O tema a seguir é dos mais polêmicos que se pode abordar... Toca a religiosidade das pessoas... Toca preconceitos enraizados em séculos de informação e desinformação...
Ofereço as seguintes cogitações com a alma aberta.
Não pretendo convencer ninguém!
Não defendo nenhuma religião!
Não tenho autorização para falar em nome de nenhuma instituição!
Digo apenas o que penso.
Não quero sonegar a minha parcela. Se não concordar com o que digo, defenderei até a morte o seu direito de discordar.
Vamos lá.
O estudo da tradição esotérica ostenta logo em seu início abordagens acerca da dualidade, entendida essa como a contraposição de conceitos ou valores em um sistema parecido com a dialética hegeliana. A dualidade é a forma como o todo universal é percebido pelo ser humano. O homem costuma considerar tudo à sua volta através de elementos duais como alto e baixo, feio e belo, forte e fraco, essencial e supérfluo, quente e frio, noite e dia, enfim, o yin e yang em que se assentam suas possibilidades cognoscitivas.
Também no que diz respeito à Ética, o homem mais do que nunca se alicerça em uma antiquíssima dualidade: o Bem e o Mal. Os sistemas religiosos, ainda que se diferenciem sobremaneira em variados aspectos, sempre têm na dualidade “Bem – Mal” a pedra basilar de sua doutrina.
O estudo de obras como “Dogma e Ritual de Alta Magia”, conhecido livro de Eliphas Levi, legam-nos preciosos ensinamentos acerca da unicidade da Criação e, por extensão, do Criador. Mais ainda, evidenciam-nos que a dualidade nada mais é do que a manifestação da unidade. Devemos entender manifestação aqui como a forma perceptiva do ser humano, ou seja, o modo como o homem pode perceber e conhecer essa unidade. Ninguém duvida que para entendermos o que é o frio devemos saber o que é o quente. Mesmo considerando a existência do morno, tal conceito só é assimilável, ainda por mais forte razão, se forem conhecidos os limites dos quais ele eqüidista.
Sendo a dualidade a manifestação da unidade e partindo-se da premissa de que a Criação é um todo único, como único é o Criador, devemos também assim considerar a dualidade “Luz – Trevas”. Preferimos assim dizer, ao invés de “Bem – Mal”, porque a distinção do que é bom, em contraposição àquilo tido por mau, muito mais confunde do que esclarece. Nem sempre sabemos se algo é mesmo bom ou ruim, mas temos razoável noção acerca de como a Luz se manifesta em contraposição às Trevas.
Uma imagem poética, utilizada por Levi, para explicar as Trevas é a decisão de Deus que, para mostrar aos homens o valor da Luz, lançou o seu mais precioso filho nos abismos, aludindo à simbologia de Lúcifer. Nesse mesmo concerto, Levi também explica que o Mal existe para triunfo do Bem.
E é isso mesmo. O fenômeno trevoso tem sempre uma razão de ser advinda dos desequilíbrios a que a alma, na exata medida de sua consciência e responsabilidade, lança a si própria.
Uma alma inicialmente predisposta a realizações de vulto do ponto de vista espiritual, e que, por infinitas razões e circunstâncias, deserta do planejamento e se põe em sentido contrário da linha cármica inicial, sofrerá a inversão desse carma. Estamos falando de renúncia absoluta aos impulsos de elevação e entrega plena aos impulsos de animalidade, quando o ser voluntariamente se põe a reagir como uma fera indômita e alheia a todos os imperativos de auto-aperfeiçoamento. A inversão do carma significa que as experiências e realizações, que ocorreriam sob o domínio da Luz, operar-se-ão sob o domínio das Trevas. O ser estará, em razão do caminho por si livremente adotado, sob a influência direta dos espíritos que emanam de si os padrões desarmônicos e perturbados de seu tom vibratório grave, de baixa freqüência.
Claro que isso significa muita dor e sofrimento, diga-se, por um tempo que raramente o ser humano imagina pudesse ser tão longo. Mas não se trata de castigo. Ainda que o linguajar e conteúdo das imprecações reinantes nesse plano denso remetam à noção de inferno e punição eterna. Durante todo o tempo em que estagia nas Trevas, o espírito se põe em realizações dantescas. Busca e aprisiona almas atormentadas, cuja condição evolutiva as dirige exatamente para aquele destino. Submete-se a uma rigorosíssima hierarquia negra, sofrendo em praticamente tudo o que faz. Acompanha agressões espirituais no concerto da magia negra praticada largamente sob o interesse dos líderes que disputam o poder naquelas plagas, seja em prejuízo de outros grupos, seja em prejuízo de encarnados que de alguma forma se põem ou são postos no alvo da maldade ali reinante.
Mas, veja-se, a experiência de progresso dessa alma, como já dito, far-se-á ali, sob o domínio das Trevas. O tempo é longo porque o espírito há de desenvolver toda uma capacidade de bem agir no meio denso trevoso, só então voltando a ser instrumento utilizável pela Luz para seus cometimentos. É literalmente isso. Quando o ser, submetido às Trevas por tempo suficiente, passa a dominar os fluidos de seu meio a ponto de manipular e poder destruir emanações perniciosas, é novamente convocado pela Luz para agir em defesa daqueles que se vitimam por trabalhos de magia negra ou feitiçaria.
Eis aí o carma invertido. O Bem é extraído da essência do Mal para seu próprio triunfo. Não esqueçamos que o soro que salva é feito do veneno que mata. É óbvio que a Divindade não precisa de instrumentos que tais para realizar o que quer que seja, mas é exatamente esse aspecto que denota ser carma invertido do trevoso a oportunidade de comungar dos intentos superiores. De qualquer forma, é de se observar que os mensageiros dos planos superiores efetivamente experimentam enormes dificuldades em se aproximar das regiões abissais.
Se a convocação frustrar-se, novamente por livre-arbítrio do convocado, permanecerá ele nas Trevas. Poderá recrudescer
ainda mais, tornando-se um líder trevoso, ou mesmo um Mago Negro. Nem por isso, leve o tempo que levar, conseguirá prolongar indefinidamente sua estada nas Trevas. Milênios e milênios passarão. Mas dia chegará em que, ante o chamamento que se avoluma em sua essência, finalmente retornará ao bom combate e se porá sob o impulso da Luz, ainda que esteja no mais profundo abismo.
Por outro lado, se a alma for tíbia e se acovardar, ficará na triste condição de aprisionado das Trevas. Um dia, quando um espírito convocado e sob o impulso da Luz tiver condições de receber-lhe o sincero pedido de socorro, será libertado e
levado ao socorro que mereça. Tanto um como outro terão permanecido nas Trevas por absoluta necessidade de reequilíbrio, sob a orientação da Luz.
Os espíritos que se tornam trevosos convocados ao trabalho pela Luz são genericamente chamados Guardiões das Trevas. Dentre eles, máxime no Brasil, muitos são conhecidos como Exus, comandantes de verdadeiros exércitos de almas atormentadas, as ditas falanges, para a realização do importantíssimo trabalho da Luz nos estamentos mais densos dos abismos de dor e sofrimento. Particularmente os Exus estão sob cruel confusão na opinião geral dos encarnados. Os Exus em geral, conquanto seja muito amplo e variado o trabalho por eles desempenhado, vale repetir, basicamente são Guardiões que atuam nos fluidos mais densos, eliminando processos trevosos que vitimam encarnados e desencarnados.
Imperioso destacar que muitos espíritos se apresentam como Exus sem que o sejam. São entidades que praticam o mal pura e simplesmente, em troca de oferendas ou por determinação de líderes trevosos. Os Exus propriamente ditos estão efetivamente nas Trevas, mas delas se destacam na realização de intentos superiores, da Luz.
Ainda mais importante é registrar que a existência de oferendas materiais ocorre tanto a pedido de entidades perversas como de Exus verdadeiros. As oferendas, mesmo constituindo um ritual material e primitivo, são necessárias para atender a ansiosa expectativa dos membros das falanges comandadas pelo Exu. Velas, sal, aguardente, comidas condimentadas, pólvora, são elementos pelos quais anseiam os espíritos que se submetem ao comando do Exu, daí porque serem pedidas em seu próprio nome. Os elementos materiais são absorvidos, seja por contato direto, como no caso das emanações dos destilados ou do condimento exacerbado, seja por vibração de cores sob a luz da vela, muitas vezes a única forma de iluminação que a alma recebe como sua. Não é boa conduta, portanto, denegrir o fenômeno espiritual tão-somente por se fundar em oferendas primitivas. Quem assim faz, a bem da verdade não sabe do que está falando.
O trabalho desenvolvido nos cemitérios, por outra, é exemplo interessante da atuação dos Exus. Os duplos etéricos em dissociação nas semanas que sucedem ao colapso do corpo físico são estruturas de energia radiante pelas quais lutam entidades de todos os níveis das Trevas. Os espíritos que permanecem nos cemitérios após a morte do veículo físico, seja por não saberem para onde ir nem terem quem os aguarde, ou por medo, ou por esperarem juízo final, enfim, são vítimas fáceis para processos de vampirização por entes trevosos. São os Exus que cumprem com a relevante tarefa de proteger os espíritos nos cemitérios, literalmente montando guarda dos depojos, dos duplos etéricos e das almas atormentadas. São os Exus Caveiras. Identificam-se com o simbolismo do crânio humano por evidente associação com suas funções. Até mesmo nos centros de atividade mediúnica ocorre de serem confundidos com entidades malignas. Curioso que quando aprisionam um espírito vampirizador por vezes levam-no a uma casa de atividades espiritualistas para serem recebidos e encaminhados, não raro acontecendo de serem eles próprios, Exus, confundidos com entidades maléficas...
Perfeito o texto, amigo Marco!
ResponderExcluirÉ pena que não podermos compartilhá-lo naquele outro espaço que frequentamos (Fórum Espírita).
Abraços do amigo
Brenno Stoklos