domingo, 3 de abril de 2011

Cristandade e dor... Mais alguns dados

Pesquisa feita na obra:

O livro negro do cristianismo
Jacopo Fo, Sérgio Tomat, Laura Malucelli


O interesse do Estado Romano nos cristãos:


Em 311, os pretendentes ao título de "augusto" eram quatro: Constantino e Magêncio, filho de Maximiliano, no Ocidente, e Valério Licínio e Maximino Daia no Oriente. Constantino se aliou a Licínio, concedendo-lhe a mão de sua irmã, Constância, e marchou rumo à Itália contra Magêncio. Em 312, naquela que é lembrada como a Batalha da Ponte Mílvio, mas que na verdade se iniciou em Saxa Rubia, Constantino derrotou Magêncio, que morreu durante a retirada,
tornando-se, assim, único senhor do Ocidente. Em 313, ele e Licínio promulgaram o Edito de Milão, que assegurava liberdade de culto aos cristãos e transformava o cristianismo em uma das religiões oficiais do Império Romano. Iniciava-se o processo de integração dos cristãos à sociedade romana e à organização do Estado. A liberdade de culto dada aos cristãos seria o pretexto para a luta pelo controle do Oriente entre Maximino (perseguidor dos cristãos) e Licínio (que, mesmo não sendo batizado, agia como defensor dos cristãos). A guerra no Oriente se encerra com a vitória definitiva de Licínio e o suicídio de Maximino.

[...] Licínio se revoltou contra Constantino. Surgiu, assim, umaguerra que teve Constantino como vencedor. Compelido à rendição, Licínio foi obrigado a lhe ceder quase todas as províncias orientais, mantendo apenas a Trácia.
Em 323-324, Licínio se rebelou novamente e de novo foi derrotado. Dessa vez, foi preso e morto, apesar das súplicas feitas por Constância ao irmão Constantino. A partir de então, desaparece qualquer resíduo da tetrarquia criada por Diocleciano, e Constantino domina como um monarca todo o Império Romano.

Concílio de Nicéia:

Em 325, acontece o famoso Concilio de Nicéia, o primeiro concilio ecumênico da Igreja Católica. Dele participaram cerca de trezentos bispos e prelados, na maioria orientais, sendo presidido por Osio, um homem de confiança do imperador. As principais questões abordadas foram o dogma da Trindade, a reafirmação da origem divina de Cristo e a condenação à heresia ariana.


(Constantino e a Cristandade)

[...] Constantino concedeu crescentes favores, financiamentos e reconhecimentos ao culto cristão. Os bispos, por exemplo, foram isentos do pagamento dos impostos, tornaram-se funcionários imperiais e até juízes de apelação. Em troca, obteve uma ingerência cada vez maior nos assuntos internos da Igreja, da qual se considerava "bispo externo".

[...]

Os historiadores contemporâneos garantem que a adesão ao cristianismo de Constantino foi convicta e sincera, e é provável que seja verdade, se levarmos em consideração que as concessões religiosas de um oficial romano da época eram bem diferentes das nossas: "...a função do imperador é a de se colocar como sujeito coletivo que represente toda a cidade e todo o mundo (orbis), na qualidade de Imperator orbis. De fato, o primeiro encargo que Augusto reserva a si mesmo é o de Pontifex Maximus, representante junto à divindade que constitui o pacto da aliança [...] E isso continua em vigor até Constantino. Roma, portanto, através de seus sacerdotes, de seus institutos, de seus colégios coletivamente representados pelo imperador, pede à divindade três coisas:
1. a fertilidade das mulheres (tanto mães quanto Mulheres, pois, para os
romanos, havia pouca distinção);
2. a vitória dos exércitos;
3. a paz social.
Em troca, ofereciam o culto às divindades.

[...]

Por volta de 314, ao menos dois grandes movimentos heréticos surgidos no norte da África, onde se encontravam as comunidades cristãs mais numerosas e ricas do Império, preocupavam Constantino.
O primeiro foi o cisma dos donatistas, um movimento rigorista, contrário aos compromissos com o poder imperial, que contava com muitos prosélitos e que, em 311, chegou a eleger em Cartago um antibispo, em contraposição ao legítimo.
Constantino, após tentar uma mediação, acabou apoiando o bispo legítimo Ceciliano, subvencionando a Igreja "oficial", proibindo que os donatistas usassem os locais de culto e negando o asilo para alguns de seus líderes. Em seguida, seu filho Constante promoveu uma perseguição ainda mais cruel e sanguinária contra eles.


O outro movimento era muito mais perigoso: tratava-se dos agostinianos, um verdadeiro exército de guerreiros em nome de Cristo. Os agostinianos eram expoentes de classes populares com reivindicações políticas e sociais, como a libertação dos escravos, o perdão das dívidas e o fim dos usurários.
Eles se organizavam em batalhões armados que realizavam incursões avassaladoras nas grandes propriedades, incendiando casas e matando as famílias dos latifundiários mais odiados.
Foram massacrados pelas tropas imperiais.

Ário

Na época de Constantino, outra grande disputa dividia o cristianismo. Principalmente no Oriente, os cristãos haviam se dividido entre partidários e adversários de Ário, um presbítero da diocese de Alexandria.

Ário e seus seguidores afirmavam que o Filho de Deus, ao contrário do Pai e tendo sido por Ele criado, teve um início; portanto, Cristo representava uma divindade de segundo plano. Foi para resolver essa questão que Constantino convocou, em 325, em Nicéia (na antiga Turquia), aquele que ficou na história como o primeiro concilio geral da Igreja Católica. Dele participaram mais de 300 bispos e prelados, com exceção do bispo de Roma, que mandou dois representantes.
As conclusões desse primeiro concilio foram muito importantes para a história da Igreja. A grande maioria dos padres aprovou um Credo, no qual se afirmava que o Filho fora gerado, e não criado, com a mesma substância do Pai (em grego, homooüsion, quando, para os arianos, era apenas homoioúsion, ou seja, "de substância similar"). Pela primeira vez, foi proclamado dogma, ou seja, verdade revelada, um termo que não estava contido nas Escrituras (em nenhuma passagem, o Novo ou o Antigo Testamento afirmam que o Filho é consubstanciai ao Pai). Além disso, os Padres Conciliares declararam sua crença no Espírito Santo, tradução do hebraico ruah, que era, no entanto, de gênero feminino.

[...]
O Concilio não marcou o fim do arianismo. Entre 327 e 328, Constantino reabilitou Ário e alguns de seus seguidores, e nomeou como conselheiro o bispo ariano Eusébio de Nicomédia, que o batizaria em seu leito de morte. Pelo contrário, a partir de 326 foram exiladas dezenas de bispos antiarianos. Sucederam-se vários combates entre facções, com muitos mortos e feridos; concílios e contraconcílios, que condenavam ora uma tese, ora outra; de exílios e de retornos; de perseguições por parte de imperadores "arianos" e "niceianos".
[...]
Todos os historiadores concordam que Constantino não entendia nada de questões doutrinárias. A única coisa que lhe interessava era tornar o cristianismo uma crença homogênea, sem nuances, sem ambigüidade, livre de conflitos internos perigosos.
[...]
Os cristãos, que ainda exibiam na carne os sinais das perseguições, tornaram -se perseguidores. Durante os últimos anos de vida de Constantino, vários templos pagãos foram demolidos, sobretudo no Oriente. Outros templos continuaram em atividade, mas foram despojados de tudo que tinham de precioso: estátuas, objetos preciosos, revestimentos de ouro e prata, portas de bronze. Muitas obras de arte foram levadas para embelezar a nova capital: Constantinopla.

(Após Constantino)

O imperador Teodósio II (408-450) mandou punir algumas crianças, culpadas de brincar com restos de estátuas pagas. E, de acordo com os elogios dos cristãos, Teodósio "seguia conscienciosamente cada ensinamento cristão". Em 415, em Alexandria, uma turba de fanáticos cristãos linchou a matemática, astrônoma e filósofa neoplatônica Hipácia, importante expoente da cultura pagã.

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