O princípio inteligente progride dentre os animais às conquistas instintivas que permitem uma progressiva individualização, ao mesmo em que o raciocínio inaugura-se em fenômenos ainda fragmentários. Se observarmos, em meio aos metazoários em geral, digamos, uma tartaruga, veremos que o espécime não ostenta visíveis atributos de individualidade; um cão doméstico, por outro lado, tem nítidos contornos de individualização. Numa mesma ninhada, encontramos cães com "personalidades" muito diferentes. Nesse contexto, a questão da alimentação carnívora ganha outras possíveis considerações.
De fato, conquanto não exista uma regra absoluta quanto à alimentação humana (humanos, que muitos dizem ser uma espécie onívora), podemos alinhavar premissas válidas acerca do assunto. O homem herda de seu passado animal todo o conserto de instintos que, genericamente, podemos designar como "instinto de conservação", tomando de empréstimo a expressão usada nas obras "A Gênese" e "O Céu e o Inferno" (Kardec). Assim, o homem mantém o seu cabedal de instintos, aquisições sem as quais não teria progredido na senda evolutiva. Todavia, com a conquista do raciocínio contínuo (requisito para a individualidade plena), passa a cogitar de tudo o que aprende, chegando, num dado momento, à valoração moral de sua conduta.
Sendo assim, percebe que os demais metazoários que comungam deste planeta têm, uns mais outros menos, traços de consciência acerca de si mesmos. Mesmo os que comem carne com habitualidade vez por outra se vêem às voltas com a questão da matança de animais para fins industriais, como fonte de alimentação de massa. Milhões de animais são sacrificados, sem quaisquer preocupações com o nível de consciência, mesmo incipiente, que eventualmente tenham.
Só mesmo quem já viu a entrada de bovinos na fila do matadouro sabe como aqueles animais tocam-se de extrema angústia, ansiedade, desespero, medo... Percebem, de alguma forma, que vão morrer. Não precisamos nos deter nesta análise. O ponto relevante é: se podemos comer carne, como condição natural do ser humano, como poderíamos conciliar a depredação de metazoários com um nível mínimo de respeito cosmoético às vidas em progresso naqueles espécimes?
(Não vamos discutir aqui a opinião de quem não vê a necessidade de tais preocupações... Tampouco procuraremos explicar a sinceridade dessas preocupações.)
Inevitável vislumbrar a diferença de nível evolutivo entre um bovino e um peixe. O peixe é um metazoário cujos espécimes compõem, de modo evidente, um ente coletivo (não falamos de mamíferos aquáticos). Um cardume de peixes é, por assim dizer, um organismo coletivo. Na grande maioria os animais são assim, mas fica bem mais nítido em algumas espécies, notadamente de peixes. Bovinos reúnem-se em grupos, sem dúvida. No entanto, cada espécime tem grandes conquistas de individualidade, diferentemente do que ocorre com os peixes. Alguém já viu um espécime de peixe assumindo conduta individual, conforme as circunstâncias? Alguém já viu um peixe que aprende em algum experimento de laboratório? Os peixes, até onde se sabe, não sofrem o estresse oriundo da ansiedade, da angústia. Seus veios de energia não se refletem em fluxos hormonais no corpo físico, como ocorre com os bovinos, caprinos, equinos etc. Mesmo que um peixe morra sem poder respirar, não deixará seu corpo físico banhado de substâncias bioquímicas denunciadoras do medo e da agonia que um bovino sente ao perceber-se prestes a ser morto. Um peixe "sofre" tão-somente a falência das funções vitais no corpo físico.
Eis aí uma grande diferença.
A carne em geral que comemos traz em si o registro do desespero do animal abatido. Já a carne do peixe, não. A Natureza é sábia. A carne mais saudável à alimentação do corpo físico do homem é também a menos danosa para sua consciência.
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