A influência do livre arbítrio de cada um no aperfeiçoamento de si mesmo não pode ser abstraída. Há uma tendência em tomar-se a Natureza, ante seus mecanismos surpreendentes e sob minudente sincronismo desde o micro até o macrocosmo, como um moto-contínuo alheio à consciência de cada evolucionário. Mas isso equivaleria a reduzir a essência pensante do ser a um mero cosmético no contexto mecanicista com que a concepção cartesiana insiste em se insinuar na objetividade ocidental.
Sim, sem dúvida, há imensos sistemas evolucionários entrelaçados, cada qual fluindo na perfeição do todo. Mas não é senão a mente o instrumento mais importante de cada consciência em aperfeiçoamento. Isso implica no uso racional da vontade.
Imaginemos duas rochas de granito. Têm sua rugosidade excessiva sobre toda a superfície. Aplica-se numa delas uma lixa fina, sob pressão não muito grande, de pouca variação mas de modo constante. Eis aí --- salvo as exceções que só contingências cármicas podem explicar --- uma imagem da influência do meio, das circunstâncias de vida, no ser em particular.
Já na outra rocha, além da pressão dessa lixa mais fina, aqui e ali é pressionada uma lixa de abrasividade muito maior. Aplicada com vigor, rebaixa as imperfeições com maior eficiência, reduzindo-as a rugosidades que, finalmente, demandam mais tempo e até uma lixa menos rude. Temos agora uma parca porém válida imagem da boa vontade do indivíduo em corrigir suas naturais excrescências, suas rudezas, reduzindo-as a veios mais delicados e que demandarão, de toda sorte, uma ação mais longa e mais sutil.
Se apenas as circunstâncias do viver atuarem no ser, ainda assim, leve o tempo que levar, sejam quantas forem as reentradas no plano das formas, ocorrerá o polimento inevitável. Mas cada ação voluntária no aperfeiçoamento de si mesmo garantirá a esse ser um avanço de inegável eficiência no próprio melhoramento.
A sutil diferença que leva uma pessoa a demorar-se mais pela ação do tempo, com apequenado elemento volitivo, é muito difícil de ser elucidada. Demandaria o exame de toda a sua história pretérita desde o alcance da consciência contínua. Tarefa impossível para nós em relação a nós mesmos, e em relação a quem quer que seja.
O fato é que, como resultante de todas as (quase) infinitas variáveis da existência do ser, põe-se mais desta ou daquela forma. Na maioria das vezes, a vontade de melhoria interior está presente, seja manifesta ou não. Ademais, em uma mesma humanidade existem seres de variáveis condições. É da Natureza que seja assim. Entre o mais espiritualizado homem e o mais rude irmão de jornada, há enormes diferenças. Mas eles convivem, bastas vezes, em sociedades humanas complexas, uns funcionando em amparo, exemplo, auxílio e até para tormento de outros.
Uma pessoa de amoralidade abjeta, capaz das mais hedionda violência, faz parte do mesmo contexto evolutivo em que surge um Mahatma Gandhi.
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