quarta-feira, 12 de setembro de 2018

INSTINTOS

Na literatura clássica do Espiritismo há uma asserção que, na maioria das vezes, passa sem maior atenção. Inclusive, já foi aqui abordada em meio a um texto genérico sobre as obras da Codificação:

A comunhão essencial entre instinto e inteligência é um ensinamento expresso dos Espíritos. Tanto assim que não há uma linha clara de delimitação entre instinto e inteligência.

74. Pode estabelecer-se uma linha de separação entre o instinto e a inteligência, isto é, precisar onde um acaba e começa a outra?
Não, porque muitas vezes se confundem. Mas, muito bem se podem distinguir os atos que decorrem do instinto dos que são da inteligência.”

75. É acertado dizer-se que as faculdades instintivas diminuem à medida que crescem as intelectuais?
Não; o instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Ele quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se transvia.
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

O ser humano comunga da formação do veículo físico orgânico, como visto, tanto quanto do desenvolvimento de sua consciência, adquirindo sua bagagem de instintos assim como a noção de sua individualidade, aperfeiçoando-se na aquisição da inteligência conforme novos horizontes se abrem degrau a degrau na escala evolutiva.

Pois bem.

Estamos abordando novamente a questão da Inteligência e do Instinto. De se ver que a resposta pelos Espíritos da Codificação não dá margem a dúvidas maiores, notadamente na questão nº 75 acima transcrita.

O Instinto NÃO é uma forma primitiva de inteligência, algo germinativo que aflora como Inteligência conforme o ser evolui. O Instinto não é uma forma primeva de inteligência, tampouco deixa de existir à medida que a Inteligência progride e dá ensejo à Razão.

Equivale a afirmar, atualizando só em mínima parte a terminologia usada, que o acervo de impulsos do homem é uma bagagem de conquista evolutiva que permanece e (nada impede assim considerar) também se submete à Lei do Progresso, nada existindo que nos indique estar no ápice de seu burilamento.

É o Instinto que faz o ser vivo assumir determinados comportamentos para fazer frente a necessidades imperativas, ou mesmo para evitar perigos. Ninguém desconhece que os sertanistas ficavam (e ficam) preocupados quando percebem que os animais de uma dada área geográfica se põem em retirada. 

Estamos tratando de Esoterismo. Então vamos desbordar do que a ciência ortodoxa se impõe como limite.

Tanto no Espiritismo como nas demais escolas de pensamento espiritualista há a figura do Espírito-grupo. Consciências que se dedicam ao controle e coordenação de seres já suficientemente avançados mas ainda não dotados de todos os requisitos para abrigar uma mente consciente, um foco de inteligência, uma interface egóica para se autoconduzir na senda do aperfeiçoamento.

Não sei bem o porquê mas há muitos que não se afeiçoam a esse tópico dos estudos. Isso certamente colabora para a pequena quantidade de informações que já foram colhidas.

Mais do que tudo, os Espíritos-grupo parecem mesmo visceralmente ligados à consideração dos instintos que fazem metazoários agir.

Aliás, muito mais do que isso.

Sim, desde seres unicelulares e vegetais há todo um concerto de atividades que fazem cada manifestação da Vida, ainda que sem quaisquer eivos de consciência, assumirem esse ou aquele comportamento.

Não precisamos repisar várias considerações já feitas sobre isso.


http://esoestudos.blogspot.com/2010/05/o-que-e-vida.html 

O que mais interessa agora é considerar essa informação em particular:


75. É acertado dizer-se que as faculdades instintivas diminuem à medida que crescem as intelectuais?
Não; o instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Ele quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se transvia.
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)

"O Instinto existe sempre"

Essa resposta foi dada à pergunta que perquiriu sobre a eventual diminuição dos Instintos à proporção de aumento da Inteligência. "Sempre" aqui é um termo muito significativo. O Instinto é a sustentação de todos os fenômenos da Vida no seu sentido mais amplo possível. Desde a gemação de minerais, passando pelos unicelulares procariontes, vemos efetivos processos com começo, meio e fim. Até mesmo no seio mais restritivo da Doutrina Espírita fundada exclusivamente na obra básica (O Livro dos Espíritos), vemos referência explícita aos elementares. Não é exatamente o mesmo conceito de elementais (encontradiço em várias outras correntes espiritualistas), não acolhido pela Doutrina em sua pureza:


538. Os Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza formam uma categoria especial no mundo espírita, são seres à parte ou Espíritos que foram encarnados, como nós?
– Que o serão, ou que o foram.
538-a. Esses Espíritos pertencem às ordens superiores ou inferiores da hierarquia espírita?
– Segundo o seu papel mais ou menos material ou inteligente: uns mandam. outros executam; os que executam as ações materiais são sempre de uma ordem inferior, entre os Espíritos como entre os homens.
539. Na produção de certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é somente um Espírito que age ou se reúnem em massa?
– Em massas inumeráveis.
540. Os Espíritos que agem sobre os fenômenos da Natureza agem com conhecimento de causa, em virtude de seu livre arbítrio, ou por um impulso instintivo e irrefletido?
– Uns, sim; outros, não. Faço uma comparação: figurai essas miríades de animais que pouco a pouco fazem surgir do mar as ilhas e os arquipélagos; acreditais que não há nisso um objetivo providencial, e que essa transformação da face do globo não seja necessária para a harmonia geral? São, entretanto, animais do último grau os que realizam essas coisas, enquanto vão provendo às suas necessidades e sem se perceberem que são instrumentos de Deus. Pois bem: da mesma maneira, os Espíritos mais atrasados são úteis ao conjunto; enquanto eles ensaiam para a vida, e antes de terem plena consciência de seus atos e de seu livre arbítrio, agem sobre certos fenômenos de que são agentes sem o saberem. Primeiro, executam; mais tarde, quando sua inteligência estiver mais desenvolvida, comandarão e dirigirão as coisas do mundo material; mais tarde ainda, poderão dirigir as coisas do mundo moral. E assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia, de que o vosso Espírito limitado ainda não pode abranger o conjunto!
Vejam a resposta dada:  são animais do último grau os que realizam essas coisas, referindo-se ao surgimento de ilhas e arquipélagos, no concerto de fenômenos da natureza em geral. E continua: da mesma maneira os Espíritos mais atrasados são úteis ao conjunto [...] antes de terem plena consciência de seus atos e de seu livre arbítrio, agem sobre certos fenômenos de que são agentes sem o saberem.

Tanto animais como Espíritos elementares agem como executores de ações que impulsionam fenômenos naturais, uns mais diretamente sobre a matéria propriamente dita, outros sobre elementos pertinentes à sua esfera de atuação, semimaterial, etérea, astral - dê-se o nome que quiser.


A resposta à pergunta 539 é categórica:  na produção  de tempestades há massas inumeráveis de Espíritos atuando. Conjugando com a resposta dada à questão 538-a, vemos que há os que mandam e os que executam.

O Instinto sempre presente, pois, pode ser entendido como esse enredamento de Espíritos mais avançados em relação aos menos evoluídos. Os Espíritos elementares, tomados como mero exemplo, não têm noção de que estão sob a ação de um pensamento diretor que lhes é transcendente:  oriundo dos Espíritos que os dirigem.

Da mesma forma, os animais superiores, como os caninos, felinos, bovinos etc, mesmo sendo já dotados de uma maior capacidade intelectiva, continuam sob um comportamento fortemente dirigido por seu acervo de impulsos, vale dizer, de instintos inatos.

Ora, se no homem o Instinto não só permanece como é reputado como uma forma de inteligência que desprezamos mas que  "... quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurançado que a razão", então não é contraditóra a ilação de que talvez nós mesmos, seres humanos, Espíritos humanizados, estejamos submetidos a um Espírito-grupo que nos destina seus comandos gerais de condução.

Seria por isso que algumas correntes espiritualistas nos falam de "deuses de raça"? Toda uma humanidade em progresso em um orbe não poderia, de fato, estar sob a direção de um Espírito-grupo suficientemente elevado para nos coordenar a todos?

https://esoestudos.blogspot.com/2012/01/bem-e-mal-ainda-mais-uma-vez.html?m=0

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