sábado, 22 de maio de 2010

Repouso Absoluto

Segundo a Doutrina Espírita o Universo é eterno enquanto objeto do Verbo Divino. Sem embargo, Kardec expressa uma idéia também presente em outras correntes espiritualistas: o repouso absoluto antes da primeira criação.


"Existindo, por sua natureza, desde toda a eternidade, Deus criou desde toda eternidade e não poderia ser de outro modo, visto que, por mais longínqua que seja a época a que recuemos, pela imaginação, os supostos limites da criação, haverá sempre, além desse limite, uma eternidade – ponderai bem esta idéia -, uma eternidade durante a qual as divinas hipóstases, as volições infinitas teriam permanecido sepultadas em muda letargia inativa e infecunda, uma eternidade de morte aparente para o Pai eterno que dá vida aos seres; de mutismo indiferente para o Verbo que os governa; de esterilidade fria e egoísta para o Espírito de amor e vivificação." - (A Gênese)


Essa idéia de repouso absoluto anterior à primeira criação não contradiz a perenidade do Universo na medida em que o repouso absoluto é do Verbo, ao qual se põe o espaço no aguardo da vivificação.


"Compreendamos melhor a grandeza da ação divina e a sua perpetuidade sob a mão do Ser absoluto! Deus é o Sol dos seres, é a Luz do mundo. Ora, a aparição do Sol dá nascimento instantâneo a ondas de luz que se vão espalhando por todos os lados, na extensão. Do mesmo modo, o Universo, nascido do Eterno, remonta aos períodos inimagináveis do infinito de duração, ao Fiat lux! do início." - (A Gênese)


Afinal, o Espiritismo não se afasta tanto assim de outras linhas espiritualistas (creio que nem seria mesmo o caso). Os orientais chamam pralaya a esse período de repouso (de Trevas).


PRALAYA – O período em que o Cosmos jaz na Eternidade antes do despertar da Energia ainda em repouso – antes da emanação do Verbo. Durante o Pralaya, dorme o Pensamento Divino.


Na Cabala (tradição ocultista judaica) o infinito é chamado Ein Sof. Está no ápice da árvore da vida, a partir do qual as 10 emanações da divindade exsurgiram... São as 10 sefirot... Ein Sof é, assim, o todo universal antes da primeira criação...



Se bem compreendemos a relação, ou, antes, a oposição entre a eternidade e o tempo, se nos familiarizamos com a idéia de que o tempo não é mais do que uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias, ao passo que a eternidade é essencialmente una, imóvel e permanente, insuscetível de qualquer medida, do ponto de vista da duração, compreenderemos que para ela não há começo, nem fim. Doutro lado, se fazemos idéia exata - embora, necessariamente, muito fraca - da infinidade do poder divino, compreenderemos como é possível que o Universo haja existido sempre e sempre exista. Desde que Deus existiu, suas perfeições eternas falaram. Antes que houvessem nascido os tempos, a eternidade incomensurável recebeu a palavra divina e fecundou o espaço, eterno quanto ela.
(A Gênese)



É signficativo que Kardec assevera que DESDE QUE DEUS EXISTIU (ou seja, sempre e sempre = eternidade) A ETERNIDADE RECEBEU A PALAVRA E FECUNDOU O ESPAÇO, ETERNO QUANTO ELA.


Podemos fazer um exercício de hermenêutica e concluir que o Universo foi criado no tempo em um instante determinado. Mas filosoficamente o que Kardec afirma é que tinha que haver o espaço (ou dê-se o nome que quiser a algo que vai ser vivificado, fecundado)  para ser preenchido pela palavra (Verbo, vontade) de Deus.

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