Quando pensamos na escuridão plena de uma noite sem estrelas, observada por alguém distante de quaisquer fontes de luz, podemos bem imaginar o que é a ausência de cores e, por extensão, o que sejam as trevas.
Por outro lado, se olharmos para o sol em um dia sem nuvens, quando o astro está bem alto no céu, mal poderemos manter o vislumbre de tão intensa luz ofuscando-nos a visão.
São extremos perceptivos que não geram dúvidas quanto ao seu conceito, por mais variadas que sejam as potencialidades perceptivas das pessoas em geral.
Nem mesmo os cegos podem entender os conceitos de luz e trevas por ausência do indispensável elemento de comparação que os apartam, um em cada canto do senso perceptivo.
Míopes, mesmo os de menor acuidade visual, bem sabem o que é olhar para o sol ou estar em uma sala escura.
Mas e se pensarmos no que existe em meio a estes extremos?
O nascer do sol é um momento tão lindo quanto o seu poente. O espetáculo de cores e o bailado intenso e rápido dos matizes surgem tanto logo pela manhã como no anoitecer. No entanto, tanto nos primeiros instantes em que o raiar se prenuncia como nos últimos suspiros do astro que se põe, o cinza toca a alma humana e marca sua presença como o elemento que mais faz sofrer o espírito eterno do homem.
É o cinza que nos refrata a nudez interior, expondo-a diante de Deus que, compassivamente, restringe-nos a vergonha em pequenas lições curtas, dia-a-dia, na chegada e na partida do astro doador de luz e calor.
O cinza é a confusão entre a luz e as trevas. É a nossa incapacidade de distinguir o que é, com certeza, daquilo que não é. É a certeza de que não podemos saber exatamente o que é nos momentos em que o cinza impera. É o princípio da incerteza como lei universal também para a alma do homem.
Todavia o orgulhoso filho do Criador, senhor de sua consciência e cioso de suas convicções sólidas que acumula no vigor do dia iluminado tanto quanto em meio à noite que aprende a iluminar, pretende também nos momentos cinzas ousar diante de Deus ocultando seus medos e lançando-se na estrada que o leva... que o leva... que o leva a algum lugar...
Afinal, o sol voltará! Se a ousadia for daquelas não tão extravagantes, o homem aguardará só mais um pouco, vencendo a manhã para que a luz novamente o faça bem ver e saber por onde anda. Contudo, se a ousadia for maior do que a prudência recomenda, deverá permanecer toda uma noite de escuridão até descobrir se ousou corajosamente, ou se apenas embalou-se na tolice de uma malsinada aventura.
Saber e ousar no que tange a tudo o que a luz nos mostra e evidencia pressupõe uma grande prudência, prudência que só não é maior do que a coragem de escolher, decidir e ousar quando o cinza não nos permite saber.
Quem vive, decide e ousa apenas à luz de um dia plenamente iluminado raramente correrá o risco de errar. Da mesma forma, quem vive, decide e ousa tão-somente nas noites em que as estrelas e a lua concorrem com lâmpadas e faróis, da mesma forma dificilmente errará o caminho.
Mas pense!
Deus nos deu a luz e as trevas. São como talentos de que devemos haurir o que nos falta para vencermos e bem decidir quando os instantes cinzas nos forem colocados para nossa apreciação e decisão.
Não tema! Decida! Viva!
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