domingo, 15 de maio de 2016

A RODA DA VIDA

Já tive oportunidade de escrever sobre a simbologia do Tarot, tomando por base a variante mais conhecida, o Tarot de Marselha. O Arcano 10, tradicionalmente chamado “A Roda da Fortuna”, designo-o como “Os Ciclos”. De fato, a natureza se manifesta em ciclos. Tudo são ciclos. As oportunidades surgem e se fecham consoante os ciclos de cada ente envolvido. As conquistas perante o mundo (a tudo o que se dá o devido valor, vem-nos por acréscimo da missão a se cumprir), oportunidades que surgem, boa sorte, mas também frustração, fechamento das oportunidades, perdas. O mais importante é que na Vida, entendida esta como algo muito além de nossa jornada no seio de uma existência física, neste plano material, está sempre e sempre a nos proporcionar as experiências indispensáveis ao nosso aprimoramento espiritual. Simplesmente porque é essa a finalidade da Vida.

Deus, concebido em nossa limitadíssima percepção como a Harmonia Universal, que sustenta o todo existencial no seio de Seu Pensamento, deflagra a grande explosão que espraia de Si o início da Grande Obra. Desde então surge a Natureza, a Divindade Manifesta, e, inapelavelmente, a Roda da Vida começa a girar.

Entre o microcosmo dos ainda insondáveis mistérios quânticos ao macrocosmo dos não menos misteriosos parâmetros relativísticos, o homem se embala numa faixa pequena de vibrações de som, luz e densidade. Vive numa microscópica fresta do espectro em que a Natureza se agiganta. Mas vive sob o mesmo império do Verbo, da Vontade Divina, que aqui faz cristais minerais abrirem gemações como flores, para surpresa de geólogos, muitos descrentes tão só por se acostumarem a vislumbrar ali um “fenômeno natural”.

A Vida amolda manifestações progressivamente mais individualizadas, de simples algas azuis ao desconcertante cérebro humano, como que num caprichoso jogo de ilusionismo para os mecanicistas carentes de melhor explicação à matéria que vive e se aperfeiçoa.

Enfim... A Vida nos impulsiona continuamente para que a centelha divina que nos dota da condição exatamente de vivos, siga adiante em suas infinitas possibilidades de ascensão em todos os setores que, em cada momento, possam ser mais bem lapidados.

Tempestades cortam os céus com raios e chuvas intensas. A dor e eventuais destruições causadas só nos parecem caóticas porque não atentamos para a necessidade de manutenção do ciclo das águas que, dentre tantos aspectos, limpam a atmosfera, lavam superfícies e carregam consigo invisíveis esporos de vida primitiva mas perniciosa aos organismos mais complexos.

O mesmo sol que, sob descuidada busca por tons acobreados à pele causa melanomas, é absorvido pelo fitoplâncton mantendo abastecida a atmosfera com o oxigênio indispensável.

E no contexto essencialmente humano, na conduta, no comportamento, no aprendizado dos valores magnos da Vida, para os quais sequer boas definições temos, a Vida nos embala sob o mesmo e intenso ardor. A pessoa passa pela dor e aprende a evitá-la. Passa pelas perdas e aprende a cultivar carinho e atenção. Passa por todos os medos para desenvolver o senso de confiança transcendente, aprendendo a antever a Harmonia mesmo ainda incompreendida.

Eis aí a chave para compreender o Arcano 10 do Livro de Toth.

Nós passamos por todos os medos que a Vida nos traz para desenvolvermos o senso de confiança transcendente, aprendendo a antever a Harmonia mesmo ainda incompreendida.


"Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas necessidades vos serão dadas por acréscimo". (Mt 6, 24-34)

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