Já tive oportunidade de
escrever sobre a simbologia do Tarot, tomando por base a variante mais
conhecida, o Tarot de Marselha. O Arcano 10, tradicionalmente chamado “A Roda
da Fortuna”, designo-o como “Os Ciclos”. De fato, a natureza se manifesta em
ciclos. Tudo são ciclos. As oportunidades surgem e se fecham consoante os
ciclos de cada ente envolvido. As conquistas perante o mundo (a tudo o que se
dá o devido valor, vem-nos por acréscimo da missão a se cumprir), oportunidades
que surgem, boa sorte, mas também frustração, fechamento das oportunidades,
perdas. O mais importante é que na Vida, entendida esta como algo muito além de
nossa jornada no seio de uma existência física, neste plano material, está
sempre e sempre a nos proporcionar as experiências indispensáveis ao nosso
aprimoramento espiritual. Simplesmente porque é essa a finalidade da Vida.
Deus, concebido em
nossa limitadíssima percepção como a Harmonia Universal, que sustenta o todo
existencial no seio de Seu Pensamento, deflagra a grande explosão que espraia de
Si o início da Grande Obra. Desde então surge a Natureza, a Divindade
Manifesta, e, inapelavelmente, a Roda da Vida começa a girar.
Entre o microcosmo dos
ainda insondáveis mistérios quânticos ao macrocosmo dos não menos misteriosos
parâmetros relativísticos, o homem se embala numa faixa pequena de vibrações de
som, luz e densidade. Vive numa microscópica fresta do espectro em que a
Natureza se agiganta. Mas vive sob o mesmo império do Verbo, da Vontade Divina,
que aqui faz cristais minerais abrirem gemações como flores, para surpresa de
geólogos, muitos descrentes tão só por se acostumarem a vislumbrar ali um “fenômeno
natural”.
A Vida amolda manifestações progressivamente mais individualizadas,
de simples algas azuis ao desconcertante cérebro humano, como que num
caprichoso jogo de ilusionismo para os mecanicistas carentes de melhor
explicação à matéria que vive e se aperfeiçoa.
Enfim... A Vida nos
impulsiona continuamente para que a centelha divina que nos dota da condição
exatamente de vivos, siga adiante em
suas infinitas possibilidades de ascensão em todos os setores que, em cada
momento, possam ser mais bem lapidados.
Tempestades cortam os
céus com raios e chuvas intensas. A dor e eventuais destruições causadas só nos
parecem caóticas porque não atentamos para a necessidade de manutenção do ciclo
das águas que, dentre tantos aspectos, limpam a atmosfera, lavam superfícies e
carregam consigo invisíveis esporos de vida primitiva mas perniciosa aos
organismos mais complexos.
O mesmo sol que, sob
descuidada busca por tons acobreados à pele causa melanomas, é absorvido pelo
fitoplâncton mantendo abastecida a atmosfera com o oxigênio indispensável.
E no contexto
essencialmente humano, na conduta, no comportamento, no aprendizado dos valores
magnos da Vida, para os quais sequer boas definições temos, a Vida nos embala
sob o mesmo e intenso ardor. A pessoa passa pela dor e aprende a evitá-la.
Passa pelas perdas e aprende a cultivar carinho e atenção. Passa por todos os
medos para desenvolver o senso de confiança transcendente, aprendendo a antever
a Harmonia mesmo ainda incompreendida.
Eis aí a chave para
compreender o Arcano 10 do Livro de Toth.
Nós passamos por todos
os medos que a Vida nos traz para desenvolvermos o senso de confiança
transcendente, aprendendo a antever a Harmonia mesmo ainda incompreendida.
"Buscai, em
primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas necessidades vos
serão dadas por acréscimo". (Mt 6, 24-34)
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