!


O Ego vivenciado absorve nossa consciência e nos cremos o ser que está cogitando de si nesse momento... No entanto, somos o todo integral de bagagem conquistada desde que atingimos a individualidade consciente, deixando de ser um princípio inteligente em progressão para adentrarmos, mais propriamente, à condição humanizada de Espírito.


Eis-nos aí... Nossa memória ainda restrita apenas à história desta última jornada, ou, quando muito, com algumas esparsas reminiscências... Cogitamos e buscamos nos situar ante o aguilhão que nos conduz à ascensão.


Esse o momento de meditarmos. O que é você? Quem é você? Uma abstração temporária, uma ilusão concreta, uma parcela de um todo ainda não compreendido nem no início, nem em sua infinitude...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A CONDIÇÃO HUMANA - 2


É muito difícil entender exatamente em que ponto o ser adquire discernimento suficiente para identificar o caráter ilícito de uma conduta, deixando de se arrastar pelos instintos para decidir sobre o que deve ou não ser feito. Kardec denomina paixões os impulsos que advêm do instinto de conservação, paixões cujo exercício constituem uma necessidade para o atendimento das necessidades materiais das primeiras fases da existência corpórea do Espírito. Em um dado momento, o ser entende que deve atender a essas necessidades ao mesmo tempo em que se vai estabelecendo uma escala de valores em sua incipiente capacidade de avaliação. O ser passa a considerar, desde os rudimentos mais simples, a idéia de certo e errado. Para cada aumento na capacidade de valorar entre certo e errado, aumenta-lhe simetricamente a responsabilidade pela decisão que tomar.

Essa responsabilidade progressiva a partir de certo grau traz a plena imputabilidade do ser humano como sujeito de acertos e desacertos, tornando-o o legítimo destinatário das conseqüências de seus atos.

O ensinamento ministrado no Capítulo VI de A Gênese foi assinado por Galileu (esse capítulo é textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título - Estudos uranográficos e assinadas GALILEU – nota à página 103). Ele revelou a temeridade de ofertar uma exposição clara e pretensamente completa acerca da conquista do livre-arbítrio pelos Espíritos. Ainda assim é um ensinamento profundo e que não podemos ignorar:

Até aqui, porém, temos guardado silêncio sobre o mundo espiritual, que também faz parte da criação e cumpre seus destinos conforme as augustas prescrições do Senhor.
Acerca do modo da criação dos Espíritos, entretanto, não posso ministrar mais que um ensino muito restrito, em virtude da minha própria ignorância e também porque tenho ainda de calar-me no que concerne a certas questões, se bem já me haja sido dado aprofundá-las.
Aos que desejem religiosamente conhecer e se mostrem humildes perante Deus, direi, rogando-lhes, todavia, que nenhum sistema prematuro baseiem nas minhas palavras, o seguinte: O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização. Unicamente a datar do dia em que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma lugar no seio das humanidades.
De novo peço: não construais sobre as minhas palavras os vossos raciocínios, tão tristemente célebres na história da Metafísica. Eu preferiria mil vezes calar-me sobre tão elevadas questões, tão acima das nossas meditações ordinárias, a vos expor a desnaturar o sentido de meu ensino e a vos lançar, por culpa minha, nos inextricáveis dédalos do deísmo ou do fatalismo.
(A Gênese – pág. 117)


Entretanto, é do Ensino dos Espíritos a seguinte abordagem da questão do homem enquanto ser inteligente, em comparação aos animais.

592. Se, pelo que toca à inteligência, comparamos o homem e os animais, parece difícil estabelecer-se uma linha de demarcação entre aquele e estes, porquanto alguns animais mostram, sob esse aspecto, notória superioridade sobre certos homens. Pode essa linha de demarcação ser estabelecida de modo preciso?
“A este respeito é completo o desacordo entre os vossos filósofos. Querem uns que o homem seja um animal e outros que o animal seja um homem. Estão todos em erro. O homem é um ser à parte, que desce muito baixo algumas vezes e que pode também elevar-se muito alto. Pelo físico, é como os animais e menos bem dotado do que muitos destes. A Natureza lhes deu tudo o que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência, para satisfação de suas necessidades e para sua conservação. Seu corpo se destrói, como o dos animais, é certo, mas ao seu Espírito está assinado um destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre. Pobres homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis distinguir-vos deles? Reconhecei o homem pela faculdade de pensar em Deus.
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Ainda assim, o Ensinamento dos Espíritos, harmonicamente com o que foi dito antes (“o instinto é uma espécie de inteligência”), não distingue os animais como seres apenas instintivos.

593. Poder-se-á dizer que os animais só obram por instinto?
“Ainda aí há um sistema. É verdade que na maioria dos animais domina o instinto. Mas, não vês que muitos obram denotando acentuada vontade? É que têm inteligência, porém limitada.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Compreendendo que o livre-arbítrio é um atributo da inteligência, os Espíritos assim se expressam quanto aos animais:

595. Gozam de livre-arbítrio os animais, para a prática dos seus atos?
“Os animais não são simples máquinas, como supondes. Contudo, a liberdade de ação, de que desfrutam, é limitada pelas suas necessidades e não se pode comparar à do homem. Sendo muitíssimo inferiores a este, não têm os mesmos deveres que ele. A liberdade, possuem-na restrita aos atos da vida material.
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Os animais, pois, possuem liberdade de agir, conquanto nos limites de suas necessidades materiais. Mais do que isso, os animais são dotados de um corpo espiritual que é a sede dessa limitada inteligência, corpo espiritual que remanesce ao corpo físico e que conserva a sua individualidade após a morte deste.

597. Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria?
Há e que sobrevive ao corpo.”

a) - Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?
“É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.

598. Após a morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e a consciência de si mesma?
Conserva sua individualidade; quanto à consciência do seu eu, não. A vida inteligente lhe permanece em estado latente.
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

O princípio inteligente que progride nos corpos animais advém do elemento inteligente universal.

606. Donde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a alma de natureza especial de que são dotados?
“Do elemento inteligente universal.”

a) - Então, emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos animais?
“Sem dúvida alguma, porém, no homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no animal.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

De se notar que os Espíritos ensinam que entre a alma do homem e a alma do animal há uma imensa distância evolutiva:

[...]
Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus

... no homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no animal.
[...]

Evidencia-se que o princípio inteligente evolui até atingir a condição de individualidade e, depois, a consciência de si mesmo:

607. Dissestes (190) que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento?
“Numa série de existências que precedem o período a que chamais Humanidade.

a) - Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não?
“Já não dissemos que todo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sentir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Natureza. Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da Sua bondade, que se estende por sobre todas as suas criaturas.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Nesse texto de O Livro dos Espíritos, em consonância com o anteriormente referido ensino do Espírito referenciado como Galileu (A Gênese – pág. 117 – “O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização. Unicamente a datar do dia em que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma lugar no seio das humanidades.”), não parece haver outra possibilidade senão a de ver a origem comum do homem e todos os demais seres criados.  Veja-se que a pergunta pressupõe a alma como tendo sido o mesmo princípio inteligente dos seres inferiores da criação, advindo, da resposta afirmativa, que há identidade entre eles. Não há uma criação especial para o homem. Sem embargo, o homem representa já uma fase, essa sim (fase), especial em relação aos animais e seres mais simples.

De qualquer forma, é assim expresso pelos Espíritos:

610. Ter-se-ão enganado os Espíritos que disseram constituir o homem um ser à parte na ordem da criação?
“Não, mas a questão não fora desenvolvida. Demais, há coisas que só a seu tempo podem ser esclarecidas. O homem é, com efeito, um ser à parte, visto possuir faculdades que o distinguem de todos os outros e ter outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação do seres que podem conhecê-Lo.
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

Na tradução de J. Herculado Pires:

610. Os Espíritos que disseram que o homem é um ser à parte na ordem da Criação enganaram-se, então?
– Não, mas a questão não havia sido desenvolvida, e há coisas que não podem vir senão a seu tempo. O homem é, de fato, um ser à parte, porque tem faculdades que o distinguem de todos os outros e tem outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que podem conhecer.
(O Livro dos Espíritos – grifo original)

Os Espíritos deixam assente que há informações que só devem vir plenamente no tempo certo da maturação do conhecimento humano. Então, conquanto asseverem que a espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que podem atingir o conhecimento (que podem conhecê-Lo), é imperativo harmonizar-se esse informe com tudo o mais que foi codificado pelos Espíritos. A alma, ou seja, o Espírito encarnado, foi o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, como já destacado mais acima. Ademais o trecho mais significativo é:

[...] o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos [...]
(O Livro dos Espíritos – pergunta 607-A)

Na tradução de J. Herculano Pires:

[...] o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade, e com este a consciência do seu futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade dos seus atos [...]
(O Livro dos Espíritos – pergunta 607-A)

Desse modo, concluir nos estritos limites da parte final da resposta dada à pergunta 610, concebendo o homem como um ser originário de uma criação especial, criaria uma antinomia interna na Doutrina Espírita, situação inconcebível ante a origem dos ensinamentos.

Sem dúvida a interpretação para essa resposta, no contexto de tudo o mais que foi exposto pelos Espíritos, implica em considerar que o homem é especial aos olhos de Deus por ser homem. Ou seja, um ser que atingiu a fase de humanidade